Petrobras vai continuar mudando preços a cada 15 dias sem interferencia do Governo, diz Ministro da Energia

Publicado em 17/04/2019 03:27
Paulo Guedes quer o fim do monopólio

O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, negou ontem a possibilidade de o governo interferir na política de preços da Petrobras. Perguntado se o governo pretende promover algum tipo de alteração na política da empresa, o ministro respondeu: “Nenhuma".

Segundo Albuquerque, houve um “erro de comunicação” no episódio envolvendo a divulgação e posterior suspensão do reajuste do preço do diesel pela Petrobras na semana passada.

“Houve um erro de comunicação na apresentação desse índice de 5,7%. Por contingências estava voando para Roraima e quando pousei é que comecei a receber as informações. Entendo que presidente, não estando informado e não tendo as pessoas para informá-lo exatamente do que estava ocorrendo, ele pediu esclarecimento e é isso que vamos prestar a ele daqui a pouco”, disse o ministro referindo-se à reunião com o presidente da República, Jair Bolsonaro, na tarde de hoje.

A declaração do ministro ocorreu durante um evento para debater o setor de óleo e gás e pouco antes de sair para a reunião com o presidente para tratar da política de preços da empresa. Na saída do evento, o ministro disse que o que houve foi um “problema de comunicação” e que não está apontando nem insinuando culpados.

Suspensão

Na última quinta-feira, a Petrobras anunciou o aumento de 5,7% no preço médio do diesel. Posteriormente, o presidente disse que havia entrado em contato com a Petrobras para a suspensão do aumento. A suspensão teria ocorrido para evitar uma possível paralisação de caminhoneiros. Após suspender o aumento do combustível, a Petrobras disse que havia margem “para espaçar mais alguns dias o reajuste no diesel".

No dia seguinte (12), a Petrobras perdeu R$ 32 bilhões em valor de mercado, a empresa também negou que tenha havido interferência. Já o Planalto disse que não vai interferir na empresa.

De acordo com Petrobras, mesmo com o adiamento, ela seguirá com a política de reajuste do combustível em alinhamento com o Preço Paridade Internacional (PPI). Por essa política, os preços do diesel nas refinarias da companhia, (que correspondem a cerca de 54% dos preços ao consumidor final), sofrerão reajustados por períodos não inferiores a 15 dias.

Guedes defende o fim do monopólio

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta terça-feira que a Petrobras é independente para estabelecer preços, e que o presidente Jair Bolsonaro deixou claro entender que seria fora de propósito manipular cotações da estatal.

A afirmação foi feita depois de uma reunião de pouco mais de uma hora com Bolsonaro, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, o presidente da estatal, Roberto Castello Branco, técnicos da área, além do próprio Guedes.

O ministro da Economia afirmou que estava claro que esse foi um encontro de “esclarecimento”.

“O presidente da República tem uma preocupação maior que só a do mercado. É natural que eu esteja sempre preocupado com questões de mercado, me preocupa qualquer coisa que possa parecer intervenção, mas eu tenho que reconhecer que ele é presidente de 200 milhões de pessoas”, disse Guedes.

“Ele realmente, legitimamente, me disse ‘me explica esse negócio aí’.”

Guedes afirmou ainda que o presidente “parece” ter ficado satisfeito as explicações apresentadas a ele sobre a política de preços da empresa.

“Ele entende que existem práticas de preço e que é fora de propósito fazermos manipulação de preço”, disse.

Guedes reconheceu que a interpretação de que poderia haver uma interferência é “legítima” e que o governo não quer passar essa impressão.

“A perda da ação da Petrobras é a menor perda. Se começar a manipular preço, todo processo de concessão, de fluxo de refinaria, tudo isso é afetado”, afirmou.

O movimento da Petrobras de cancelar a alta programada levantou preocupações de especialistas, que alertaram para riscos sobre os planos do atual presidente da empresa de vender uma parcela significativa das refinarias.

POLÍTICA DE PREÇOS

O ministro disse ainda que a estatal está estudando as “melhores práticas” para sua política de preços e que precisa aumentar a transparência.

Guedes disse, no entanto, que caberá à empresa decidir sobre o próximo aumento, que substituirá o barrado pelo presidente.

“Vai ter que recalcular”, disse.

A Petrobras decidiu manter estáveis as cotações do diesel e da gasolina em suas refinarias na quarta-feira, de acordo com informações da estatal no início da noite desta terça-feira.

O diesel da Petrobras não é reajustado desde 22 de março. Já a gasolina teve reajuste pela última vez em 5 de abril, quando a cotação subiu 5,6 por cento.

Guedes voltou ao discurso de que é necessário um choque de energia barata” no país, com privatizações e mudanças de regulamentação para permitir a entrada de outros atores no mercado de petróleo no país.

“Vamos partir para um choque de mais competição e tirar esse problema do colo do governo. Esse problema só está no colo do governo porque o governo tem o monopólio. O que nos interessa é mudar a longo prazo as condições de mercado, queremos ir em direção ao setor privado e mercados competitivos”, defendeu.

O ministro afirmou que o próprio governo vem estudando alternativas e que, se houvesse uma alta muito grande nos preços dos combustíveis, poderia, por exemplo, reduzir impostos. “Isso tem um preço, vai cortar de onde, da saúde para dar para o caminhoneiro?”, questionou.

O ministro da economia ressaltou, porém, que a dimensão econômica dessas interferências tem que ser considerada até mesmo para não atrapalhar os futuros leilões de petróleo. “Temos R$ 1 trilhão para sair do pré-sal, se manipular preço, todo processo é afetado”, completou. “Não queremos de forma alguma ser governo que manipula política de preços, como no passado”.

Depois da reunião, Guedes disse não saber se a Petrobrás manterá o reajuste de 5,7% que seria dado na semana passada. Ele disse que a estatal poderá fazer reajustes menores em intervalos mais curtos ou aumentar o preço de uma só vez.

De acordo com Albuquerque, o valor do diesel praticado nos postos de combustível do País é 12% menor do que a média internacional.

Nas bombas, diesel é 5,3% mais barato que antes da greve de 2018, diz a Folha

O preço do óleo diesel nas bombas está hoje 5,3% menor do que na semana anterior à paralisação dos caminhoneiros, em maio de 2018, de acordo com dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis).

Segundo a pesquisa da agência, o litro do combustível foi vendido na semana passada a R$ 3,55, em média, no Brasil.

Corrigido pela inflação, o preço médio vigente na semana do dia 19 de maio de 2018 era R$ 3,75 por litro.

No dia 21 daquele mês, os caminhoneiros iniciaram a paralisação que parou o país por duas semanas e culminou em um programa de subsídio ao preço do diesel que custou aos cofres públicos até o momento R$ 6,7 bilhões.

A insatisfação dos caminhoneiros colocou novamente em discussão a política de preços dos combustíveis praticada pela Petrobras desde outubro de 2016, que prevê o acompanhamento das cotações internacionais.

Nesta terça-feira (16), executivos da Petrobras se reuniram com Bolsonaro e ministros para explicar como funciona a política de preços. Com a intervenção, a estatal perdeu R$ 32 bilhões de seu valor de mercado na sexta-feira (12).

Após o encontro, o governo reforçou que a decisão é da companhia. Por volta das 20h, porém, a estatal decidiu manter nesta quarta-feira (17) o preço que já vigora há 26 dias.

De acordo com a ANP, o preço do diesel nas bombas acumula alta de 5% desde que a nova política foi adotada.

Já foi mais alto durante o primeiro semestre de 2018, mas recuou no fim do ano com a queda das cotações internacionais do petróleo e corte de impostos federais para encerrar a greve.

Relatório do MME (Ministério de Minas e Energia) mostra que, entre a última semana de setembro de 2016 e o fim de fevereiro —último dado disponível— a parcela do preço final referente ao diesel vendido pela Petrobras teve alta de 1,7%, desconsiderando a inflação do período.

Já as parcelas referentes ao biodiesel e a tributos federais tiveram alta maior: 25% e 10%, respectivamente. Em julho de 2017, o governo Michel Temer (MDB) praticamente dobrou a alíquota de PIS/Cofins sobre o combustível.

A margem dos postos de gasolina subiu 12,1% no período, também desconsiderando a inflação. Por outro lado, as fatias referentes ao ICMS e a margens de distribuição e transporte caíram 3,85% e 25,9%.

“Parece que há um problema de comunicação entre o que se discute no governo e o que se verifica na prática”, disse nesta terça Leonardo Gadotti, presidente da Plural, entidade que representa as distribuidoras de combustíveis.

Em seminário sobre o tema na Folha, ele argumentou que em 2019 o preço do diesel nas refinarias subiu 17% mas o repasse às bombas foi de 3,3%.

Sergio Araújo, presidente da Abicom (associação de representa os importadores) pondera, no entanto, que o preço praticado pela Petrobras permanece abaixo das cotações internacionais.

Segundo ele, a defasagem nesta terça ficou entre R$ 0,02 por litro no porto de Santos e R$ 0,14 por litro no porto de Itaqui, na Bahia.

 

Fonte: Agencia Brasil/Reuters/Folha

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Wall Street abre em leve alta após dados de inflação dos EUA
Dólar fica estável frente ao real apesar de apetite por risco no exterior
Brasil abre 232.513 vagas formais de trabalho em agosto, acima do esperado
Crescimento mais lento da China pode ser problema para commodities e emergentes, diz Campos Neto
Ibovespa hesita na abertura após dados de inflação nos EUA
Governo quer flexibilizar regras para termelétricas e permitir oferta de potência em meio à seca