Bolsonaro diz que acionou Moro para que porteiro preste depoimento à PF

Publicado em 30/10/2019 11:57

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira que solicitou ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, que a Polícia Federal ouça depoimento do porteiro que teria citado o nome do presidente nas investigações sobre o assassinato da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco no ano passado.

"Estou conversando com o ministro da Justiça sobre o que pode ser feito para a gente tomar, via Polícia Federal, o depoimento agora desse porteiro pela PF para esclarecer de vez esse fato, de modo que esse fantasma que querem colocar no meu colo, como um possível mentor da morte de Marielle, seja enterrado de vez", disse Bolsonaro a jornalistas na Arábia Saudita, onde está em viagem oficial.

A assessoria de comunicação de Moro não confirmou nesta manhã se o ministro e Bolsonaro conversaram sobre o pedido do presidente. Moro está em viagem oficial ao Equador.

Reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, afirmou na noite de terça-feira que um dos suspeitos da morte de Marielle entrou no condomínio onde o presidente tem casa no Rio de Janeiro dizendo que iria à casa do então deputado, mas, na verdade, foi para a residência do ex-policial Ronnie Lessa, acusado de ser o autor dos disparos que mataram a vereadora e seu motorista, Anderson Gomes, em março do ano passado.

A reportagem cita depoimento do porteiro à polícia, no qual o funcionário teria dito que um homem com a voz de Bolsonaro teria autorizado pelo interfone a entrada no condomínio de Élcio Queiroz, acusado de dirigir o carro usado no crime de Marielle. A TV Globo ressalvou, no entanto, que o sistema da Câmara registra a presença de Bolsonaro no Congresso no dia da visita de Élcio Queiroz.

Em uma transmissão de vídeo ao vivo em sua página no Facebook de madrugada na Arábia Saudita, Bolsonaro negou ter autorizado a entrada de qualquer pessoa em seu condomínio no dia da morte de Marielle, e disse que deseja ser ouvido pelo delegado do caso para se defender.

"Eu tenho registrado no painel eletrônica da Câmara 17h41, ou seja, 31 minutos depois da entrada desse elemento no condomínio, e tenho também 19h36, e tenho também registrado no dia anterior e no dia posterior as minhas digitais no painel de votação", disse Bolsonaro no vídeo em uma resposta exaltada.

"O que cheira isso aqui, não quero bater o martelo, o que parece: ou o porteiro mentiu, ou induziram o porteiro a cometer um falso testemunho ou escreveram algo no inquérito que o porteiro não leu e assinou embaixo em confiança ao delegado ou àquele que foi ouvi-lo na portaria", acrescentou.

O presidente disse que quer falar com o delegado responsável pelo inquérito para se defender, e acrescentou que vai tornar público seu depoimento, independentemente de o processo correr em sigilo.

"Eu quero falar sobre esse processo. Vou chegar na madrugada de quinta-feita, a partir dessa madrugada estou à disposição de vocês. Senhor delegado, quero te ouvir, olhar nos seus olhos, e que o senhor faça perguntas para mim, quero te responder", afirmou.

Bolsonaro também acusou o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), de ter vazado as informações do inquérito para a imprensa, segundo o presidente, com a intenção de "destruir a família Bolsonaro" de olho nas eleições presidenciais de 2022.

Segundo Bolsonaro, o governador já havia avisado pessoalmente a ele no início deste mês sobre o depoimento do porteiro citando o nome do presidente, indicando que Witzel teria tido acesso a um processo que tramita sob sigilo.

Em nota oficial, Witzel afirmou que não compactua com vazamentos e negou interferência política nas investigações.

"Lamento profundamente a manifestação intempestiva do presidente Jair Bolsonaro. Ressalto que jamais houve qualquer tipo de interferência política nas investigações conduzidas pelo Ministério Público a cargo da Polícia Civil", afirmou.

A TV Globo afirmou, também por meio de nota, que revelou a existência do depoimento do porteiro e das afirmações que ele fez, mas que ressaltou "com ênfase e por apuração própria" que as afirmações se chocavam com os registros de presença do então deputado em Brasília naquele dia.

"O depoimento do porteiro, com ou sem contradição, é importante, porque diz respeito a um fato que ocorreu com um dos principais acusados, no dia do crime. Além disso, a mera citação do nome do presidente leva o Supremo Tribunal Federal a analisar a situação", acrescentou a emissora.

(Por Pedro Fonseca; Reportagem adicional de Eduardo Simões, em São Paulo, e Ricardo Brito, em Brasília)

Fonte: Reuters

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