Bolsonaro comenta "em tese" possibilidade de privatizar Petrobras, diz porta-voz

Publicado em 19/04/2019 03:53

BRASÍLIA/RIO DE JANEIRO (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro comentou “em tese” a possibilidade de avaliar a privatização da Petrobras, disse nesta quinta-feira o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros.

A afirmação veio após Bolsonaro comentar à jornalista Natuza Nery, da Globonews, que teria uma “simpatia inicial” pela ideia de privatizar a Petrobras, durante participação em evento de comemoração pelo Dia do Exército em São Paulo.

“Sim, ele comentou em tese essa possibilidade. Obviamente movimentos como esse exigem muito diálogo e estudos aprofundados nos mais diversos campos do poder”, afirmou o porta-voz da Presidência, em nota, ao ser questionado sobre a fala de Bolsonaro à Globonews.

A nova postura do presidente, que antes já havia negado expressamente a possibilidade de privatizar a petroleira, vem após o ministro da Economia, Paulo Guedes, ter afirmado na véspera, também à Globonews, que Bolsonaro “levantou a sobrancelha” sobre o tema em meio à recente polêmica em torno dos preços do diesel praticados pela companhia, num indicativo de menor resistência à ideia.

Perguntado se o presidente Bolsonaro está mais próximo de concordar com a eventual privatização da Petrobras, Guedes respondeu que não. “Isso seria um salto muito grande.”

O ministro admitiu, porém, que o presidente considerou essa possibilidade para uma “estatal em particular”, sem dar detalhes.

As falas de Bolsonaro e Guedes sobre a Petrobras vêm após a estatal ter cancelado na semana passada um reajuste do diesel depois de uma ligação do presidente ao CEO da estatal, em meio a temores de uma nova greve dos caminhoneiros.

O movimento assustou investidores e levou a uma forte queda nas ações da companhia.

Posteriormente, Bolsonaro e representantes do governo e da Petrobras defenderam a independência da petroleira para definir seus preços, e a companhia anunciou na noite de quinta-feira um reajuste de 4,8 por cento no diesel, próximo dos 5,7 por cento do aumento cancelado anteriormente.

Com a elevação no diesel, as ações preferenciais da Petrobras saltaram 3,18 por cento nesta quinta-feira, recuperando quase totalmente as perdas da semana anterior.

Cessão onerosa: o que vem agora? (SAIBA MAIS): 

RIO DE JANEIRO (Reuters) - Após concluir as negociações do contrato que rege a importante região do pré-sal chamada de cessão onerosa com a Petrobras, o governo anunciou na véspera a aprovação de parâmetros técnicos e econômicos para um megaleilão dos excedentes de petróleo e gás do contrato.

Previsto para 28 de outubro deste ano, o leilão terá bônus de assinatura total fixo de 106,561 bilhões de reais, além de percentual mínimo de óleo-lucro que varia entre 19,82 e 27,65 por cento, dependendo dos blocos ofertados.

O anúncio do certame foi possível após o governo anunciar que pagará 9,058 bilhões de dólares à Petrobras para encerrar disputa contratual a respeito da área em questão.

O QUE É?

A cessão onerosa é uma região na Bacia de Santos, onde bilhões de barris de petróleo estão armazenados sob uma espessa camada de sal abaixo do fundo do oceano, o chamado pré-sal, que surgiu como uma das mais promissoras fontes de petróleo do mundo.

A cessão onerosa foi assinada como parte de um processo de capitalização da Petrobras em 2010, quando a empresa levantou cerca de 120,2 bilhões de reais, na maior oferta de ações já registrada no mundo à época. Na ocasião, o governo comprou grande quantidade de ações da companhia.

Como parte do processo, a Petrobras utilizou 74,8 bilhões de reais para pagar ao governo pelo direito de produzir 5 bilhões de barris de óleo equivalente na cessão onerosa.

POR QUE A DISPUTA?

O acordo da cessão onerosa previa uma revisão dos termos do contrato quando os campos fossem declarados comercialmente viáveis, a partir de parâmetros como preço do barril do petróleo, câmbio e outras variáveis.

A Petrobras começou a declarar os campos da área como comercialmente viáveis em 2013, a partir do campo de Búzios, e desde então buscou revisões com o governo, à medida que os preços do petróleo variaram substancialmente e estudos apontaram grandes reservas no local.

As declarações de comercialidade das áreas foram todas apresentadas à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) até o fim de 2014.

A autarquia acredita que haja de 6 bilhões a 15 bilhões de barris de óleo equivalente na área da cessão onerosa, além dos 5 bilhões de barris originalmente concedidos à Petrobras. Até poucos meses atrás, os dois lados pareciam distantes, mas desde que Jair Bolsonaro assumiu o governo e nomeou um novo presidente-executivo para a petroleira, Roberto Castello Branco, em janeiro, as negociações aceleraram, culminando no acordo de mais de 9 bilhões de dólares.

O governo utilizará parte do bônus arrecadado no leilão para pagar à Petrobras o valor prometido na renegociação.

O QUE VEM AGORA?

O governo agendou para 28 de outubro o leilão pelos direitos de extração do excedente de petróleo na área da cessão onerosa, dividido em quatro campos distintos: Atapu, Búzios, Itapu e Sépia.

A Petrobras e o governo ainda discutem como os vencedores do leilão costurarão uma possível parceria com a estatal, que já produz em Búzios e tem o direito de preferência para ser a operadora dos novos consórcios que entrarão na área.

Os vencedores do leilão serão obrigados a compensar a Petrobras pela infraestrutura e pelo trabalho exploratório em que a empresa já investiu.

O valor dessa compensação ainda não foi definido, mas as expectativas giram em torno de vários bilhões.

QUEM ESTÁ INTERESSADO?

O leilão de outubro deve atrair uma série de grandes empresas globais de petróleo, que vêm discutindo a oportunidade com autoridades do governo nos últimos meses. Não menos importante entre as partes interessadas está a própria Petrobras.

Embora a empresa esteja cortando dívidas agressivamente, o CEO Roberto Castello Branco declarou que o pagamento do governo na cessão onerosa seria utilizado para participação no leilão.

Entre as empresas com ativos de exploração e produção adjacentes ou relativamente próximos à área da cessão onerosa, oferecendo potenciais economias de custo, estão a Total, a Shell e as chinesas CNOOC e CNPC.

Entretanto, elas podem precisar manter um olho aberto para interferências políticas nos próximos seis meses.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, argumentou que o Congresso precisa aprovar o acordo entre o governo e a Petrobras antes de o leilão ocorrer. Outros, como o ministro da Economia, Paulo Guedes, contestam a necessidade de aprovação parlamentar.

Fonte: Reuters

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Wall Street abre em leve alta após dados de inflação dos EUA
Dólar fica estável frente ao real apesar de apetite por risco no exterior
Brasil abre 232.513 vagas formais de trabalho em agosto, acima do esperado
Crescimento mais lento da China pode ser problema para commodities e emergentes, diz Campos Neto
Ibovespa hesita na abertura após dados de inflação nos EUA
Governo quer flexibilizar regras para termelétricas e permitir oferta de potência em meio à seca