Embraer e Boeing fazem acordo para aliança de US$ 4,75 bi em aviação comercial
Por Gabriela Mello e Brad Haynes
SÃO PAULO (Reuters) - A Embraer assinou memorando de entendimento com a Boeing para formação de joint venture contemplando os negócios e serviços de aviação comercial da fabricante brasileira, informaram as companhias nesta quinta-feira.
Pelos termos do acordo não vinculante, a Boeing deterá 80 por cento da companhia resultante da transação, enquanto a Embraer ficará com os 20 por cento restantes, de acordo com o comunicado.
A nova empresa deve tornar a Boeing a líder de mercado para jatos menores de passageiros, criando competição acirrada para o programa de aeronaves CSeries projetado pela canadense Bombardier e apoiado pela rival europeia Airbus.
A transação avalia a totalidade das operações de aviação comercial da Embraer em 4,75 bilhões de dólares, com a Boeing desembolsando 3,8 bilhões de dólares pelos 80 por cento de participação no negócio, disseram as companhias.
Para a Embraer, o anúncio da Airbus de que assumiria o controle do CSeries da Bombaerdier colocou peso real de marketing por trás do concorrente frágil, enquanto para a Boeing, o acordo transatlântico ameaçou expandir a base de receita e o potencial de geração de caixa de seu arquirrival europeu.
Os dois acordos representam o maior realinhamento no mercado aeroespacial global em décadas. O novo duopólio, colocando a Airbus e a Bombardier de um lado contra a Boeing e a Embraer do outro, fortalece fabricantes de aviões ocidentais estabelecidas contra novos concorrentes como a China, dizem analistas.
Às 12:30, as ações da Embraer negociadas no Brasil caíam quase 13 por cento, diante da decepção com os termos financeiros do tão aguardado acordo.
A transação coloca um valor abaixo do esperado na unidade de aviação comercial da Embraer, disse o analista do BTG Pactual Renato Mimica em nota a clientes. No entanto, ele ainda vê potencial de alta para as ações da empresa, destacando a potencial economia de custos com a parceria com Boeing.
As ações da Boeing, que buscava expandir a atuação no ramo de jatos de menos lugares, subiam 0,27 por cento.
VENDAS E SERVIÇO
A Boeing deve pagar por sua participação em dinheiro, segundo uma fonte familiarizada com o assunto. O comunicado não trouxe indicação sobre como será feito o pagamento dentro do acordo.
Em documento enviado separadamente à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a fabricante brasileira ressalta que as divisões de defesa & segurança e jatos executivos, dentre outras, não serão segregadas para nova sociedade e seguirão sendo desenvolvidas pela Embraer.
Além disso, as ações da Embraer continuarão listadas na bolsa paulista B3, e a União manterá os direitos decorrentes das golden shares na companhia.
Sinalizações recentes do presidente Michel Temer e de autoridades militares indicavam que o governo estaria satisfeito com a nova estrutura do acordo, uma vez que os empregos brasileiros seriam mantidos e que a Embraer seguiria desenvolvendo nova tecnologia.
A finalização dos detalhes financeiros e operacionais da parceria estratégica e a negociação dos acordos definitivos devem prosseguir nos próximos meses, mas a expectativa é que a transação seja fechada até o fim de 2019, caso as aprovações regulatórias e de acionistas ocorram no tempo previsto, disseram as empresas.
O comunicado conjunto ainda destaca que a operação não terá impacto nas projeções financeiras de Boeing e Embraer para 2018 nem no compromisso do grupo norte-americano de retornar cerca de 100 por cento do fluxo de caixa livre aos acionistas.
A parceria deve ser contabilizada nos resultados da Boeing por ação, no início de 2020, gerando sinergia anual de custos estimada em cerca de 150 milhões de dólares -antes de impostos- até o terceiro ano.
"Esta importante parceria está claramente alinhada à estratégia de longo prazo da Boeing de investir em crescimento orgânico e retorno de valor aos acionistas, complementada por acordos estratégicos que aprimoram e aceleram nossos planos de crescimento", disse Dennis Muilenburg, presidente da Boeing, no comunicado.
O acordo ainda prevê a criação de outra joint venture para promoção e desenvolvimento de novos mercados e aplicações para produtos e serviços de defesa, em especial o avião multimissão KC-390.
O acordo tomou forma mais de dois anos depois que a ideia foi apresentada internamente ao conselho de administração da Boeing e reflete uma antiga afinidade entre as duas fabricantes de aeronaves, disse uma fonte familiarizada com a negociação.
No entanto, a pressão por um acordo se intensificou quando a Airbus anunciou no ano passado que assumiria o controle do programa de jatos CSeries da rival Bombardier, que vinha enfrentando sua longa batalha com a Embraer no segmento de 70 a 130 assentos.
"O anúncio Boeing-Embraer confirma o forte potencial do mercado na categoria de 100 a 150 assentos", disse a Airbus por meio de um porta-voz. "A Boeing e a Embraer estão seguindo a Airbus e a Bombardier."