Dólar fecha na mínima em mais de 2 meses e tem maior queda semanal desde fevereiro

Publicado em 25/10/2019 17:21

Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar voltou a cair frente ao real nesta sexta-feira, chegando a novamente ceder abaixo do suporte psicológico de 4 reais, em um dia positivo para ativos de risco no exterior e com expectativas de melhora no fluxo cambial local.

Comentários da Petrobras de que tentaria minimizar impactos sobre o mercado de câmbio decorrentes de operações de antecipação de pagamentos de dívida externa também embalaram a queda do dólar, uma vez que a ação poderia reduzir o impacto do fluxo negativo gerado pelo pré-pagamento desses passivos.

Na semana, a moeda dos EUA acumulou a maior desvalorização desde o começo de fevereiro, conforme operadores viraram as atenções para a esperança de robustos ingressos de capital por ocasião dos leilões do pré-sal, marcados para o começo de novembro.

As áreas em oferta no leilão de 6 de novembro somam um bônus de assinatura total fixo de cerca de 106,5 bilhões de reais, que deverão ser pagos pelos vencedores do certame, tornando-se a maior rodada de licitações de petróleo da história, segundo as autoridades brasileiras.

As entradas desses recursos ajudariam a amenizar o saldo negativo do fluxo cambial, que em 12 meses até a parcial de outubro está em mais de 30 bilhões de dólares. E também poderiam compensar saídas de dólares típicas de fim de ano, quando se aceleraram as remessas de lucros e dividendos por parte de empresas estrangeiras com filiais no Brasil.

"O volume esperado para entrada de dólares é relevante a ponto de levar o mercado a se concentrar no potencial fluxo positivo mesmo com essas saídas (de recursos) já esperadas", disse Bruno Marques, gestor dos fundos multimercados da XP Asset.

Diante desse quadro, o gestor disse que recentemente zerou posição comprada em dólar e passou a operar com aposta, ainda que "pequena", de queda da moeda norte-americana contra o real.

O real foi beneficiado nesta semana também por sinais de melhora nas negociações comerciais entre Estados Unidos e China, antes da decisão de juros nos Estados Unidos (quarta-feira da semana que vem), para a qual se espera novo corte de taxa.

Quanto menor a taxa de juros nos EUA, mais atrativos se tornam investimentos em países emergentes, como o Brasil.

Aqui, contudo, espera-se que o Banco Central também reduza a Selic --dos atuais 5,50% para 5,00%, o que seria uma nova mínima histórica.

Analistas do Morgan Stanley, contudo, dizem que o mercado já está precificando um Banco Central "dovish" (pró-queda de juros), o que, se confirmado, teria menor potencial de impactar negativamente a taxa de câmbio.

"Continuamos otimistas com o real... depois da surpresa para cima na inflação (IPCA-15 acima do esperado) e da antecipação de fluxos decorrentes dos leilões de petróleo", afirmaram profissionais do banco em nota.

O Morgan ainda espera dólar de 4,05 reais ao fim deste ano, mas em queda a 3,95 reais ao término de março de 2020 e a 3,80 reais no fim do ano que vem.

O alívio do dólar nesta sessão foi amparado ainda pela sinalização do Banco Central de que continuará ofertando moeda no mercado à vista, atendendo demanda por liquidez nesse segmento.

Nesta sexta, o dólar à vista caiu 0,88%, a 4,0094 reais na venda. É o menor valor para um fechamento desde 16 de agosto (4,0037 reais na venda).

Na mínima do dia, a cotação foi a 3,9925 reais na venda, em queda de 1,30% --menor nível intradia desde 19 de agosto.

No acumulado da semana, o dólar à vista recuou 2,67%, maior queda para o período desde a semana encerrada em 1º de fevereiro (-2,91%).

Na B3, o contrato de dólar futuro de maior liquidez tinha baixa de 0,92% por volta de 17h54 desta sexta, a 4,0050 reais.

Fonte: Reuters

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