Em dia de novo recorde histórico, dólar segue em forte alta contra real mesmo após BC intervir

Publicado em 26/11/2019 12:37

O dólar seguia em forte alta contra o real nesta terça-feira, mesmo depois de desacelerar os ganhos após o Banco Central anunciar oferta líquida de moeda no mercado à vista logo, na sequência de a cotação ter renovado sucessivamente recordes históricos e alcançar uma máxima acima de 4,27 reais.

A moeda saiu de quase 4,27 reais para cerca de 4,23 depois de o BC anunciar atuação no mercado à vista, mas não demorou para recobrar fôlego e voltar a testar o patamar de 4,26 reais.

Às 12:16, o dólar avançava 1,06%, a 4,2596 reais na venda. O dólar deixou para trás o pico histórico para o intradia, que até então era datado de setembro de 2015, em torno de 4,25 reais.

O dólar à vista passou a maior parte da manhã em alta acelerada, chegando a alcançar 4,2704 reais na máxima da sessão, refletindo a reação dos investidores após declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, que sugeriram que a força do dólar veio para ficar.

Na segunda-feira, o ministro afirmou que, diante da redução da taxa básica de juros no país, o câmbio de equilíbrio "tende a ir para um lugar mais alto".

Já nesta terça, o presidente Jair Bolsonaro disse que continua a torcer para que o dólar caia, mas disse que a moeda norte-americana em alta tem vantagens e desvantagens e que acata a posição defendida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre o câmbio.

Na B3, o contrato mais líquido de dólar futuro tinha alta de 0,72%, a 4,2590 reais, depois de bater 4,2700 reais no pico intradiário.

Diante do salto histórico do dólar à vista, o Banco Central anunciou nesta terça-feira leilão de venda à vista de no mínimo 1 milhão de dólares, em oferta líquida de moeda, à parte, portanto, do leilão de 785 milhões de dólares no segmento spot conjugado com venda de swap cambial reverso.

Com isso, o BC mostra ao mercado as ferramentas disponíveis em meio à fraqueza da moeda brasileira.

"O Banco Central deu um recado, vendo o que está acontecendo. Não é porque o Guedes falou que o dólar vai ficar alto que vai ficar por isso mesmo", disse Jefferson Laatus, sócio e fundador do Grupo Laatus. "O BC mostrou estar disposto a usar as ferremantas disponíveis para controlar a volatilidade."

"O mercado, depois da fala do Guedes, quer testar quais são os patamares que incomodam o Banco Central. E teve essa venda de dólares à vista, um recado do BC", acrescentou.

Mas, segundo Laatus, o dólar pode recuperar o movimento exagerado de alta registrado pela manhã caso o BC não volte a atuar nesta terça-feira.

Mais cedo, o Banco Central vendeu 3.500 contratos de swap cambial reverso e 175 milhões de dólares em moeda spot, de oferta de até 15.700 e 785 milhões, respectivamente. Adicionalmente, a autarquia vendeu 8.100 contratos de swap tradicional para outubro de 2020 e 4.100 contratos para junho do ano que vem --ambos para rolagem do vencimento janeiro de 2020.

Ibovespa recua com setor financeiro entre maiores pressões; alta do dólar repercute

SÃO PAULO (Reuters) - O tom negativo prevalecia na bolsa paulista nesta terça-feira, com ações de bancos entre as maiores pressões de baixa do Ibovespa, em sessão também contaminada pela forte valorização do dólar em relação ao real e com viés misto na cena externa.

Às 11:41, o Ibovespa caía 1,4%, a 106.903,42 pontos. O volume financeiro somava 4,05 bilhões de reais.

No mercado de câmbio, o dólar bateu nova máxima nominal recorde acima de 4,27 reais, com os investidores repercutindo declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, entre elas de que o câmbio de equilíbrio "tende a ir para um lugar mais alto".

"O mercado já vem operando com real mais desvalorizado e a fala de (Guedes de) ontem é mais uma razão para isso acontecer", destacou a corretora Tullet Prebon, em nota a clientes.

Para o gestor Ricardo Campos, sócio-fundador da Reach Capital, a ausência de potenciais notícias benignas pela frente corrobora também ajustes na bolsa paulista, com o desempenho do Ibovespa no acumulado do ano mostrando alta de mais de 20%.

"Na dúvida, melhor garantir do que correr o risco de estar exposto e sair algo negativo", disse.

Além disso, ele cita que o cenário social mais tenso em diversos países na América Latina, em meio a um quadro ainda positivo de bolsas nos Estados Unidos, mantém afastado um potencial fluxo de capital externo para o pregão brasileiro.

Em Wall Street, após renovar máxima histórica na véspera, o S&P 500 oscilava ao redor da estabilidade nos primeiros negócios, com investidores ainda atentos ao noticiário sobre comércio China-EUA.

DESTAQUES

- ITAÚ UNIBANCO PN caía 1,6% e BRADESCO PN recuava 1,3%, com nova sessão negativa para o setor financeiro, também afetado pelos receios sobre eventual tributação sobre dividendos. BTG PACTUAL UNIT, melhor performance entre bancos do Ibovespa, cedia 3%.

- AZUL PN e GOL PN recuavam 5,4% e 4,6%, respectivamente, maiores quedas do Ibovespa, refletindo o efeito da valorização do dólar ante o real, que impacta os custos de companhias aéreas.

- PETROBRAS PN perdia 1,35%, apesar dos ganhos dos preços do petróleo no exterior, conforme agentes financeiros continuam atentos à mobilização de funcionários da petrolífera de controle estatal.. A Petrobras também encerrou negociações para vender unidades de fertilizantes.

- JBS ON valorizava-se 1,8%, favorecida pela valorização do dólar, além de perspectivas favoráveis relacionadas ao mercado chinês. BRF subia 0,94%, com analistas do Bradesco BBI reiterando 'outperform', embora tenha cortado preço-alvo.

- VALE ON tinha variação negativa de 0,16%, em sessão de queda do preço do minério de ferro na China, enquanto CSN ON avançava 1,9% apesar de notícias de abalo sísmico na região de Congonhas (MG) na noite da véspera que assustou moradores próximos de barragem de rejeitos de minério de ferro da empresa. GERDAU PN tinha elevação de 0,8%. USIMINAS PNA tinha acréscimo de 0,5%.

- KLABIN UNIT e SUZANO ON avançavam 1% e 0,4%, respectivamente, também reagindo ao movimento da taxa de câmbio, em razão do efeito positivo na receita das fabricantes de papel e celulose.

Fonte: Reuters

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