Dólar fecha a quase R$ 4,26 e bate 3º recorde histórico seguido apesar de atuação do BC

Publicado em 27/11/2019 17:34

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em máxima histórica nominal pelo terceiro pregão consecutivo nesta quarta-feira, perto de 4,26 reais, mesmo depois de o Banco Central ter feito nova oferta líquida de moeda à vista, a terceira em dois dias.

No mercado interbancário, o dólar fechou em alta de 0,44%, a 4,2586 reais na venda.

Na segunda-feira (4,2150 reais) e na terça (4,2398 reais) a moeda já havia renovado recordes históricos para um encerramento de sessão no mercado à vista.

Desde a semana passada, o dólar bateu recorde quatro vezes. No dia 18, a moeda fechou a 4,2061 reais na venda, deixando para trás o pico anterior, de setembro de 2015.

Na B3, o contrato de dólar futuro de maior liquidez tinha alta de 0,44% nesta quarta, a 4,2535 reais, por volta de 17h30.

O BC anunciou oferta líquida de dólar à vista por volta de 12h40, quando a moeda estava nas máximas do dia, acima de 4,27 reais. A exemplo da véspera, o dólar perdeu força, mas não a ponto de inverter a direção.

Autoridades do Banco Central --o presidente Roberto Campos Neto e o diretor de política monetária, Bruno Serra-- disseram na terça e na quarta-feira que o BC poderá continuar atuando no câmbio em caso de necessidade.

Estrategistas do Credit Suisse, contudo, avaliaram que a mensagem do Banco Central ainda não é "suficientemente clara" para sugerir que pode intervir sob qualquer circunstância.

O banco suíço moveu para cima a faixa com a qual trabalha para a taxa de câmbio brasileira, agora entre 4,18 reais e 4,35 reais (antes 4,10 reais e 4,25 reais), citando mensagens "confusas" da parte de autoridades sobre a política cambial e a tendência do mercado de interpretar mal esses recados.

A alta do dólar no Brasil nesta quarta-feira, porém, pareceu mais alinhada ao movimento externo, especialmente depois da intervenção do BC. O dia de forma geral era de dólar forte no mundo, após dados mais sólidos da economia dos Estados Unidos.

Veja gráfico intradiário desta quarta do índice (dólar contra cesta de seis moedas fortes) e da taxa de câmbio brasileira (reais por dólar):

Estrategistas do Deutsche Bank disseram que o cenário para o real segue influenciado pela perspectiva de mais cortes de juros. "Somam-se a isso as preocupações gerais sobre a estabilidade política na América Latina, à luz dos recentes protestos na região", disseram em nota a clientes.

Em meio à alta do dólar, porta-voz diz que Bolsonaro reitera confiança em Guedes e Campos Neto

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro mantém sua confiança no trabalho desenvolvido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse o porta-voz da Presidência, general Otávio do Rêgo Barros, em briefing à imprensa nesta quarta-feira, em meio à alta do dólar nos últimos dias.

Na entrevista, o porta-voz foi questionado se o presidente --que disse no passado ter dado carta branca a Guedes e Campos Neto-- está preocupado com a contínua desvalorização do real frente ao dólar.

"Reitero a confiança do presidente em relação ao ministro Paulo Guedes e, em paralelo, ao presidente do Banco Central", disse Rêgo Barros.

Segundo o porta-voz, Bolsonaro vocaliza em diversas ocasiões sua "total confiança" em Guedes. Destacou ainda que esse entendimento é "valorado" não só pelo presidente, mas também pelo mercado, que, a seu juízo, tem feito uma avaliação "muito positiva" do Ministério da Economia.

Governo limita juro do cheque especial a 8% ao mês e autoriza tarifa nova para a linha

BRASÍLIA (Reuters) - O Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou resolução nesta segunda-feira que muda o desenho do cheque especial, estabelecendo que a taxa de juros do produto não poderá superar 8% ao mês --cerca de 150% ao ano.

Em compensação, a resolução também permitirá que as instituições financeiras cobrem tarifa pela disponibilização de limite de cheque especial, sendo vedada a cobrança para limites de crédito de até 500 reais, informou o Banco Central em nota.

Para limites superiores a esse montante, poderá ser cobrada tarifa mensal de até 0,25% sobre o valor do limite que exceder 500 reais. De acordo com o BC, a tarifa deverá ser descontada do valor devido a título de juros de cheque especial no respectivo mês.

O BC defendeu que a medida irá tornar o cheque especial menos regressivo e mais eficiente.

Os bancos cobram atualmente uma taxa média de 305,9% ao ano para o crédito do cheque especial, segundo números mais recentes, de outubro, compilados pelo BC.

A limitação dos juros trazida pela regulação entrará em vigor em 6 de janeiro de 2020. Para os contratos em vigor, a incidência de tarifa só será permitida a partir de 1º de junho de 2020, caso não venham a ser repactuados antes.

O diretor de Organização do Sistema Financeiro do BC, João Manoel Pinho de Mello, afirmou que atualmente os limites concedidos no cheque especial somam 350 bilhões de reais, enquanto a carteira ativa do produto é de 26 bilhões de reais.

"São cerca de 324 bilhões de reais não utilizados, portanto isso justifica o redesenho do produto", afirmou a jornalistas.

Mais cedo neste mês, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, já havia prometido uma reengenharia no cheque especial para breve, destacando que a modalidade hoje é cara e tem caráter regressivo.

Campos Neto tem destacado em suas apresentações recentes que o cheque especial é utilizado majoritariamente por clientes com menos educação financeira e recursos.

No entanto, o produto é ofertado amplamente pelas instituições financeiras, de forma que os bancos arcam com custo de capital toda vez que abrem uma linha, ainda que essa linha não seja utilizada pela pessoa em questão.

Em outra iniciativa, o CMN não também autorizou que credores do cheque especial migrem sua dívida para outra instituição financeira, com a possibilidade, inclusive, de negociar uma linha de crédito mais barata nessa mudança.

Sem alarme com o câmbio, por Fernando Dantas (Estadão)

Ao dizer que não se importava com a desvalorização do real, o ministro da Economia, Paulo Guedes, falou o que não devia na hora errada, e deu no que deu. E para nem mencionar o seu péssimo comentário sobre o AI 5.

Contudo, a ideia em si de que a atual temporada de desvalorização do real não é a antessala de uma nova crise é encampada por alguns analistas.

Evidentemente, do jeito que está acontecendo não é bom, e isso ninguém nega. O BC teve de intervir vendendo dólares, a curva de juros sentiu e subiu, a bolsa bambeou. E a nova fotografia do déficit em conta corrente, de 3% do PIB, deu um sabor de fundamentos à disparada do dólar, reacendendo velhas preocupações com crises externas.

Um respeitado gestor, entretanto, sem absolver Guedes por falar o que não devia, diz que não está alarmado pelo que acontece no câmbio.

Ele nota, inicialmente, que a cotação nominal recorde do dólar em reais ocorre com o risco Brasil próximo das mínimas históricas, com a Bolsa próxima da máxima, com prêmio de riscos historicamente muito baixos na parte longa da curva de juros e com inflação implícita na curva de juros bem comportada.

“São indicadores que não sinalizam crise, mas a sociedade ainda não aprendeu a conviver com alta do dólar sem associar à crise, porque no passado de fato uma coisa vinha com a outra”, ele diz.

O gestor considera que efetivamente o Brasil está ingressando num novo modelo de crescimento, com juro mais baixo e câmbio mais depreciado. Modelo esse, diga-se de passagem, que é melhor para a indústria.

Parte da alta recente do déficit em conta corrente pode ser atribuída a aspectos contábeis das revisões metodológicas que o BC fez no balanço de pagamentos. Nesses casos, de forma casada, aumentaram o déficit e seu financiamento.

Mas esse efeito não explica todo o aumento do déficit externo. As exportações brasileiras caíram expressivamente entre 2018 e 2019. Houve também mais saídas financeiras, puxadas em parte pelos juros internos baixos. Empresas brasileiras quitam dívida externa para trocá-la por endividamento doméstico e entra menos “hot-money” em busca de rentabilidade.

Esse quadro preocupa. Sem que as importações tenham crescido, o déficit em conta corrente em 12 meses foi a 3% do PIB. E se a economia de fato crescer mais rápido em 2020, o déficit irá a quanto?

O gestor ouvido nesta coluna não está indiferente a essas inquietações. Realmente, o mercado descobriu um pouco repentinamente que o dólar de equilíbrio no médio prazo está mais para R$ 4,10 a R$ 4,20 do que para R$ 3,80.

A visão era de que a perspectiva de aceleração da economia brasileira em 2020 iria atrair capitais e apreciar o câmbio. Agora, descobre-se que o equilíbrio, diante das contas externas e do cenário internacional, pode ser com real mais depreciado.

Para o gestor, o oba-oba da cessão onerosa, que levou o dólar a ficar até ligeiramente abaixo de R$ 4 no início de novembro, levou a muitas apostas num câmbio mais valorizado. Assim, parte do movimento atual é refluxo de quem se machucou no mercado com o fiasco do leilão da cessão onerosa (em relação às expectativas).

Adicionalmente, a economia real ajusta-se ao câmbio, mas este processo está longe de ser imediato. A perspectiva de um real mais depreciado por tempo duradouro estimula investimentos no setor de bens comercializáveis internacionalmente, como a indústria, para substituir importações e expandir exportações. Mas isso não acontece da noite para o dia.

No caso das exportações, há ainda o problema da desaceleração do comércio global e das crises em mercados importantes do Brasil, como a Argentina.

Tudo isso quer dizer, nessa visão, que há de fato uma transição potencialmente incômoda pela frente, mas não a perspectiva de uma grande crise.

O analista observa também que as grandes crises externas brasileiras do passado, antecedidas pela disparada do déficit em conta corrente, tinham como caraterística o elevado endividamento externo do setor público ou do setor privado ou dos dois. Quando o dólar disparava, as dívidas explodiam.

Mas esse não é mais o caso hoje em dia. O setor público é credor em dólares e o setor privado está justamente reduzindo a sua dívida externa.

O resumo da ópera, na sua análise, é que a atual turbulência não deve ser menosprezada, mas tampouco deve ser encarada como prenúncio de mais uma das grandes crises externas da história da economia brasileira. Por Fernando Dantas (O Estado de S. Paulo)

Fonte: Reuters/Estadão

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