Preços do petróleo saltam quase 15% em sessão com volume recorde após ataques à Arábia Saudita

Publicado em 16/09/2019 20:50

NOVA YORK (Reuters) - Os preços do petróleo dispararam quase 15% nesta segunda-feira, com o Brent registrando seu maior ganho percentual diário em mais de 30 anos e volumes recordes de negócios, depois de um ataque a instalações petrolíferas da Arábia Saudita reduzir a produção do reino pela metade e intensificar temores de retaliação no Oriente Médio.

Os contratos futuros do petróleo Brent, valor de referência internacional, fecharam a 69,02 dólares por barril, avançando 8,80 dólares, ou 14,61%, em seu maior ganho percentual em um único dia desde pelo menos 1988.

Já os futuros do petróleo dos Estados Unidos encerraram a sessão a 62,90 dólares o barril, alta de 8,05 dólares, ou 14,68% -- maior avanço percentual diário desde dezembro de 2008.

Os negócios também avançaram fortemente, com os futuros do Brent superando os 2 milhões de lotes, maior volume diário da história, disse a porta-voz da Intercontinental Exchange (ICE), Rebecca Mitchell.

"O ataque à infraestrutura de petróleo saudita veio como um choque e uma surpresa para um mercado que não vinha operando com volatilidade e focava mais no aspecto da demanda do que em oferta", afirmou Tony Hendrick, analista de mercados de energia da corretora CHS Hedging.

A Arábia Saudita é o maior exportador global de petróleo, além de ter uma grande capacidade ociosa, o que tem feito do reino um fornecedor de última instância por décadas.

O ataque a instalações da petroleira estatal Saudi Aramco para processamento de petróleo em Abqaiq e Khurais reduziu a produção em 5,7 milhões de barris por dia. A companhia não deu uma previsão imediata sobre a retomada da produção total.

Duas fontes com conhecimento das operações da Aramco disseram que um retorno à produção normal "pode levar meses".

Trump diz que EUA não precisam de petróleo do Oriente Médio, mas importações seguem

WASHINGTON (Reuters) - O presidente norte-americano, Donald Trump, garantiu, em meio a diversos tuítes disparados nesta segunda-feira, que os Estados Unidos se tornaram um produtor de petróleo tão grande que não precisa mais do Oriente Médio, após os ataques perpetrados no fim de semana a instalações de petróleo na Arábia Saudita.

Os dados do governo dos EUA, no entanto, contam uma história diferente: o boom de perfuração nos EUA, impulsionado pela tecnologia e iniciado há mais de uma década, transformou os Estados Unidos em um grande produtor, mas as importações de petróleo e derivados da região do Golfo no ano passado ainda foram abundantes.

"De maneira geral, ainda estamos importando um pouco e não estamos totalmente imunes ao mercado mundial", disse Jean-François Seznec, membro do Centro Global de Energia do Conselho Atlântico, durante conversa por telefone com repórteres nesta segunda-feira.

O Irã negou as acusações dos EUA sobre a responsabilidade pelos ataques do fim de semana, que danificaram a maior instalação de processamento de petróleo do mundo na Arábia Saudita e provocaram o maior salto nos preços do petróleo em décadas.

A Arábia Saudita é o maior exportador de petróleo do mundo, embarcando cerca de 7 milhões de barris de petróleo por dia para todo o mundo. Os Estados Unidos produzem cerca de 12 milhões de barris por dia, mas consomem 20 milhões de barris por dia, o que significa que devem importar o restante.

Grande parte do déficit dos EUA é coberto pelo Canadá, mas alguns ainda vêm da Arábia Saudita, Iraque e outras nações do Golfo, porque várias refinarias norte-americanas preferem seu petróleo. Como exemplo, a maior refinaria dos EUA - Motiva Enterprises em Port Arthur, Texas - é de propriedade da empresa estatal de energia da Arábia Saudita, a Saudi Aramco.

Outras refinarias - especialmente na Califórnia - estão isoladas dos grandes campos de petróleo dos EUA e também devem depender de carregamentos.

A incompatibilidade entre o que as refinarias dos EUA querem e o que o país produz significa que, em 2018, os Estados Unidos importaram uma média de 48 milhões de barris por mês de petróleo e derivados da região do Golfo, segundo a Administração de Informação sobre Energia dos EUA.

Esse volume caiu cerca de um terço em relação a uma década atrás, à medida que a produção doméstica de petróleo e gás disparou, segundo os dados.

Phillip Cornell, outro membro do Conselho Atlântico, que costumava aconselhar a Saudi Aramco, chamou o tuíte de Trump de "absurdo".

"Ele é um cara que gosta de hipérbole", disse.

Sarah Emerson, presidente da ESAI Energy, disse que a interrupção da produção na Arábia Saudita, se for prolongada, pode propiciar uma oportunidade para os produtores de petróleo dos EUA expandirem seus mercados no exterior.

Fonte: Reuters

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