Impasse na negociação agrícola: carne bovina brasileira só entrará lá se carne suína americana entrar aqui

Publicado em 19/03/2019 13:57
Trump e Bolsonaro firmam acordos de reaproximação entre os dois países, mas negócios agrícolas não deslancham

Neste terceiro dia de visita da comitiva brasileira aos Estados Unidos, a Casa Branca divulgou os primeiros resultados do encontro entre o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e dos Estados Unidos, Donald Trump. Para o agronegócio, já foram firmados acordo para o trigo e avaliação no setor de carnes:

  • TRIGO: O presidente Bolsonaro anunciou que o Brasil implementará uma cota tarifária, permitindo a importação anual de 750 mil toneladas de trigo americano com taxa zero.
  • CARNE BOVINA: Os Estados Unidos concordaram em agendar uma visita técnica do Serviço de Inspeção e Segurança Alimentar do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos para auditar o sistema de carne bovina brasileiro e avaliar a retomada das compras de carne in natura, suspensas desde 2017.
  • CARNE SUÍNA: Os EUA e o Brasil concordaram em avaliar a abertura do mercado brasileiro para a entrada de carne suína americana.

Confira os pronunciamentos dos presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump, durante o encontro desta tarde na Casa Branca:

Fonte: TV NBR

Estados Unidos abre possibilidade de incluir Brasil na OTAN e OCDE

Em reaproximação histórica entre Brasil e Estados Unidos, o presidente Jair Bolsonaro está em viagem diplomática ao estado norte-americano para firmar acordos entre os dois países para aquecer a economia, o comércio, o turismo e cooperação tecnológica.

Dentre eles, está a assinatura de um acordo através do qual os americanos poderão fazer lançamentos comerciais de satélites a partir da Base de Alcântara, no Maranhão. Em outro decreto dado pelo presidente Bolsonaro, turistas americanos, canadenses, japoneses e australianos não precisarão mais de vistos para ingressarem no Brasil.

Com relação a bitributação entre os dois países, um assunto que tem sido discutido há 40 anos, dá sinais de avanço, o que facilitaria e aumentaria o comércio entre os dois países. Atualmente US$100 bilhões são comercializados entre Brasil e Estados Unidos, número 6 vezes menor que o comércio entre os norte-americanos e o México, por exemplo. 

Dessa maneira, o interesse brasileiro em estar inserido na OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) são claros sinais de boas perspectivas para a economia brasileira desde a posse de Bolsonaro e a tutela do ministro Paulo Guedes.

A inclusão nessas duas organizações depende de diversos fatores sociais e econômicos, sendo que o Brasil é parceiro-chave da OCDE desde 2007. Já na OTAN, organização criada após o fim da Segunda Guerra Mundial, a inserção do país abriria vantagens militares. Com relação a isso, o presidente Trump deu claros sinais de apoio para a inclusão do Brasil na OCDE.

Atualmente fazem parte da organização 36 países, dentre eles estão Japão, Dinamarca, Reino Unido, Canadá, Chile, Austrália, Nova Zelândia, Suécia, Suiça e outros integrantes que podem favorecer investimentos internacionais e as exportações, além de aumentar a confiança dos investidores e melhorar a imagem do país no exterior, possibilitando a captação de recursos a taxa de juros menores.

Para tanto, é preciso implementar medidas econômicas como o controle inflacionário e fiscal e nisso entra todas as medidas em que o governo Bolsonaro tem tentado dar andamento, como a reforma da previdência.

Brasil abrirá mão de direitos na OMC para ingressar na OCDE (Agência Brasil)

O presidente Jair Bolsonaro concordou que o Brasil abra mão do tratamento diferenciado que os países em desenvolvimento recebem na Organização Mundial do Comércio (OMC) em troca do apoio dos Estados Unidos à adesão do país à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A decisão foi acertada em reunião de Bolsonaro com o presidente norte-americano, Donald Trump, hoje (19) na Casa Branca, em Washington.

A OCDE reúne os países mais industrializados do mundo e estabelece parâmetros conjuntos de regras econômicas e legislativas para os membros. Segundo comunicado dos dois presidentes divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores no início da noite, Trump elogiou os esforços do Brasil para reformar a economia e alinhar as práticas e os marcos regulatórios e manifestou apoio para que o Brasil inicie o processo de adesão.

Em troca, o chefe de Estado norte-americano pediu que o Brasil abra mão do statusespecial nas negociações da OMC. “De maneira proporcional ao seu status de líder global, o presidente Bolsonaro concordou que o Brasil começará a abrir mão do tratamento especial e diferenciado nas negociações da Organização Mundial do Comércio, em linha com a proposta dos Estados Unidos”, destacou o comunicado conjunto.

Donald Trump se reúne com Jair Bolsonaro, no Salão Oval da Casa Branca, em Washington - Reuters/Kevin Lamarque/Direitos Reservados

Comércio e investimentos

Os dois presidentes assumiram uma série de compromissos na área comercial. Bolsonaro anunciou que o Brasil importará 750 mil toneladas de trigo dos Estados Unidos por ano com tarifa zero e voltará a comprar carne suína norte-americana. O governo norte-americano mandará uma missão técnica ao Brasil para analisar a possibilidade de que as exportações de carne bovina do Brasil para os Estados Unidos sejam retomadas.

Trump e Bolsonaro negociarão um acordo de reconhecimento mútuo sobre operadores econômicos autorizados, o que permitirá a redução de custo para as empresas dos dois países.

Os dois presidentes concordaram em construir uma parceria para aumentar empregos e reduzir entraves ao comércio e aos investimentos, aprimorando o trabalho da Comissão de Relações Econômicas e Comerciais Brasil–Estados Unidos.

Além disso, Trump e Bolsonaro anunciaram uma nova fase do Fórum de Altos Executivos Brasil–Estados Unidos e a criação de um fundo de investimento de US$ 100 milhões para preservar a biodiversidade e estimular investimentos sustentáveis na Floresta Amazônica. Eles também concordaram em estabelecer um fórum bilateral de energia para facilitar o comércio e os investimentos relacionados ao setor energético.

Reuters: Brasil consegue promessa de apoio à entrada na OCDE, mas Trump cobra por isso

WASHINGTON (Reuters) - Ao final de uma visita que até o momento não tinha rendido grandes frutos ao Brasil, o aparente bom relacionamento entre os presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump levou a uma declaração formal de apoio à entrada brasileira na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e elevação do status do Brasil para parceiro preferencial fora da Otan.

Mais cedo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, revelou a jornalistas que, para apoiar a demanda brasileira os Estados Unidos exigiam que o Brasil deixasse a lista de países com tratamento especial e diferenciado da Organização Mundial do Comércio (OMC). Perguntado sobre a questão, Trump respondeu que apoia o pleito brasileiro.

"Nós vamos apoiar, nós vamos ter uma grande relação de diferentes maneiras. Isso é apenas uma coisa que vamos fazer em honra do presidente Bolsonaro e do Brasil", disse Trump, afirmando que haveria demandas, mas que não necessariamente teriam relação com a OMC.

No entanto, em comunicado conjunto divulgado em seguida pela Casa Branca, o governo norte-americano condiciona sim o apoio à OMC e informa que o Brasil teria concordado.

"O presidente Trump apontou seu apoio ao Brasil iniciar os procedimentos para se tornar um membro pleno da OCDE; presidente Bolsonaro concordou que o Brasil irá iniciar os procedimentos para deixar a lista de países com tratamento especial e diferenciado da OMC, de acordo com a proposta dos Estados Unidos", diz a declaração.

Mais tarde, em entrevista à imprensa brasileira, Bolsonaro confirmou que havia concordo com a condição e disse que essa questão da OMC "é uma questão de tempo".

A lista de países com tratamento especial e diferenciado inclui outros países que já estão na OCDE, como Turquia e Coreia do Sul, é feita por autodeclaração. Isso dá ao país mais flexibilidade nas negociações da OMC e mais tempo para cumprir acordos.

A OCDE aconselha seus 36 membros, na sua maioria países ricos, e é considerada uma influenciadora-chave na arquitetura econômica mundial. Dentre os emergentes que fazem parte do grupo, estão países como Turquia, México e Chile.

De concreto, o Brasil conseguiu obter a declaração de Trump de que o país será designado aliado preferencial extra-Otan, conforme a Reuters havia antecipado, um status que permite ao país tratamento privilegiado na aquisição de equipamentos de defesa, tecnologia e treinamentos.

Trump foi além e disse ainda que vai ser estudada a proposição de incluir o Brasil como membro efetivo da Otan, como foi feito com a Colômbia no ano passado.

RELAÇÃO CALOROSA

Foram duas horas de conversa. Num primeiro momento houve uma reunião privada entre os dois presidentes, com seus respectivos tradutores e o filho Eduardo Bolsonaro --que é presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados e, segundo ele mesmo, foi convidado para ficar pelo próprio Trump. Depois ocorreu um almoço de trabalho com a presença de ministros.

Ao final, os dois presidentes fizeram questão de mostrar o início de uma relação calorosa e de parcerias futuras.

"Nós teremos uma fantástica relação de trabalho. Nós temos vários pontos de vista similares e certamente nos aproximamos muito nas questões de comércio. Eu acredito que a relação entre os Estados Unidos e o Brasil, por causa da nossa amizade, está melhor do que nunca", disse o presidente norte-americano.

"Esse nosso encontro de hoje restaura uma antiga tradição de parcerias e ao mesmo tempo inicia um novo capítulo de cooperação entre o Brasil e os Estados Unidos. Nós hoje revisamos e tomamos a decisão de resolver temas que estão na nossa pauta há décadas", disse Bolsonaro. "Está na hora de derrubar as resistências e explorar o potencial que existe entre Brasil e EUA."

VENEZUELA

Um dos pontos centrais da conversa entre os dois presidentes foi, como era de se esperar, a questão da Venezuela. Trump fez questão de reiterar, mais uma vez, que "todas as opções estão sobre a mesa".

Já o presidente brasileiro foi mais discreto. Afirmou que o Brasil fará todo o possível para que se encontre uma solução para o país vizinho, mas que, no momento atual, o que se tem é a decisão do Brasil de permitir a entrada de apoio humanitário pelo território brasileiro.

Indagado diretamente sobre a possibilidade de uma participação brasileira em uma eventual intervenção militar liderada pelos EUA na Venezuela, Bolsonaro afirmou que este tipo de questão estratégica, caso tenha sido debatida com Trump, não poderia ser discutida em público.

Mais tarde, em entrevista, o presidente reiterou que a posição brasileira é pela diplomacia.

"A certeza é que nós queremos resolver a situação. Não nos interessa, nem a nós, nem a eles, que o país se perpetue na situação que se encontra a Venezuela. Diplomacia em primeiro lugar, até as últimas consequências. Trump repetiu que todas as hipóteses estão na mesa, mas o que ele conversou comigo reservadamente não posso dizer", disse Bolsonaro.

Para Bolsonaro, encontro com Trump abre “novas frentes de cooperação”

O presidente Jair Bolsonaro agradeceu o apoio de Trump ao ingresso do Brasil na Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Ele se referiu ao grupo que reúne 36 países que se guiam pelos princípios da democracia representativa e economia de mercado. “O apoio americano ao ingresso do Brasil na OCDE será entendido como um gesto de entendimento que marcará ainda mais a parceria que buscamos.”

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O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, durante uma entrevista coletiva no Rose Garden da Casa Branca, em Washington (EUA) - Isac Nóbrega/PR

O presidente destacou a negociação para que o Brasil ingresse como parceiro externo na Organização do Tratado Atlântico Norte (Otan), aliança militar criada em 1949 e que reúne 29 países, regido pelo princípio da defesa mútua em caso de ataques. "Discutimos a possibilidade de o Brasil entrar como aliado extra-Otan", disse Bolsonaro.

Parcerias

Bolsonaro ressaltou a parceria com os Estados Unidos nas áreas de combate ao terrorismo e crime organizado, ciência, tecnologia e inovação, energia, óleo e gás. “Este encontro retoma uma antiga tradição de parceria e ao mesmo tempo abre um caminho inédito entre Brasil e Estados Unidos.”

Ele citou os esforços executados no Brasil para combater o terrorismo e o crime organizado. De acordo com o presidente, os temas estão entre prioridades e são “questão de urgência” para brasileiros e norte-americanos. Ele destacou que foi reativado um fôro de altos executivos para discutir vários temas comuns.

O presidente disse que o encontro com Trump destravou temas que aguardavam negociação. “Hoje destravamos vários assuntos que já estavam na pauta há décadas e abrimos novas frentes de cooperação. Esta é a hora de superar velhas resistências e explorar todo o vasto potencial que existe entre Brasil e Estados Unidos. O Brasil tem um presidente que não é anti-americano, caso indédito nas últimas décadas.”

Inspiração

Dizendo-se sob inspiração do presidente Ronald Reagan (1981 a 1989), morto em 2004, Bolsonaro citou uma frase do norte-americano. “O povo deve dizer o que o governo pode fazer e não o contrário”, afirmou o presidente.

Em seguida, o presidente afirmou que: “Os Estados Unidos mudaram em 2017 e o Brasil começou a mudar em 2019. Estamos juntos para o bem dos nossos povos”. “Queremos uma América grande e um Brasil também”, reiterou.

Bolsonaro afirmou que Brasil e Estados Unidos têm vários aspectos comuns. "O Brasil e os Estados Unidos também estão emanados na garantia das liberdades, no respeito à família tradicional, no temor a Deus, nosso Criador, contra a ideologia de gênerio e o politicamente correto e as fake news. Que Deus abençoe o Brasil e os Estados Unidos da América.”

Interno

Questionado se manteria relações com os Estados Unidos, em uma eventual vitória de um candidato à presidência da República, em 2020, com inclinações socialistas, Bolsonaro disse que respeitaria o resultado das eleições, pois se trata de um assunto interno. Bem-humorado, afirmou estar convencido que Trump será reeleito. O norte-americano agradeceu entre sorrisos.

Ao lado de Trump, Bolsonaro celebrou a redução do número de governos socialistas no mundo. Segundo ele, pela “via democrática”, o Brasil se “livrou desse projeto”, referindo-se ao socialismo. "Cada dia que passa essas pessoas mais voltadas para o socialismo e até mesmo para o comunismo, aos poucos vão abrindo suas mentes para a realidade."

O presidente brasileiro reiterou a disposição em manter o intenso comércio com a China e o máximo de parceiros. Porém, ressaltou que não haverá viés ideológico. “O Brasil continuará fazendo negócios com o maior número o possível [de parceiros]. Apenas não será pelo viés ideológico.”

Após o encontro com Trump na Casa Branca, Bolsonaro depositou flores em homenagem ao soldado desconhecido.

Presidente Jair Bolsonaro deposita uma coroa de flores no Túmulo do Soldado Desconhecido no Cemitério Nacional de Arlington, Virgínia (EUA). - REUTERS/Jonathan Ernst/Direitos Reservados
Fonte: Notícias Agrícolas/AgBrasil/Reut

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