Bolsonaro diz que atos no Chile são terroristas; Lula diz que PT é imprescindível

Publicado em 23/11/2019 15:57

RIO DE JANEIRO (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro manifestou neste sábado preocupação com avanço de mobilizações populares que começaram no Chile e mais recentemente se estenderam para Bolívia --com a queda do presidente Evo Morales-- e para a Colômbia.

Bolsonaro disse que as autoridades brasileiras estão atentas e preparadas para uma eventual mobilização social por aqui, mas destacou que não há motivos para que movimentos desse tipo se repliquem no Brasil.

"É lógico que a América do Sul é uma preocupação de todos nós, e não gostaríamos que outros países voltassem para o Foro de São Paulo e aqui ninguém quer que andemos nessa direção. Veja a Venezuela", disse.

"Temos que estar preparados para não sermos surpreendidos pelos fatos, mas até o momento não vejo motivo nenhum para que esse movimento venha para cá. Nunca o Brasil viveu uma normalidade democrática como vivemos nesse momento", adicionou.

O presidente disse ainda que os protestos no Chile demonstram "excesso" dos manifestantes. Esses "excesso" foram classificados pelo mandatário brasileiro como atos terroristas.

"O que estou vendo em alguns países há excesso, como no Chile. Aquilo não são manifestações, são atos de terrorismo", afirmou Bolsonaro.

No evento da brigada paraquedista, o presidente fez ainda uma homenagem ao apresentador Augusto Liberato, o Gugu, cuja morte foi anunciada na sexta-feira.

"Fiz a devida reverência a essa pessoa que por décadas fez parte de todas as famílias brasileiras", finalizou.

O presidente afirmou ainda que o número 38 da nova legenda criada por ele, a Aliança pelo Brasil, não é uma alusão ao revólver de calibre 38, mas sim uma referência à sua contagem como 38º presidente do Brasil.

O presidente e seus aliados são defensores da liberação do porte de arma para que a população se defenda contra ações criminosas.

"Se alguém quer associar às armas pega o 12 do PDT, do calibre 12, o 45 e outros números que tem por aí", disse. "(O número) É por conta do trigésimo oitavo presidente do Brasil", acrescentou.

Governo estuda liberação da exportação de madeira in natura

Bolsonaro disse também que governo estuda a liberação da exportação de madeira in natura, o que hoje é proibido por lei.

Segundo ele, o caso está sendo analisado pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e a permissão para a exportação de madeira in natura talvez precise de aval do Congresso.

"É melhor exportar de maneira legalizada do de que forma clandestina. Talvez uma medida como essa dependa do Parlamento. O Ricardo Salles vai me dar a palavra final na semana que vem", disse ele a jornalistas após participar de evento militar no Rio de Janeiro.

O governo Bolsonaro vem sendo alvo de críticas de ONGs e ambientalistas por causa de sua política ambiental.

O auge das críticas ocorreu nos meses de agosto e setembro, na esteira dos avanços das queimadas no país, especialmente na região amazônica.

Uma mobilização internacional foi feita, com chefes de Estados, artistas e personalidades pregando pela defesa da Amazônia. Até hoje, as cobranças incomodam o presidente brasileiro.

"Primeiro: mudou o governo do Brasil e não tem mais um presidente subserviente a alguns países da Europa. No governo anterior tivemos muito mais picos de focos de incêndio do que tivemos (agora). Foi um campanha insidiosa buscando atingir o governo brasileiro", avaliou o presidente.

"Não estou preocupado em perder aliados. Estou preocupado em não perder o Brasil", acrescentou.

Lula defende polarização e diz que pior inimigo do Brasil é a desigualdade

(Reuters) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse na sexta-feira que o pior inimigo do Brasil é a desigualdade, defendeu que a polarização política não significa extremismo e o papel do PT no cenário atual.

"O maior inimigo do Brasil hoje e desde sempre é a desigualdade", disse Lula na noite de sexta-feira na abertura do 7º Congresso Naciional do PT.

"Se este país quer superar a chaga imensa da desigualdade, recuperar a soberania e o seu lugar no mundo, se quer voltar a crescer em benefício de todos os brasileiros e brasileiras, o Partido dos Trabalhadores é mais do que necessário: ele é imprescindível", acrescentou.

Em liberdade após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de derrubar a prisão de condenados em segunda instância, depois de ficar preso 580 dias pela condenação no processo do tríplex do Guarujá (SP), Lula ja havia feito discursos que para críticos alimentaram ainda mais a polarização política do Brasil neste momento.

Lula aproveitou as falas de sexta para rebater essas críticas e deixar claro que ele e o PT estão no polo oposto do presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores.

"Agora nos dizem para não polarizar o país. Como se polarização fosse sinônimo de extremismo político e ideológico. Como se o Brasil já não estivesse há séculos polarizado entre os poucos que têm tudo e os muitos que nada têm. Como se fosse possível não se opor a um governo de destruição do país, dos direitos, da liberdade e até da civilização", argumentou Lula.

"Aos que criticam ou temem a polarização, temos que ter a coragem de dizer: nós somos, sim, o oposto de Bolsonaro."

O ex-presidente aproveitou ainda a discussão que alguns grupos levantam sobre o formato da Terra para reforçar sua posição.

"Andam negando essa verdade científica, mas a Terra é redonda e nós estamos, sim, em polos opostos: enquanto eles semeiam o ódio, nós vamos mostrar a eles o que o amor é capaz de fazer por este país."

Mas Lula procurou não falar só aos petistas. Num aceno a outras forças políticas, o ex-presidente disse que "salvar o país da destruição e do caos social que este governo está produzindo não é tarefa para um único partido", lembrando que quando o PT governou o Brasil o fez por meio de alianças e que o momento atual não permite o isolamento.

"Por mais que tentem nos isolar, estamos juntos na oposição com partidos da centro-esquerda e estamos com os movimentos sociais, as centrais sindicais e importantes lideranças da sociedade."

Num momento em que os governos petistas são culpados pela grave crise econômica que o Brasil enfrenta há anos, Lula disse que a situação do país só não é pior por conta de conquistas do tempo em que ele e Dilma Rousseff comandaram o país, mencionando as reservas internacionais acumuladas no período, a abertura de mercados internacionais para produtos brasileiros e a descoberta do petróleo do pré-sal.

No atual contexto da América do Sul de protestos contra governos e distúrbios em alguns países, Lula disse que "o Brasil só não está passando por uma convulsão social extrema por causa da herança dos governos do PT".

"Porque não conseguiram acabar com o Bolsa Família, último recurso de milhões de deserdados. Porque milhões de famílias ainda produzem no campo, para onde levamos água, energia, tecnologia e recursos em nosso governo."

De olho no apoio dos jovens, Lula disse que eles têm papel fundamental no trabalho que precisa ser feito.

"O Brasil precisa embarcar de volta para o futuro. E não tem ninguém melhor para pilotar essa máquina do tempo do que a juventude desse país."

Ao encerrar, Lula disse estar pronto para "contribuir" pela melhora do país, "sem ódio nem rancor".

"Hoje me coloco à disposição do Brasil para contribuir nessa travessia para uma vida melhor, vida em plenitude, especialmente para os que não podem ser abandonados pelo caminho", disse.

"Sem ódio nem rancor, que nada constroem, mas consciente de que o povo brasileiro quer retomar a construção de seu destino."

Fonte: Reuters

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Moody's eleva nota de crédito do Brasil e país fica a um passo do grau de investimento
Ucrânia investiga suposta execução de 16 prisioneiros de guerra pela Rússia
Moraes desbloqueia contas bancárias do X para pagamento de multas e voltar a funcionar no Brasil
Haddad projeta grau de investimento no fim do atual governo após Moody's elevar nota do país
Irã pede à ONU que evite nova escalada nas tensões do Oriente Médio, diz Ministério das Relações Exteriores
Dólar sobe ante real com escalada do conflito no Oriente Médio