Guaidó critica Maduro por 'mandar queimar' ajuda e apela a militares para romperem com governo
CÚCUTA, COLÔMBIA — O autoproclamado presidente interino Juan Guaidó criticou o líder bolivariano, Nicolás Maduro, por "mandar queimar" alimentos e medicamentos que a oposição tentou ingressar neste sábado na Venezuela pela fronteira com a Colômbia. Em pronunciamento ao lado do presidente colombiano, Iván Duque, e do secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, o líder opositor disse que o mundo viu "a pior cara do regime" de Caracas e reiterou o apelo a militares.
Data marcada pela oposição para o início da operação de entrada de ajuda internacional, o dia "D" da Venezuela ficou marcado pela repressão a manifestantes e pelas deserções de militares antes fiéis a Nicolás Maduro. Os caminhões da ajuda internacional entraram em solo venezuelano, mas não passaram dos postos fronteiriços venezuelanos cercados das forças de segurança de Maduro. Segundo a oposição, policiais atearam fogo contra os produtos na ponte Francisco de Paula Santander, um dos quatro acessos da Colômbia à Venezuela.
— Mandaram queimar a comida tão necessária (para o povo). Vocês (os militares) não devem lealdade a alguém que queima comida na frente de famintos. Nós vimos um homem (Maduro) queimar medicamentos na frente de enfermos. Quantos guardas do Exército têm suas mães enfermas? Quantos não têm filhos em colégios sem comida? Não devem obediência a quem, com sadismo, celebra que a ajuda humanitária não entrou no país — ressaltou Guaidó, que foi a Cúcuta na sexta-feira acompanhar a operação.
segundo o líder opositor, os produtos enviados neste sábado às fronteiras de Brasil e Colômbia não são "um centésimo" do que a Venezuela precisa. A oposição aposta na operação de ajuda internacional para sensibilizar membros das Forças Armadas, que hoje sustentam Maduro no poder em Caracas. Mais de 60 funcionários do governo, militares e civis, romperam com o governo neste sábado. Segundo o líder opositor, a mensagem dos oficiais foi clara: "80% das Forças Armadas rechaçam Maduro".
Repressão à entrada de ajuda na Venezuela deixa quatro mortos em Santa Elena, perto da fronteira com o Brasil
Tropas de choque do chavismo, os chamados coletivos, reprimiram neste sábado moradores da cidade venezuelana de Santa Elena que pretendiam participar das ações para abrir um canal humanitário na fronteira com o Brasil e, segundo a prefeitura da cidade venezuelana, quatro pessoas já morreram e 25 foram feridas a tiros. Um dos mortos é um adolescente de 14 anos, cujo nome não foi divulgado; o outro, adulto, foi identificado como José Hernandez.
A Foro Penal, uma das principais organizações da sociedade civil para a defesa dos direitos humanos na Venezuela, enviou representantes à região da fronteira com o Brasil que estão acompanhando e ajudando as vítimas da repressão.
— Já temos duas mortes confirmadas, mas serão muitas mais. Todos os feridos foram atingidos por balas, entre eles três mulheres — assegurou Alfredo Romero, presidente da ONG, antes do anúncio da prefeitura.
Militares venezuelanos sequestrados por indígenas pedem que Maduro ponha fim a violência
Quatro membros da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) continuam, neste sábado, sequestrados por indígenas venezuelanos em algum lugar próximo à cidade de Santa Elena, na fronteira com o Brasil. A ação foi a resposta das comunidades indígenas locais ao assassinato, na última sexta-feira, de dois de seus integrantes (outras versões falam em três mortes) quanto tentavam impedir a passagem de militares e blindados mobilizados para reforçar o bloqueio na região e impedir a chegada de ajuda internacional.
Em vídeo divulgado na rede social Twitter, uma das sequestradas, a tenente Grecia Del Valle Roque Castillo fez um apelo ao presidente Nicolás Maduro e ao ministro da Defesa, general Vladimir Padrino López:
"Presidente, veja o que está acontecendo, veja que não podemos fazer nada", declarou Grecia, em lágrimas. A tenente venezuelana disse ser mãe de um menino de 11 anos e desejar "um futuro melhor" para ele. Grecia também pediu desculpas à comunidade indígena pelo ataque da última sexta-feira e enviou um recado ao ministro da Defesa:
"Padrino López, meu general, pense bem o que vai fazer, não atue com violência contra a comunidade indígena, que não está fazendo nada."