"Não dê munição a canalha", diz Bolsonaro sobre Lula: "Ele está solto, mas continua com todos os crimes nas costas"

Publicado em 09/11/2019 18:06

SÃO PAULO (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro deu neste sábado a primeira declaração sobre a soltura, na véspera, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pedindo, sem citar o petista nominalmente, que seus apoiadores não dêem "munição ao canalha, que momentaneamente está livre, mas carregado de culpa".

A publicação do presidente, em sua conta no Twitter, foi acompanhada do vídeo do discurso que deu na véspera, no qual disse que o fato de o ministro da Justiça, Sergio Moro, ter cumprido bem sua missão como juiz permitiu que ele chegasse à Presidência.

Quando responsável pelos processos da operação Lava Jato na primeira instância em Curitiba, Moro condenou Lula no caso do tríplex no Guarujá (SP), por conta do qual o petista ficou 580 dias preso.

"Amantes da liberdade e do bem, somos a maioria. Não podemos cometer erros. Sem um norte e um comando, mesmo a melhor tropa se torna um bando que atira para todos os lados, inclusive nos amigos. Não dê munição ao canalha, que momentaneamente está livre, mas carregado de culpa", escreveu Bolsonaro na rede social.

Mais tarde, em frente ao Palácio da Alvorada, em Brasília, Bolsonaro referiu-se a Lula como "presidiário" e disse que não contemporizaria com o petista.

"A grande maioria do povo brasileiro é honesto e trabalhador, e nós não vamos dar espaço nem contemporizar com presidiário. Ele está solto, mas continua com todos os crimes dele nas costas", disse.

Poucas horas antes de Lula discursar, Bolsonaro teve um encontro neste sábado com ministros de seu governo que são generais da reserva --Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Fernando Azevedo e Silva (Defesa), e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo)-- e os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, segundo agenda divulgada pela Secretaria de Imprensa da Presidência.

Em suas redes sociais, publicou ainda um vídeo em que participa de um almoço em homenagem ao aniversário do ex-comandante do Exército general Eduardo Villas Boas.

Em sua conta no Twitter, Moro disse, também sem citar Lula nominalmente, que não responderia aos ataques feitos pelo petista.

"Aos que me pedem respostas a ofensas, esclareço: não respondo a criminosos, presos ou soltos. Algumas pessoas só merecem ser ignoradas", disse.

O Palácio do Planalto informou que não iria comentar o discurso de Lula. Como o Planalto, a força-tarefa da Lava Jato disse que não iria comentar o discurso do ex-presidente.

Lula, em discurso, provoca Bolsonaro, e diz que ele "não pode governar só para milicianos do Rio" 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez neste sábado um discurso muito mais duro do que na véspera e com vários ataques ao presidente Jair Bolsonaro, afirmando, entre outros pontos, que Bolsonaro precisa governar para os 210 milhões de brasileiros e não apenas para os "milicianos do Rio de Janeiro".

Em ato em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, seu berço político, Lula também fez um apelo para que os militantes de esquerda compareçam às ruas para lutar contra o que chamou de destruição do país e afirmou que é preciso seguir o exemplo do que está acontecendo no Chile, onde têm ocorrido manifestações, muitas vezes violentas e também duramente reprimidas pelas forças de segurança, contra políticas do governo.

"Veja, esse cidadão foi eleito. Democraticamente nós aceitamos o resultado da eleição", disse Lula a uma plateia de apoiadores e aliados em São Bernardo do Campo. "Mas ele foi eleito para governar para o povo brasileiro e não para governar para os milicianos do Rio de Janeiro", disparou.

O petista então fez menção às investigações do assassinato da vereadora no Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL) e lembrou o caso em que o porteiro de um condomínio, em que Bolsonaro e um acusado de matar Marielle têm casa, disse que o outro acusado do crime entrou no local autorizado pelo "seu Jair" --Bolsonaro no dia dessa suposta autorização estava em Brasília.

Lula também afirmou em sua fala que Bolsonaro "deve" sua eleição ao ministro da Justiça, Serio Moro, que o condenou como juiz, e àqueles que também atuaram no processo do tríplex do Guarujá (SP), no qual já foi condenado em três instâncias e pelo qual ficou preso por 580 dias, até a sexta-feira, na sede da Polícia Federal em Curitiba.

"Ele (Bolsonaro) deve (a eleição) ao Moro, ele deve aos juizes que me julgaram e ele deve à campanha de fake news que fizeram contra o companheiro Haddad e contra a esquerda neste país", disse em referência ao candidato derrotado do PT na eleição do ano passado, Fernando Haddad, que estava ao seu lado no carro de som de onde discursou.

O petista aproveitou ainda para fazer, mais uma vez, duros ataques a Moro, a quem chamou de "canalha" e "mentiroso", e ao coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, a quem acusou de ter formado uma "quadrilha" para "roubar" dinheiro da Petrobras.

Lula também centrou artilharia na política econômica da gestão Bolsonaro e no ministro da Economia, Paulo Guedes, a quem classificou de "destruidor de empregos" e "destruidor de empresas públicas". Afirmou ainda que o presidente da República, que é capitão do Exército na reserva, nunca trabalhou e se alistou no serviço militar justamente para não ter de trabalhar e para se aposentar cedo.

"Ele arrumou um jeito de não trabalhar, foi fazer o serviço militar... esse cidadão, que nunca trabalhou, esse cidadão que diz que não é político... nunca fez um discurso que prestasse, ele só fazia ofender as mulheres, ofender os negros, ofender os LGBTs", disse.

"Esse país é de 210 milhões de habitantes e a gente não pode permitir que os milicianos acabem com esse país que nós construímos."

Já no final de seu discurso, Lula fez um apelo para que a militância de esquerda vá às ruas lutar contra as políticas da gestão Bolsonaro, citando o caso chileno como exemplo a ser seguido.

"Eu estou disposto a andar esse país... Estamos vendo o que está acontecendo no Chile. O Chile é o modelo de país que o Guedes quer", disse.

"Se a gente souber trabalhar direitinho, em 2022 a chamada esquerda que o Bolsonaro tanto tem medo vai derrotar a utradireita... A gente tem que seguir o exemplo do povo do Chile, do povo da Bolívia, e resistir", acrescentou, afirmando que o presidente boliviano, Evo Morales, tem enfrentado a rejeição em aceitar o resultado da eleição que o reelegeu, pela direita na Bolívia, outro país latino-americano palco de protestos.

Durante seu discurso, o ex-presidente disse que ainda fará um "pronunciamento à nação" nos próximos dias.

Fonte: Reuters

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