Brasil tem pior fluxo cambial para junho em quase 4 décadas
SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil teve o pior saldo de fluxo cambial para meses de junho de toda a série histórica, com as fortes saídas de recursos ditadas integralmente pela conta financeira.
O saldo do câmbio contratado foi em junho negativo em 8,286 bilhões de dólares, maior déficit para o mês desde pelo menos 1982, a partir de quando o Banco Central disponibiliza dados.
Para qualquer mês, o resultado é o pior desde dezembro de 2018 (-12,756 bilhões de dólares), período sazonalmente marcado por saídas de capital.
Em junho, a conta financeira teve déficit líquido de 8,434 bilhões de dólares, pior número para o mês em dois anos. A debandada de dólares se concentrou na última semana, com fluxo negativo líquido de 8,994 bilhões de dólares nos últimos cinco dias úteis de junho, o que reforça a percepção de que as saídas de moeda decorreram de questões sazonais.
Junho marca término de trimestre e de semestre, o que tradicionalmente eleva a procura de empresas e investidores por dólares para envio ao exterior --na forma de remessas de lucros e dividendos, por exemplo.
O fluxo negativo no fim do mês foi tamanho que fez a taxa do cupom cambial disparar, o que coincidiu com a alta do dólar em alguns dias do fim de junho.
Se o movimento na conta financeira pressionou o saldo geral do fluxo, tampouco ajudou o desempenho das operações comerciais.
A diferença entre o câmbio contratado para exportação e importação minguou para superávit de 148 milhões de dólares --o pior desde janeiro passado (-497 milhões de dólares) e o mais fraco para junho desde 2014 (-1,772 bilhão de dólares).
Com a intensa saída de recursos de junho, o fluxo cambial acumulado em 2019 passou ao negativo.
O saldo do primeiro semestre ficou deficitário em 5,121 bilhões de dólares --saída líquida de 15,327 bilhões de dólares nas operações financeiras e superávit de 10,205 bilhões de dólares na conta comercial.
Os três números mostraram piora ante o mesmo período de 2018, quando a conta comercial teve sobra de 29,767 bilhões de dólares, as operações financeiras registraram déficit de 7,241 bilhões de dólares, e o fluxo agregado foi positivo em 22,525 bilhões de dólares.
POSIÇÃO DOS BANCOS
Com o fluxo negativo, a posição dos bancos em dólar no mercado à vista ficou vendida em 30,867 bilhões de dólares --uma vez que as instituições precisaram prover esses recursos ao sistema.
É a maior posição vendida desde setembro de 2016 (-35,936 bilhões de dólares).
As saídas de dólares trouxeram o BC ao mercado com leilões de linhas de moeda estrangeira com compromisso de recompra.
Em junho, o BC liquidou a venda de 2,100 bilhões de dólares nessas operações, maior venda desde dezembro passado (-8,000 bilhões de dólares) e abaixo dos 2,925 bilhões de dólares em vendas de linhas de junho de 2018.
(Por José de Castro)