Período longo de juros baixos pode beneficiar Brasil mais que boom de commodities, vê JPMorgan

Publicado em 11/10/2019 18:20

SÃO PAULO (Reuters) - Um período prolongado de taxas de juros baixas pode ter para o Brasil um efeito benéfico maior do que o do boom das commodities, no começo do século, disse nesta sexta-feira o presidente-executivo do JPMorgan no Brasil, José Berenguer.

"O Brasil tem sorte, pode aproveitar esse ciclo prolongado de baixas taxas de juros para reduzir o custo da dívida pública e permitir que haja maior migração de recursos para investimentos, como em infraestrutura", disse Berenguer durante painel no evento Brazil Investment Fórum.

 Queda de juros no exterior beneficiará infraestrutura, diz ministro Tarcísio

A infraestrutura brasileira poderá se beneficiar da queda das taxas de juros de outros países. Na avaliação do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, esse cenário representará uma janela de oportunidades para que o país – em especial o setor de infraestrutura – acabe se tornando uma opção mais rentável para investidores estrangeiros. Mas, para que isso ocorra, acrescenta o ministro, é fundamental que o país continue apresentando projetos “organizados, sofisticados” e dentro de uma estratégia bem planejada.

“Estamos em um momento extremamente interessante e favorável, em que o mundo vem encolhendo e desacelerando. Isso, para nós, representa uma oportunidade. A desaceleração acontece por motivos como polarização política, envelhecimento da população, a guerra comercial. No final das contas isso tem provocado uma resposta das economias centrais por meio da redução das taxas de juros. E, como consequência, nossos projetos [para o setor de infraestrutura] acabam ficando muito atrativos”, disse hoje (9) o ministro durante o 1º Seminário de Competitividade do Setor de Infraestrutura, na sede do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), em Brasília.

A fim de aproveitar essa oportunidade, Freitas tem cobrado “esmero” de sua equipe, no sentido de “estabelecer e construir os melhores projetos”. Segundo ele, o retorno tem sido excelente.

“O que temos ouvido [dos investidores estrangeiros] é que os projetos estão organizados e sofisticados. Mas o mais importante é que não se trata de um set list de projetos; de um conjunto de projetos aleatoriamente escolhidos. São projetos com poder de transformar a logística e a infraestrutura, que vão atingir em cheio nossos objetivos estratégicos e nossa política de estrutura. Vão atuar no rebalanceamento e reequilíbrio da matriz porque teremos participação maior dos modos ferroviário e hidroviário, com crescimento da navegação de cabotagem”, argumentou.

Dirigindo-se a uma plateia de especialistas em infraestrutura, o ministro detalhou alguns dos procedimentos adotados para a elaboração de projetos atrativos para o setor privado. Segundo ele, os primeiros passos foram no sentido de coletar dados que estavam dispersos em vários órgãos públicos. A partir daí foram construídas “matrizes de origens e destinos” e verificado o comportamento das cargas, bem como a articulação da economia brasileira.

“E por meio de modelos econométricos avaliamos como que a demanda vai se comportar ao longo do tempo; como a demanda de transporte vai crescer e para que regiões. A partir do momento em que fazemos o confronto disso com a oferta de transporte, a gente vai identificando quais são os gargalos e as nossas necessidades de investimentos”, acrescentou.

A expectativa do ministro é a de fazer vários leilões até 2022, para repassar à iniciativa privada diversos empreendimentos. Segundo Freitas, estão nos planos 41 aeroportos; mais de 16 mil quilômetros de rodovias; mais de 3 mil quilômetros de ferrovias; “dezenas” de arrendamentos portuários, além da desestatização de companhias docas.

“No campo ferroviário, nós estudamos 16 projetos diferentes de ferrovias e hierarquizamos todos esses projetos. Verificamos o que fazia mais sentido, aplicamos filtros e os hierarquizamos. Foi assim que construímos nossa estratégia ferroviária. Tudo nasce em cima de uma estratégia e de um plano. Por isso digo que não se trata de um set list de projetos soltos, e que não é uma relação extensa de projetos. Tem todo um ambiente de negócio que está sendo construído, para trazer, ao investidor, uma sensação de segurança”, disse.

Dessa forma, sua equipe “se debruçou” em cima de temas como a tributação sobre ganho de capital, risco cambial, licenciamento ambiental, arbitragem, bem como sobre formas de resolução de conflitos em contratos de longo prazo.

Investimentos públicos

De acordo com o ministro, a economia obtida com o exercício fiscal poderá, em um segundo momento, favorecer o investimento público em empreendimentos que não despertem o interesse privado. Segundo ele, alguns investimentos terão necessariamente de ocorrer pela via pública.

“Ao mesmo tempo que nos esforçamos para transferir ativos à iniciativa privada, vamos aumentar o estoque de investimentos públicos. Estamos fazendo o exercício fiscal necessário para aumentar nosso espaço fiscal, dar previsibilidade ao mercado e conseguir fazer a provisão da infraestrutura, principalmente naquelas infraestruturas em que a iniciativa privada não virá”.

Acordo Mercosul-UE pode impactar economia brasileira em US$ 79 bilhões

O acordo comercial entre o Mercado Comum do Sul (Mercosul) e a União Europeia (UE), fechado no fim de junho, deve impactar a economia brasileira em US$ 79 bilhões até 2035.

A estimativa é da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), que divulgou hoje (11) estudo sobre a questão, durante a 2ª Conferência de Comércio Internacional e Serviços do Mercosul (CI19), realizada na sede da entidade, no Rio de Janeiro.

Considerando a redução de barreiras não tarifárias, o impacto pode chegar a US$ 112 bilhões no período, segundo a CNC. Os números estão um pouco abaixo dos divulgados pelo governo brasileiro, de US$ 87,5 bilhões e US$ 125 bilhões incluindo as barreiras não tarifárias em 15 anos.

O presidente da CNC, José Roberto Tadros, explicou que o Brasil ocupa no momento a presidência pro tempore (temporariamente) do Conselho de Câmaras de Comércio do Mercosul (CCCM), e, por isso, se coloca na posição de liderar os debates sobre o acordo.

Relação de trocas

“Mercado exterior é comércio, então nós estamos inseridos neste contexto. Não só na relação de trocas como também no que diz respeito a turismo, serviços, então esta é a casa para tratar desses assuntos e das relações internacionais”, observou.  O economista da CNC Fábio Bentes, um dos responsáveis pelo estudo, explica que o montante foi calculado somando-se o saldo da balança comercial, estimado em US$ 66 bilhões, com o investimento agregado, de US$ 13 bilhões, mais US$ 33 bilhões pela redução de barreiras como as fitossanitárias, para chegar aos US$ 112 bilhões.

“A gente considerou o crescimento do Brasil esperado para os próximos anos, na casa de 2%, 2,5%, e o crescimento da Europa, que é um pouco menor, de 1,2%, mas dado o tamanho da economia do continente, isso também ajuda a potencializar o impacto positivo do acordo. Outra premissa é a taxa de câmbio, entre R$ 3,80 e R$ 4 até 2024, segundo o Boletim Focus, do Banco Central, e depois reajustado pela inflação”, argumentou.

Para ele, o acordo é histórico e vai beneficiar exportadores, importadores e consumidores. “Do ponto de vista das nossas exportações a tendência é beneficiar o setor agroexportador. O Brasil é o segundo maior exportador de produtos agropecuários para a Europa e vai passar os Estados Unidos em questão de dois ou três anos. Do ponto de vista das importações, nós, do comércio e serviços, se a gente tem acesso a produtos de qualidade sem barreiras tarifárias elevadas, vai importar mercadorias ou serviços a um preço menor e a população vai ter preços mais competitivos” explicou o economista.

O diretor da Câmara Argentina de Comércio e Serviços, Carlos Arecco, ressaltou a importância da abertura da Europa para os países do Mercosul. “Um mercado como a Europa, onde um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) do mundo está em jogo, é uma coisa tremendamente importante. Temos que trabalhar e acertar a letra pequena nos acordos que os governos do Mercosul e da União Europeia assinaram, [eles] tiveram 20 anos para fechar esse acordo. Agora, cabe a nós levar isso para a frente. Hoje, comércio e serviço são praticamente 70%, 80% dos negócios no mundo”, frisou.

Também presente na conferência, o ministro de Estado para o Comércio Exterior do Líbano, Hassan Mourat, explicou que seu país também espera poder aderir a esse acordo com a Europa, como já feito por outros países árabes, além de reforçar as relações comerciais e de amizade com o Brasil, país que, segundo ele, abriga cerca de 12 milhões de pessoas de origem libanesa e árabe.

“O Líbano está fazendo de tudo para virar uma zona franca para poder escoar toda a mercadoria que vem da América Latina, servindo como um entreposto para outros países como a China e no Oriente Médio. Por outro lado, [pretende] reforçar essa amizade que tem entre Brasil e Líbano e também as relações comerciais e turísticas”, afirmou

O acordo Mercosul-UE ainda precisa ser ratificado por cada um dos 32 países que compõem os dois blocos para começar a valer. As negociações começaram em 1999.

Fonte: Reuters/Agencia Brasil

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