China vai lançar medidas de apoio à economia; EUA exigem mudanças políticas "profundas"

Publicado em 21/12/2018 16:40 e atualizado em 21/12/2018 22:42

PEQUIM (Reuters) - O chefe da principal agência de planejamento econômico da China afirmou que lançará mais medidas de apoio para impulsionar a economia, especialmente no setor manufatureiro avançado, reportou a imprensa estatal neste sábado.

A China irá apoiar vigorosamente o setor privado e resolver dificuldades financeiras de empresas privadas, disse a agência oficial de notícias Xinhua citando o presidente executivo da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, He Lifeng, em conferência de fim de ano.

A China manterá o crescimento econômico dentro de uma faixa razoável e gerenciará ativamente os riscos externos e os desafios, disse He, em comentários alinhados com os feitos por líderes na Conferência Central de Trabalho Econômico, reunião de líderes partidários e legisladores concluída na sexta-feira.

He disse que a China também acelerará a reestruturação das indústrias tradicionais e aumentará o apoio financeiro para prover capital de médio e longo prazos para a transformação tecnológica de empresas manufatureiras.

O crescimento econômico chinês desacelerou para 6,5 por cento no terceiro trimestre, nível mais fraco desde a crise financeira global. O governo lançou uma série de medidas, incluindo reduções nos depósitos compulsórios para bancos, cortes de impostos e mais gastos com infraestrutura para evitar uma forte desaceleração na segunda maior economia do mundo.

Acordo entre EUA e China será difícil sem mudanças políticas profundas, diz assessor da Casa Branca

WASHINGTON (Reuters) - Estados Unidos e China podem não chegar a um acordo comercial no fim da janela de negociação de 90 dias, a menos que Pequim aceite uma profunda reformulação de suas políticas econômicas, disse Peter Navarro, assessor de comércio da Casa Branca.

Em entrevista ao jornal de negócios japonês Nikkei, publicado na sexta-feira, Navarro afirmou que seria "difícil" fechar um acordo sem que a China estivesse pronta para uma revisão completa de suas políticas de comércio e indústria.

China vai aumentar impulso à economia em meio à guerra comercial

PEQUIM (Reuters) - A China vai intensificar os cortes de impostos e manter a ampla liquidez em 2019 para ajudar a sustentar o crescimento econômico, de acordo com um comunicado divulgado pela agência de notícias oficial Xinhua após a reunião econômica anual dos principais líderes do país.

O governo lançou uma série de medidas, incluindo reduções nos compulsórios dos bancos, cortes de impostos e aumento dos gastos com infraestrutura, para evitar uma desaceleração acentuada da segunda maior economia do mundo. A expectativa é que mais medidas sejam anunciadas.

A China manterá o crescimento econômico do próximo ano dentro de "um intervalo razoável", disse o comunicado, após a conclusão da Conferência Central de Trabalho Econômico, uma reunião a portas fechadas de líderes partidários e autoridades.

"O ambiente externo é complexo e severo, e a economia está enfrentando pressão de queda", disse a Xinhua, acrescentando que o governo manterá sua política fiscal proativa e uma política monetária prudente no próximo ano.

"A política fiscal proativa deve aumentar a eficiência, implementar cortes de impostos e reduções de tarifas em grande escala, e aumentar substancialmente o tamanho dos títulos especiais de governos locais", disse a Xinhua.

"A política monetária prudente não deve ser nem muito frouxa nem apertada demais, mantendo a liquidez razoavelmente ampla e melhorando o mecanismo de transmissão da política monetária", afirmou.

Tang Jianwei, economista sênior do Banco de Comunicações em Xangai, previu que os governos locais devem emitir 1,9 trilhão de iuanes (275 bilhões de dólares) em títulos especiais em 2019 para financiar investimentos em infraestrutura, ante 1,35 trilhão de iuanes este ano.

"O governo vai acelerar o afrouxamento da política no próximo ano, à medida que a pressão de queda sobre a economia aumentar", disse Tang.

Alguns economistas acreditam que cortes de impostos mais agressivos no próximo ano podem elevar o índice de déficit orçamentário anual para 3 por cento.

O banco central deve anunciar mais cortes nas taxas de compulsórios dos bancos, que vão se somar às quatro reduções deste ano, mas pode não se apressar em cortar os juros que podem prejudicar o iuan , disseram fontes de política.

EXPECTATIVA DE DESACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO

A China vai se esforçar para apoiar empregos, comércio e investimento e resolver dificuldades de financiamento para empresas pequenas e privadas, ao mesmo tempo em que vai reduzir os riscos e a volatilidade do mercado financeiro, disse a Xinhua.

A Reuters informou nesta semana que conselheiros do governo haviam recomendado que a China reduzisse a meta de crescimento de 2019 para entre 6,0 e 6,5 por cento na reunião anual de mapeamento da agenda econômica do próximo ano.

A meta de crescimento não será divulgada até a abertura da reunião anual do parlamento no início de março.

O Banco Mundial espera que o crescimento da China caia para 6,2 por cento em 2019, ante 6,5 por cento esperado este ano, com o aumento dos obstáculos devido à disputa comercial com os Estados Unidos.

O mundo não ajuda, por ZAINA LATIF, no ESTADÃO

O crescimento mundial desacelera e poderá desacelerar ainda mais ao longo de 2019. Isso não é nada bom, pois torna o ambiente econômico mais propenso a acidentes, como na ocorrência de protestos e o enfraquecimento de lideranças políticas. Emmanuel Macron que o diga. De quebra, o mercado financeiro fica mais volátil, o que acaba contaminando o setor produtivo e agravando o quadro.

Apesar de o Brasil ser uma economia bastante fechada, não é imune ao ciclo mundial. Para piorar, há uma assimetria: o País geralmente sofre mais com um ambiente internacional hostil do que se beneficia com a bonança internacional. São várias as explicações para isso: a elevada dívida pública na comparação com países parecidos; o custo Brasil, que reflete ineficiências e fraquezas estruturais; e as reações muitas vezes equivocadas de política econômica em momentos de dificuldade.

Um exemplo recente foi a pressão na cotação do dólar e nos preços de derivados de petróleo, que, aliada à fraqueza da economia, foi gatilho para a greve dos caminhoneiros. A reação do governo com o tabelamento do frete aumentou o custo da crise. O choque de origem externa acabou tendo impacto terrível no Brasil. E ainda insistimos no erro.

O mundo desacelera por duas razões principais. Primeiro, o menor crescimento da China, em parte intencional, visando conter os riscos advindos do excessivo endividamento no país. Ele também resulta da mudança gradual do modelo de crescimento, em favor do consumo e de setores ligados à tecnologia, em detrimento de setores mais tradicionais. O resultado, pelo menos em um primeiro momento, é o menor crescimento econômico.

Segundo, o aperto das condições monetárias nos EUA, tanto pela alta da taxa de juros pelo Fed como pelo seu programa de redução de ativos em carteira, revertendo aos poucos a expressiva injeção de liquidez em reação à crise global de 2008.

O ciclo de desaceleração mundial provavelmente não se esgotará tão cedo, apesar das políticas de estímulo na China e nos EUA. Há defasagens naturais na reação da economia às políticas conduzidas e nem sempre elas são eficazes. Por exemplo, um aumento do crédito na China levanta dúvidas sobre os riscos crescentes de inadimplência, o que machuca o apetite para investir.

Ainda mais importante é o menor crescimento do comércio global, que não mais se beneficia com a abertura comercial da China e de países periféricos da Europa ocorrida na década passada. Pelo contrário, a agenda protecionista dos países, cujo maior exemplo é a guerra comercial entre China e Estados Unidos, cobra seu preço. A fraqueza do comércio mundial é ducha de água fria nas economias mais abertas, como países europeus e Japão, e também nos países emergentes, principalmente os que dependem do comércio com a China.

Os emergentes patinam, exibindo taxas de crescimento muito mais modestas do que no passado, e isso não é boa notícia para ninguém; nem para os países avançados. Diferente do passado, quando a dinâmica da economia global era praticamente determinada pelas economias avançadas, na última década e meia, cresceu, e muito, o peso dos emergentes no PIB global, havendo evidências de que a dinâmica dos emergentes passou a afetar a dos desenvolvidos.

A desaceleração do comércio mundial é má notícia também para o potencial de crescimento do mundo. O comércio global ajuda a aumentar a produtividade dos países, pelo acesso a insumos e tecnologias mais avançadas e pela especialização na produção de bens e serviços em que cada país tem maior vantagem comparativa. Impulsionam-se, assim, os ganhos de produtividade no mundo e, portanto, o potencial de crescimento.

O contágio do mundo sobre o Brasil é inevitável, mas poderá ser amenizado se fizermos a lição de casa, as reformas fiscais urgentes. Em meio a um cenário externo repleto de incertezas perigosas, não convém inventar problemas imaginários e conflitos desnecessários.

*ECONOMISTA-CHEFE DA XP INVESTIMENTOS

Fonte: Reuters/Estadão

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