José “Pepe” Mujica, queridinho da esquerda latino-americana que visitou Lula na prisão no mês passado, defendeu no Senado uruguaio a renúncia de Daniel Ortega, registra a Folha.
O motivo, claro, é a repressão violenta exercida pelo regime esquerdista da Nicarágua contra seus opositores, que já matou cerca de 360 pessoas em três meses –muitos deles, estudantes universitários.
“Sinto que algo que foi um sonho se desvia, cai em autocracia. E entendo que aqueles foram revolucionários perderam hoje o senso de que, na vida, há momentos em que devem dizer: ‘Vou embora’”, declarou o ex-presidente do Uruguai, no seu estilo floreado.
Na última terça (17), o Senado uruguaio aprovou por unanimidade moção da Frente Ampla, o partido de Mujica, exigindo de Ortega “o fim imediato da violência contra o povo nicaraguense”.
Enquanto isso, no Brasil, o PT continua dando a maior força à repressão e à morte de opositores, como já faz em relação à Venezuela.
O jogo do 'centrão', editorial do Estadão
O futuro presidente dificilmente conseguirá implementar sua agenda sem se submeter à chantagem
Deveria ser proibido para menores de 18 anos o noticiário sobre as articulações do chamado “centrão” em torno da sucessão presidencial.
Para quem não está familiarizado com o subdialeto do baixo clero do Congresso, “centrão” é o nome que se dá ao ajuntamento de partidos fisiológicos que se mobilizam sempre que existe a oportunidade de aumentar seus ganhos em barganhas que, de tempos em tempos, lhes são oferecidas – ou procuradas, que ninguém é de ferro. Nada ali lembra nem remotamente a política como deve ser, isto é, o embate democrático de ideias em torno dos interesses dos eleitores. Tudo o que importa para esses partidos é defender uma divisão equânime do butim estatal entre seus caciques e agregados, e ninguém ali faz muita questão de esconder esse comportamento obsceno.
Somente os incautos acreditam que “centrão” seja o nome de um bloco político legítimo, com aspirações programáticas ideologicamente discerníveis. O “centrão” é apenas um rótulo para vários partidos nanicos, pequenos e médios que buscam avidamente orbitar o poder para auferir benefícios políticos e pecuniários e sabem que, juntos, ganham maior capacidade de constranger o governo ou outra presa qualquer a atender às suas demandas – que se resumem a facilidades, cargos e verbas.
Em circunstâncias normais, candidatos de partidos tradicionais, com compromissos mais sólidos com seus eleitores, rejeitariam de pronto o apoio do “centrão” em suas campanhas, por tudo de nefasto o que esse bloco representa. Afinal, o que esperar de um governo formado a partir da associação com notórios oportunistas? Mas o sistema político-eleitoral brasileiro infelizmente é talhado para produzir aberrações que praticamente inviabilizam a formação de candidaturas competitivas sem coligação com partidos explicitamente fisiológicos.
Assim, o País tem assistido nos últimos dias ao leilão do “centrão” entre diversos candidatos a presidente, de todos os matizes ideológicos. A adesão do bloco, é óbvio, não será definida conforme o posicionamento dos candidatos acerca de questões fundamentais, como tamanho e formato do Estado, modelos de desenvolvimento, políticas sociais e inserção internacional. Termos tradicionais da política como “esquerda”, “centro” e “direita” são, portanto, irrelevantes – é por isso que a expressão “centrão” deve ser lida como uma ironia, pois de centro, naturalmente, esse bloco nada tem. Somente à luz disso é possível entender, por exemplo, a declaração do líder do PR na Câmara, José Rocha (BA), segundo a qual a bancada de seu partido “está meio a meio, há deputados que preferem Jair Bolsonaro e outros que são favoráveis a apoiar Lula”. Afinal, Lula e Bolsonaro só se igualam na geleia geral.
Enquanto o gelatinoso “centrão” não se decide, quase todos os candidatos mais competitivos guardam lugar em suas chapas para um candidato a vice-presidente indicado pelo bloco. Tudo isso na expectativa de adicionar precioso tempo de TV às suas campanhas, algo que, para muitos analistas, pode ser decisivo.
É espantoso, mas ao mesmo tempo revelador dos tempos esquisitos que o País vive, que o apoio do “centrão” seja mesmo considerado o fiel da balança nesta eleição. Depois de todo o movimento em prol do saneamento da política, que tem mobilizado a opinião pública desde a eclosão da Lava Jato, a eleição presidencial mais importante dos últimos tempos pode ser decidida justamente por alguns dos partidos e caciques mais identificados com as baixarias que aviltam a política.
Assim, um governo formado a partir de uma aliança com o “centrão” não augura coisa boa. Por melhores que possam ser as intenções do vencedor da eleição, na hipótese de ser alguém comprometido com as reformas de que o País tão urgentemente necessita, o futuro presidente dificilmente conseguirá implementar sua agenda sem se submeter à costumeira chantagem do “centrão”. E os estragos causados por essa turma na atual legislatura, inviabilizando votações cruciais e aprovando projetos que sabotam o esforço fiscal mesmo depois de arrancar dedos e anéis do governo, deveriam ser suficientes para mostrar que o preço de um punhado de segundos a mais na propaganda eleitoral pode ser alto demais para o País.
Quem é Janaina Paschoal, a algoz de Dilma, candidata a vice de Bolsonaro (na GAZETA DO POVO)
Eram pouco mais de 11 horas da manhã de quarta-feira (18) quando a advogada Janaina Paschoal usou sua conta no Twitter para tentar acalmar os boatos de que será candidata à vice-presidência da República na chapa de Jair Bolsonaro (PSL). “Pelo enorme respeito que tenho para com a imprensa e pelo número elevado de telefonemas e pedidos de entrevista que estou recebendo, informo a todos que não há nada a informar. Estou num dia normal de trabalho, como todo brasileiro honesto”, disse ela, famosa por ter atuado no processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Janaina é filiada ao PSL desde abril deste ano.
“Se essa dupla [Bolsonaro e Janaina] não consegue mudar o Brasil, ninguém consegue, são duas pessoas de personalidade muito forte. Não conheço ninguém que ame mais o Brasil do que eu. Para o país seria algo significativo”, disse ela, em entrevista à Rádio Eldorado. Janaina afirmou que não tinha recebido, pelo menos até o momento, nenhum convite formal para integrar a chapa de Bolsonaro. “Não tenho como responder (se aceita ou não ser vice na chapa de Bolsonaro) porque nada me foi perguntado”, disse.
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Os rumores de que o deputado poderia convidá-la para ser sua vice ganharam força depois que os dois nomes mais cotados recusaram esse papel. No dia 11 de julho o senador Magno Malta (PR-ES), que era a primeira opção de Bolsonaro, declinou do convite. Uma semana depois foi a vez do plano B também falhar. O PRP vetou o nome do general Augusto Heleno, filiado do partido, para compor a chapa do pré-candidato. Foi então que Janaina ressurgiu como uma possibilidade.
Personalidade forte
Janaina Paschoal não era muito conhecida do grande público até 2015. Naquele ano ela foi um dos autores do pedido de impeachment da presidente Dilma, ao lado de Miguel Reale Jr. e Hélio Bicudo. Desde então, ganhou atenção da mídia e se tornou figura cativa nas redes sociais – para o bem e para o mal.
Entre as pessoas que convivem com ela há mais tempo, é conhecida por ter personalidade forte. Quando participou da banca para professora titular da USP, em 2017, a Gazeta do Povo publicou reportagem que trazia o seguinte trecho: “ela sempre foi uma pessoa impetuosa, mas piorou durante o governo petista. Em 2006, em um seminário em que o Márcio Tomaz Bastos [então ministro da Justiça] era o convidado da abertura, ela ficou em pé no meio da palestra e começou a gritar: ‘E o Francenildo? E o Francenildo?’ [em referência à quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo, que levou à queda do então ministro da Fazenda Antonio Palocci, em 2006]”. A declaração foi dada por um professor do Departamento de Direito Penal da USP, do qual Janaina faz parte.
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Em 2010, quando Dilma venceu as eleições para Presidência pela primeira vez, Mayara Petruso, então estudante de Direito daquela universidade, publicou no Twitter a declaração: “Nordestino não é gente, faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!”. Dias mais tarde, Janaina publicou um texto na seção de opinião da Folha de São Paulo defendendo Mayara. “Quanto a Mayara, entendo que errou, mas não parece justo que seja demonizada como paulista racista, quando o mote dado na campanha eleitoral foi justamente o da oposição entre as regiões”, escreveu. A estudante foi condenada em 2012 a prestar serviços comunitários e pagar uma multa de R$ 500 por discriminação.
Também em 2012 Janaina publicou outro artigo de opinião na Folha. Intitulado “Cuba é uma grande Guantánamo”. O texto dizia que “a tolerância do Itamaraty com a falta de direitos humanos em Cuba é totalmente coerente com a história do PT e tem amplo apoio nas universidades”.
Com atuação sempre afiada na área do Direito Penal, a jurista sempre tratou de temas relacionados a ele, como a questão da maioridade penal, inclusive em programas de televisão. Mas foi mesmo depois de 2015, com o pedido de impeachment, que ela ganhou notoriedade de vez. Em outubro daquele ano, publicou na Gazeta do Povo um artigo defendendo o impeachment. Nele, afirmou que “o PT, tal qual uma nuvem de gafanhotos, vem paulatinamente corroendo nossas instituições por dentro”.
Em abril do ano seguinte protagonizou uma das cenas mais marcantes de todo o processo de impedimento de Dilma. Discursando em um evento contra a corrupção na sede da faculdade de direito da USP, Janaina se exaltou e começou a girar uma bandeira do Brasil enquanto gritava que “o Brasil não é a República da Cobra!”. O episódio ficou famoso e ela virou meme na internet. Em maio, ao entrar em uma sala de aula, encontrou um cartaz escrito “golpista” pendurado pelos estudantes. No mês seguinte discutiu com o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) em plena comissão do impeachment.
Terminadas as banca para professor titular da USP, em 2017, ela ficou em último lugar entre os candidatos e alegou ter sido vítima de perseguição. Disse que já esperava a reprovação por questões ideológicas.
Trajetória
Formada em Direito pela USP, Janaina entrou no curso em 1992. Coincidentemente, naquele ano, a política brasileira foi abalada pelo impeachment do então presidente Fernando Collor. Antes, porém, de começar a atuar na área jurídica, entre 1993 e 1996, ela deu aulas de inglês.
Em 1995, paralelamente ao emprego de professora, entrou na Podval Advocacia Criminal, escritório de Roberto Podval que, anos depois, viria a ser advogado de defesa de José Dirceu. No ano seguinte, 1996, deixou a escola de idiomas. Em 1999 voltaria a exercer a docência, naquela ocasião já na Universidade Cidade de São Paulo (Unicid), onde ministrava a disciplina de Direito Processual Penal e ficou até 2001.
Quando se desligou da Unicid, Janaina já havia deixado a Podval um ano antes, em 2000. Entre 2001 e 2004 teve várias ocupações diferentes. Foi assessora na Secretaria de Segurança Pública de São Paulo durante o governo de Geraldo Alckmin (PSDB); lecionou na Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), na Faculdades Integradas Toledo (FIT) e na Universidade São Judas Tadeu (USJT); foi consultora de segurança pública na Fundação Instituto de Administração (FIA) da USP e assessora especial do ministro da Justiça no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
A partir de 2003 assumiu como professora na USP e, de 2004 a 2005, também foi professora do Centro de Altos Estudos de Segurança (Caes) da Polícia Militar de São Paulo.