Dólar tem leve alta contra o real em dia de foco em cena externa

Publicado em 26/09/2019 17:16

Por Stefani Inouye

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar encerrou em leve alta contra o real nesta quinta-feira, em dia marcado por acentuada volatilidade no mercado doméstico de câmbio, com agentes monitorando processo de impeachment do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e as relações comerciais EUA-China.

O dólar à vista teve alta de 0,17%, a 4,1618 reais na venda. Na B3, o dólar futuro tinha valorização de 0,27%, a 4,1615 reais.

Na mínima, a cotação foi a 4,1224 reais na venda, menor patamar intradia desde 18 de setembro, enquanto na máxima tocou 4,1690 reais.

"O mercado ainda continua ainda bem perdido. O cenário externo é volátil, com incertezas de todos os lados, especialmente envolvendo o Trump, e isso deixa todo mundo na retaguarda", afirmou Paulo Celso Nepomuceno, estrategista de renda-fixa da Corretora Coinvalores.

As moedas emergentes pares do real, como peso mexicano e rand sul-africano também se depreciavam contra o dólar, enquanto a moeda norte-americana subia contra uma cesta de outras moedas.

O Comitê de Inteligência da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos publicou, nesta quinta-feira, uma versão não sigilosa de uma denúncia de um delator alegando que o presidente usou seu gabinete para solicitar interferência estrangeira nas eleições presidenciais de 2020.

Nepomuceno acrescentou que grande parte dos temores em torno da questão do impeachment de Trump é que o presidente norte-americano use as negociações comerciais com a China como ponto para tirar atenção da instabilidade política doméstica.

"Existe a possibilidade dele querer desviar a atenção do processo (de impeachment) enrijecendo as relações com a China. Só essa possibilidade já levanta temores de todos os lados."

O Ministério do Comércio chinês disse nesta quinta-feira que os dois países ainda estão discutindo detalhes sobre a próxima rodada de negociações comerciais em outubro e estão fazendo preparativos para garantirem "progresso positivo".

A declaração vem um dia após Trump afirmar que um acordo entre os dois países pode acontecer antes do que as pessoas pensam.

Em contrapartida, a agência Bloomberg noticiou que os EUA não devem prorrogar a autorização temporária que permite que a chinesa Huawei compre produtos de empresas norte-americanas.

No câmbio, importante é efeito do dólar sobre canais de inflação, diz Campos Neto

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, avaliou nesta quinta-feira que a alta recente do dólar frente ao real não veio acompanhada de elevação do prêmio de risco e pontuou que o importante para o BC é quando há impacto do câmbio nos canais de inflação.

Em coletiva de imprensa, ele disse haver clara sensação de que o ajuste sofrido pela moeda norte-americana hoje é diferente do sofrido no passado. Devido ao fato de a taxa de juros longos estar baixa, houve incentivo para emissão da dívida em reais e pré-pagamento de dívidas em moedas estrangeiras, causando pressão no mercado spot, disse Campos Neto.

Ele destacou que a autoridade monetária não faz comentários nem projeções sobre o repasse cambial à inflação, chamado de "pass through". Mas avaliou que esse repasse "tem oscilado bastante".

"(A alta do dólar) não veio acompanhada de aumento do prêmio de risco, um pedaço grande do movimento foi global, um pedaço foi do pré-pagamento (de dívidas)", disse.

"Nós estamos acompanhando de perto essa evolução. Trabalhamos com câmbio flutuante, o importante para nós é o efeito que o dólar possa ter, em algum momento, via canais de expectativa da inflação", emendou.

Mais cedo nesta semana, ata do Comitê de Política Monetária (Copom) já havia indicado que trajetória calculada pelo BC para a inflação no curto prazo refletia "comportamento benigno de alguns componentes mais voláteis da inflação e dinâmica da inflação importada, cujos vetores altistas têm sido moderados pela trajetória de preços externos".

Nesta quinta-feira, o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Viana, indicou que, se de um lado houve alta do dólar, de outro, o BC olhou para preços nos mercados internacionais que oscilaram para baixo e representaram fator mitigador, como "commodities e outros".

Viana lembrou ainda que, num ambiente de expectativas de inflação ancoradas e com fraca atividade econômica, o rapasse cambial acaba sendo menor.

"Expectativa é que, nessa conjuntura com ancoragem e hiato aberto, isso persista", frisou ele, ponderando que o quadro pode oscilar ao longo do tempo e é parte do trabalho do Copom fazer essa avaliação e incorporá-la ao seu cenário.

Na semana passada, o BC cortou a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, à mínima histórica de 5,5%, e indicou espaço para novo afrouxamento à frente -- mensagem repetida em Relatório Trimestral de Inflação nesta manhã.

Desde então, analistas de mercado têm se debruçado sobre o quanto a oscilação do câmbio poderá afetar a magnitude dos novos cortes nos juros.

Da reunião de Copom de 31 de julho até aqui, o dólar subiu 8,8% em relação ao real.

ATUAÇÃO NO CÂMBIO

Após o BC também ter lançado mão em agosto de nova atuação no câmbio, vendendo dólares à vista, Campos Neto disse a jornalistas que a autoridade monetária não tem dogma em relação ao instrumento utilizado para intervenção cambial e tampouco meta para nível de swaps.

"Existia sempre um entendimento de que todas intervenções, ou grande parte das intervenções do BC, eram prioritariamente feitas por swap, então, na última reunião que nós fizemos, tenho tentado explicitar, talvez a única mudança em curso seja que nós não temos nenhum dogma em relação a instrumento", afirmou.

"Nós temos um câmbio que não é conversível. Por não termos um câmbio que é conversível, nós temos variáveis diferentes que conseguem nos indicar onde está a demanda", emendou.

Campos Neto defendeu que a depreciação cambial veio na esteira de um movimento forte de pré-pagamento de dívidas em moeda estrangeira, citando a atuação da Petrobras nesse sentido, mas também de outras empresas.

"Nós temos a intenção de fazer uma intervenção o mais limpa possível, que atenda a demanda o mais direto possível, e que tenha um menor custo para governo. Se você tem uma distorção muito grande entre o spot e o futuro, e faz uma intervenção em um instrumento onde não está a demanda, o seu custo de operacionalização é maior", disse.

"Não tem nenhum dogma em relação a isso, não tem nenhuma meta para swap. Ao contrário: se nós tivermos um movimento inverso, uma demanda por swap contra derivativo, nós podemos fazer um movimento contrário ao que foi feito", acrescentou.

POUPANÇA

Durante a coletiva, Campos Neto também afirmou que não existe nenhum estudo de mudança da remuneração de poupança sendo feito pelo BC neste momento, ao ser questionado se o governo cogitava a troca da remuneração de TR por IPCA.

Fonte: Reuters

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