Conteúdo da Previdência está blindado, mas calendário pode ser contaminado, diz Simone Tebet

Publicado em 22/08/2019 09:51

Por Maria Carolina Marcello e Ricardo Brito

BRASÍLIA (Reuters) - O conteúdo da reforma da Previdência está “blindado” no Senado, mas o calendário de votação pode sofrer interferências caso o presidente Jair Bolsonaro insista em temas polêmicos, como a escolha de seu filho Eduardo para o cargo de embaixador do Brasil nos EUA, e a indicação de um nome controverso para comandar a Procuradoria-Geral da República (PGR), afirmou a senadora e presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa, Simone Tebet (MDB-MS).

Para a senadora, as chances de mudar o núcleo da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da reforma da Previdência são muito pequenas, até porque a maioria dos senadores concorda em deixar eventuais alterações para uma PEC paralela, que tratará, inclusive, da extensão das novas regras a Estados e municípios.

“A Previdência está blindada, vejo a Previdência blindada. Você pode contaminar o calendário, mas ele (o presidente Jair Bolsonaro) percebeu e vai esperar a reforma”, afirmou a senadora, em entrevista à Reuters na quarta-feira. 

A reforma está na comissão que Simone Tebet preside e a expectativa é que o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) apresente a primeira versão do seu relatório nesta sexta-feira. Pelo calendário de votações, a previsão é que a proposta seja votada na CCJ no dia 4 de setembro e que o plenário do Senado conclua sua tramitação em outubro.

A senadora avalia que a eventual chegada da indicação de Eduardo Bolsonaro ao Senado invariavelmente provocará debate, o que poderia atrasar a tramitação da reforma da Previdência, caso isso ocorra em um momento em que a proposta estiver pronta para discussão e votação no plenário.

“Atrasaria a discussão (da reforma) uma semana, 15 dias”, disse Tebet, lembrando que o envio da indicação de um nome para a PGR para suceder a atual chefe do Ministério Público Federal, Raquel Dodge, também poderia ter o mesmo efeito.

Ao fazer uma análise política da indicação de Eduardo para o cargo de embaixador, a senadora considera que não seja uma atitude correta.

“Independentemente de acreditar ou não que é nepotismo, e eu acho que é, (a indicação) no mínimo viola preceitos básicos dessa divisão do público e privado, de um governo menos personalista”, disse.

“Não acho que seja uma atitude acertada, viola princípio da moralidade você indicar um filho tendo se proposto a fazer diferente no palanque.”

Segundo ela, ainda assim, o nome do filho do presidente deve ser aprovado, mas com muita dificuldade.

Sobre a indicação de um procurador-geral da República que não integre a tradicional lista tríplice de sugestões do Ministério Público, Tebet avaliou que as chances de aprovação dependerão do perfil do escolhido. 

“Nem faço críticas sobre nome fora da lista, é um direito do presidente. Se indicar alguém fora da lista e não tiver um grande perfil, também contamina (o calendário da reforma) e talvez por isso que ele (Bolsonaro) não tenha enviado.”

Por outro lado, diz Simone Tebet, a CCJ tem condições de conciliar em sua agenda, além da reforma da Previdência, a PEC das mudanças tributárias e medidas do pacto federativo.

A senadora garante que a essência da reforma da Previdência deve ser preservada --“o grosso não mexe”--, e lembrou que eventuais supressões de trechos do texto não forçam seu retorno à Câmara dos Deputados. A proposta só teria de passar por uma segunda análise dos deputados se for modificada. 

Tebet acrescentou que eventuais supressões que possam ocorrer na PEC não devem reduzir a economia pretendida com a proposta.

(Edição de Maria Pia Palermo e Alexandre Caverni)

Fonte: Reuters

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Ibovespa tem leve recuo, mas sela ganho semanal apoiado em estímulos na China
Dólar à vista fecha em baixa de 0,16%, a R$5,4363 na venda
Dow Jones fecha em alta recorde, com inflação moderada também impulsionando small caps
Ibovespa fecha estável, mas tem ganho semanal com estímulos da China em foco
Taxas sobem em DIs a partir de 2026 após dados fortes do mercado de trabalho
Brasil desenha proposta para atrair investimentos chineses em visita de Xi Jinping