Ibovespa fecha em queda de mais de 1%, mas sustenta os 107 mil pontos

Publicado em 26/11/2019 18:52

Por Paula Arend Laier

SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou em queda de mais de 1% nesta terça-feira, com ações de bancos e da Petrobras entre as maiores pressões de baixa, em sessão de ajustes e contaminada pela forte valorização do dólar em relação ao real e por receios de atraso de reformas.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 1,26%, a 107.059,40 pontos. O volume financeiro da sessão somou 26,676 bilhões de reais.

No mercado de câmbio, o dólar chegou a bater máxima nominal recorde de quase 4,28 reais, com os investidores repercutindo declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, entre elas de que o câmbio de equilíbrio "tende a ir para um lugar mais alto".

O dólar desacelerou após atuações do Banco Central, mas fechou com avanço de 0,59%, a 4,2398 reais, recorde de fechamento.

Além do efeito câmbio, o gestor sócio de uma gestora de recursos em São Paulo citou receios com o risco de atraso nas reformas, em meio a ruídos no ambiente político local.

Não ajudou o comentário de Guedes na véspera sobre a possibilidade de um novo AI-5 em caso de manifestações mais radicais no país. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, um dos principais articuladores da pauta econômica, disse que o ministro cria dúvidas sobre as intenções do governo.

Para o gestor Ricardo Campos, sócio-fundador da Reach Capital, a ausência de potenciais notícias benignas patrocina ajustes na bolsa paulista, com o desempenho do Ibovespa no acumulado do ano mostrando alta de mais de 20%.

"Na dúvida, melhor garantir do que correr o risco de estar exposto e sair algo negativo", disse.

Profissionais da área de renda variável também têm citado que o ambiente social mais tenso em diversos países na América Latina tem pesado sobre o sentimento dos investidores, principalmente estrangeiros.

Empresas brasileiras levantaram em 2019 o maior volume de recursos da década com ofertas de ações, mas ainda não houve sinais deste entusiasmo entre estrangeiros que sustentaram booms anteriores no país, principalmente pelo baixo crescimento econômico e temor em relação à polarização política.

Em Wall Street, o S&P 500 voltou a renovar máxima, embora com alta de apenas 0,22%, com investidores ainda atentos ao noticiário sobre comércio China-EUA, bem como a números e perspectivas de varejistas norte-americanas.

A sessão desta terça-feira também foi marcada pelo rebalanceamento semestral dos índices de ações MSCI Global no fechamento, com o MSCI Brasil incluindo a entrada dos papéis da Hapvida e a exclusão de M.Dias Branco, que não estão no Ibovespa. (https://bit.ly/33j5dYx)

DESTAQUES

- ITAÚ UNIBANCO PN caiu 2,04% e BRADESCO PN recuou 2,14%, em outro dia negativa para o setor financeiro, também refletindo receios de eventual tributação sobre dividendos. BTG PACTUAL UNIT cedeu 2,15%.

- PETROBRAS PN perdeu 1,82%, apesar dos ganhos dos preços do petróleo no exterior, conforme agentes financeiros continuam atentos à mobilização de funcionários da companhia.. A Petrobras também encerrou negociações para vender unidades de fertilizantes.

- AZUL PN e GOL PN recuaram 4,53% e 3,84%, respectivamente, refletindo o efeito da valorização do dólar ante o real, que impacta os custos de companhias aéreas.

- MAGAZINE LUIZA ON caiu 2,84%, a poucos dias da Black Friday. B2W cedeu 3,08%. VIA VAREJO ON subiu 0,25%. A XP Investimentos colocou Via Varejo entre suas ações preferidas no varejo para 2020, e cortou a recomendação de B2W para neutra, mesma avaliação que manteve para Magazine Luiza.

- BRF subiu 1,91%, com analistas do Bradesco BBI reiterando 'outperform', embora tenham cortado preço-alvo. MARFRIG ON caiu 4,62% e JBS ON perdeu 2,44%.

- VALE ON fechou com alta 0,71%, favorecida pela alta do dólar, apesar da queda do preço do minério de ferro na China, enquanto CSN ON avançou 4,21%. GERDAU PN encerrou com elevação de 2,74% e USIMINAS PNA teve acréscimo de 1,07%.

- KLABIN UNIT e SUZANO ON avançaram 0,69% e 0,21%, respectivamente, também reagindo ao movimento da taxa de câmbio, em razão do efeito positivo na receita das fabricantes de papel e celulose. Dados sobre o setor de celulose também mostraram melhora em outubro.

- YDUQS ON subiu 3,11%, em sessão marcada por encontro da empresa com investidores e analistas. A rival COGNA ON caiu 3,96%.

Ruídos na comunicação do governo alimentam disparada do dólar e juro pode ser afetado

  • Cotações de moedas para turismo. Rio de Janeiro. 26/11/2019. REUTERS/Sergio Moraes
SÃO PAULO (Reuters) - A disparada do dólar a quase 4,28 reais nesta terça-feira, para novos recordes nominais históricos, é reflexo de novo episódio de ruídos na comunicação de membros do governo, o que começa a contaminar de forma explícita outros mercados locais e eleva riscos quanto ao cenário de juros baixos.

Mesmo agentes financeiros, os quais de forma geral têm elogiado a agenda reformista e as medidas pró-mercado do Executivo, passaram a adotar tom mais crítico em relação a falas de alguns integrantes da equipe econômica. E nem o Banco Central escapa das reclamações.

O mais recente fato gerador de instabilidade foi a declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, nos Estados Unidos, de que o câmbio de equilíbrio do Brasil agora é mais depreciado devido ao juro baixo.

"Quando você tem um fiscal mais forte e um juro mais baixo, o câmbio de equilíbrio também ele é mais alto", afirmou Guedes em entrevista coletiva na embaixada brasileira em Washington.

A interpretação do mercado foi: a alta do dólar não é um problema. Com a sensação de que a moeda acima de 4,20 reais não incomoda, os players viram espaço para reforçar as compras, o que automaticamente empurrou a cotação para acima da máxima histórica anterior, de 4,2482 reais na cotação de compra.

O movimento lembra muito o de 27 de agosto passado --por coincidência, também uma terça-feira--, quando comentário do próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, provocou uma corrida por dólares.

Na ocasião, o chefe do BC minimizou a desvalorização do real, que naquele dia estava em cerca de 4,14 reais --um mês antes, a cotação estava abaixo de 3,73 reais. Logo depois, o dólar saltou para perto de 4,20 reais, o que forçou a autoridade monetária a anunciar oferta líquida de dólar no mercado à vista.

Nesta terça, o "modus operandi" se repetiu, mas com o BC sendo obrigado a ser mais incisivo. A autoridade monetária anunciou pela manhã oferta líquida de moeda spot quando o dólar acelerou a alta. Depois de um breve respiro, a divisa não apenas voltou a subir como superou o pico anterior, agora ameaçando a linha de 4,28 reais.

Nesta tarde, o BC anunciou outro leilão de venda líquida de dólares.

"O dólar/real está disparando decisivamente hoje. O governo diz que não é uma grande questão, mas também está vendendo reservas cambiais para defender a moeda? Algo não está certo", avaliou Otavio Costa, gestor na Crescat Capital, em Denver, EUA.

"Faça o que eu digo, não faça o que eu faço", completou.

A variável comunicação ganha contornos dignos de maior cautela por parte do mercado porque se soma a um pano de fundo já problemático para a taxa de câmbio, afetada por queda histórica nos diferenciais de juros, escassez de fluxo, falta de perspectiva de ingressos robustos após a frustração com o megaleilão de petróleo, sinais negativos da conta corrente e um exterior ainda vulnerável ao noticiário comercial.

Isso sem falar nas manchetes sobre ondas de manifestações populares e discursos questionando reformismo econômico na América Latina.

"O Guedes não precisava falar o que foi falado", disse Alisson Lima, sócio responsável pela área de câmbio da BlueLine Asset. "Ele não falou uma mentira, mas subiu o tom, e o mercado não gostou", completou.

Já o presidente Jair Bolsonaro, ao mesmo tempo que disse acatar a posição de Guedes sobre o câmbio, ressaltou que continua a torcer para que o dólar caia.

Enquanto isso, o Tesouro Nacional pareceu dar razão ao ministro.

"Minutos antes de o BC intervir (pela manhã), o Tesouro vem e diz que o dólar está normal, etc.", disse um gestor em São Paulo, que atribui a avaliação do Tesouro Nacional como outro fator a pressionar o dólar.

O coordenador de Operações da Dívida Pública, Roberto Beier Lobarinhas, disse nesta terça que não há "absolutamente nada" no radar do Tesouro no sentido de atuação conjunta com o Banco Central sobre o câmbio, o que já aconteceu anos atrás.

Para o gestor que pediu para não ser identificado, o BC "perdeu o respeito do mercado" e, por isso, será pressionado cada vez mais pelos agentes financeiros sobre os limites para intervenção.

JUROS EM ALTA

A maior preocupação do mercado com a recente alta do dólar é o risco de o juro precisar subir antes do esperado.

"Avisa ao Paulo Guedes que se continuar falando... não temos que nos acostumar com dólar alto só não, mas com juros também", disse Ivo Chermont, sócio e economista-chefe da Quantitas, num momento em que os sinais de retomada econômica ainda são embrionários.

A curva de DI já mostra Selic média de 5,3% no último trimestre de 2020, acima do patamar atual (5%) e 80 pontos-base acima do nível de 4,50% esperado pelo mercado para o fim de 2019 e de 2020. A curva começa a embutir altas de juros em meados de 2020.

Nesta terça, o DI janeiro 2021 chegou a saltar 12 pontos-base. Esse contrato reflete as expectativas do mercado para o rumo da Selic de hoje até o fim de 2020.

A inclinação entre os DIs janeiro 2025 e janeiro 2021, uma medida de risco, saltava a 1,84 ponto percentual, distante da marca de 1,50 ponto do começo de novembro.

O risco de altas de juros pressionou ainda o mercado de ações, que se beneficia de taxas mais baixas na renda fixa. O Ibovespa fechou em queda de 1,16% (segundo dados preliminares), pouco acima dos 107 mil pontos, descolando de Wall Street, que bateu novos recordes históricos.

Fonte: Reuters

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