Mulheres empreendem para impulsionar agricultura no Vale do São Francisco
Rio São Francisco em Petrolina/PE (foto Carla Mendes/NA)
"Na margem do São Francisco, nasceu a beleza e a natureza ela conservou (...) Eu gosto de Juazeiro e adoro Petrolina" , cantou Alceu Valença, talvez prevendo que essa região do Brasil, uma zona semi-árida, localizada no Nordeste do país, se destacaria na produção agrícola com tamanha força.
Hoje, o Vale do São Francisco é uma região rica em tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e conhecida pela produção das melhores frutas do mundo.
Hoje, as frutas do São Francisco alcançam mercados como Estados Unidos, Canadá, países da Ásia, da Europa e África. Mais de 20% da produção estão destinados à exportação. A abertura de novos mercados é constante, o que mantém o volume exportado também em uma curva ascendente.
A fruticultura da região - que hoje é o terceiro maior produtor mundial de frutas - já movimenta mais de R$ 3 bilhões por ano. São mais de 200 mil empregos e a produção passa de 1 milhão de toneladas.
Manga, uva, pêra, vinhos, queijos, carnes e mais uma série de outros sabores tornaram-se foco de produtores rurais que hoje já exercem suas atividades mirando um mercado exportador cada vez mais exigente e seletivo.
Os investimentos locais são crescentes em uma região, segundo dados da Embrapa, de cerca de 17 milhões de habitantes e aproximadamente 900 municípios.
É o agronegócio trazendo desenvolvimento e prosperidade para mais brasileiros.
Manga com sorvete de rapadura - Sabores também impulsionam o turismo
Petrolina, no lado pernambucano, e Juazeiro, do outro lado do rio, na Bahia, são as duas cidades principais da região produtora ... outras também se destacam... como Curaçá, Sento Sé e Casa Nova.
O investimento principal é na agricultura irrigada, já que a região é característica por um regime de chuvas irregular e de baixo volume, com concentração das precipitações em um período de 3 a 5 meses.
Além disso, as temperaturas são bastante elevadas - a produção afinal, nada mais é do que uma produção sertaneja, e talvez por isso seja tão resiliente! - e a insolação, ainda segundo a Embrapa, é muito intensa, com aproximadamente 2.800 horas/ano.
Parreiral Vale do São Francisco - Foto: Blog Vinho & Cia
SERTANEJAS DO AGRO
Todos esses desafios, porém, não têm sido obstáculos para as mulheres arretadas (corajosas) do Vale do São Francisco. São elas que têm se organizado e trabalhado de forma coordenada para impulsionar a produção regional e, mais do que isso, torná-la conhecida para que seu potencial seja otimizado.
E entre tantos projetos, se destaca a comunidade Empreendedoras do Vale, idealizada por Luana Trindade. O Notícias Agrícolas esteve lá para conhecer a iniciativa exemplar para as demais regiões brasileiras.
Luana vem trabalhando, ao lado de outras profissionais, para fazer com que a produção agrícola da região possa impactar de forma mais intensa não só o nicho comercial e industrial que hoje já tem sido garantido, mas também os visitantes que chegam ao vale sem saber de toda sua vocação.
Luana Trindade
"Aqui a economia é muito forte por conta do agro, aqui somos exportadores, nosso aeroporto é internacional, então de fato existe um movimento comercial muito forte... mas acredito que ainda haja muitos potenciais de negócio que não são explorados", explica Luana. "Existe, por exemplo, um potencial turístico muito grande, por estarmos no paralelo oito, o que nos permite ter duas safras e meia de uva por ano, enquanto no Sul do Brasil e na Europa, por exemplo, só tem uma", completa.
A líder destaca ainda que as frutas do Vale do São Francisco são consideradas as mais saborosas e seguras do mundo, atendendo à exigências de rigorosos mercados importadores como o Japão.
E para intensificar esse movimento, a aposta do movimento é, de fato, usar a força das mulheres da região.
"Nós, hoje, nos destacamos como a Califórnia brasileira, um oásis do sertão..., então acredito que envolvendo essas mulheres teremos um olhar mais generoso pelo agro". O caminho para isso, segundo ela e demais profissionais da área, é o da capacitação.
Como exemplo Luana cita os quilos de frutas com pequenas avarias que vão para o lixo periodicamente, enquanto um quilo de fruta desidratada, como manga, é excepcionalmente caro em zonas urbanas.
"Fruta é tão caro em outros lugares e aqui muitos jogam fora", diz.
Complementando o potencial e a vocação da região para a prosperidade, Luana lembra ainda que o local conta com a produção de energia eólica, hidrelétrica, solar e termoelétrica, além de um importante polo educacional. E pela distância de capitais ou outras cidades grandes, Luana diz que a tendência que Juazeiro e Petrolina é de se tornarem metrópoles.
I FÓRUM DE MULHERES EMPREENDEDORAS DO AGRO
Reconhecendo toda esta iniciativa, a Corteva Agriscience realizou em Petrolina, na última quarta-feira (24), o I Fórum das Mulheres Empreendedoras do Agro, em parceria com a comunidade Empreendedoras do Vale.
As discussões, que contaram com outras profissionais referência no setor, se deram em torno do empoderamento destas mulheres e no papel que hoje elas desempenham para fazer a diferença no agronegócio brasileiro.
O painel principal contou com a participação de Mariana Cássia Dias, advogda especialista em direito da mulher e gênero; Angela Nunes, produtora de frutas do Vale; Carol Coelho, consultora em comércio exterior e proprietária do grupo Brasflex; Essione Ribeiro, consultora em fisiologia vegetal; Beatriz Paranhos, pesquisadora da Embrapa e Hilda Loschi, engenheira agrônoma e participante da Academia de Mulheres Líderes do Agronegócio da Corteva.
A mediação ficou por conta de Mariana Castanho, diretora comercial da Corteva Agriscience, que relatou as ações da empresa lembrando que o objetivo maior da companhia é o de promover a equidade de gêneros .
"A ideia de reunir em um evento tantas histórias inspiradoras reafirma a preocupação da Corteva em promover a equidade de gênero, principalmente em um segmento tão masculino, como é o agronegócio".
"Atualmente, 38% da nossa liderança no Brasil é formada por mulheres. Na área comercial, esse número é de 50%. São números significativos, mas queremos mais mulheres em todo setor. Para isso, estamos fortemente comprometidos em promover iniciativas em prol dessa causa", explica Mariana.
Dados levantados por uma pesquisa feita pela multinacional em 17 países sobre a presença feminina no agronegócio mostraram que mais de 60% das mulheres ainda sente a diferença de gênero no campo e que isso precisa mudar.
Os caminhos, segundo elas, são o da capacitação e do treinamento. Por outro lado, o estudo mostrou também que a mulher brasileira, apesar de ser a que sente a maior discriminação, é a mais orgulhosa em trabalhar no campo.
Em outubro de 2018, o Notícias Agrícolas entrevistou a diretora de comunicação da Corteva América Latina, Vivian Bialski, sobre a pesquisa. Assista:
O preconceito existe e continua permeando o setor, mas vem perdendo força dia a dia. Movimentos como o da comunidade Empreendedoras do Vale e ações de empresa como a Corteva, incentivando e valorizando o trabalho dessas profissionais que estiveram no fórum, vem abrindo caminhos para que mais mulheres possam percorrê-los.
"A mulher tem um senso de mobilização muito forte, mas eu acredito que ainda existe um ranço cultural muito grande que é velado. Ninguém diz que não vai te contratar porque você é uma mulher, quando na realidade trabalhamos dez vezes mais, não temos essa coisa das oito horas por dia (...) Mas, nosso projeto não acredita que as mulheres são melhores, mas que precisamos estar nos mesmos patamares".