Ibovespa volta a cair e tem pior semana desde 2017, com maior percepção de risco por eleição
Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - O principal índice de ações da B3, recuou pelo quarto pregão seguido nesta sexta-feira, renovando mínima de fechamento do ano, em meio ao aumento da percepção de risco dos investidores com o cenário político-eleitoral e o rumo da economia do país.
O Ibovespa caiu 1,23 por cento, a 72.942 pontos, mínima desde 19 de dezembro. O volume financeiro da sessão foi novamente expressivo e somou 20,5 bilhões de reais.
Na semana, o índice acumulou perda de 5,6 por cento, maior declínio semanal desde maio de 2017. Foi também a quarta semana de queda. A última vez que o Ibovespa teve essa série de perdas semanais foi entre outubro e novembro de 2017.
Profissionais de renda variável seguiram citando a maior apreensão de investidores em relação à cena eleitoral e à fragilidade da economia, que tem se recuperado mais lentamente do que o esperado.
Segundo o analista Lucas Claro, da Ativa Investimentos, o cenário político é bastante parecido com o de três meses atrás, mas o fato de os pré-candidatos considerados pró-reformas não engrenarem e as incertezas seguirem elevadas conforme a eleição se aproxima tem trazido desconforto.
"O mercado não interpreta bem essas incertezas", afirmou.
Apesar da queda do Ibovespa, muitos papéis se recuperaram, após fortes perdas recentes, o que o analista da Ativa avaliou como uma correção a exageros, embora o cenário siga desfavorável. Na mínima do dia, o Ibovespa caiu 2,9 por cento.
A maior aversão a risco a ativos de mercados emergentes em geral tem corroborado mais recentemente o viés mais negativo nas operações domésticas. Nesta sessão, o índice MSCI de ações de mercados emergentes caiu 1,05 por cento, a 1.137 pontos.
O Credit Suisse cortou o preço-alvo do MSCI de mercados emergentes para o fim de dezembro a 1.250 pontos, versus 1.300 pontos anteriormente, mantendo classificação 'underweight' para Brasil, citando entre os fatores um calendário político intenso.
DESTAQUES
- PETROBRAS PN caiu 3,24 por cento e PETROBRAS ON recuou 4,86 por cento, na esteira da queda nos preços do petróleo no exterior, e refletindo também as incertezas sobre a autonomia da empresa de controle estatal. O conselho da companhia aprovou a adesão à segunda fase do programa de subvenção do diesel. Na véspera, o UBS cortou a recomendação dos papéis para 'neutra'.
- ELETROBRAS PNB e ELETROBRAS ON recuaram 4,81 e 3,8 por cento, respectivamente, ainda afetadas pelo ceticismo dos investidores quanto à capitalização da companhia, mas também pela percepção de dificuldades na privatização de suas distribuidoras no Norte e Nordeste.
- BRF cedeu 7,49 por cento, após decisão da China de impor direito antidumping provisório sobre as importações de carne de frango do Brasil. Analistas veem possível pressão nas margens da companhia, maior exportadora de frango do mundo, e mais um entrave para os negócios globais da empresa.
- JBS subiu 4,14 por cento. O Itaú BBA disse em nota a clientes que o impacto para JBS é mais limitado do que para BRF e pode até ser positivo no médio prazo. Eles citam que a Seara, unidade de frangos e suínos da JBS, representa menos de 15 por cento do Ebitda consolidado da empresa, enquanto a Pilgrim's, subsidiária avícola norte-americana da JBS, pode se beneficiar se a China retomar as importações de frango dos EUA.
- SUZANO PAPEL E CELULOSE desabou 9,54 por cento, em meio ao recuo de mais de 5,5 por cento do dólar, após o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, prometer reforço na atuação no mercado de câmbio nos próximos dias e lembrar os agentes que a autoridade tem outros instrumentos para ampliar a liquidez. FIBRIA caiu 4,63 por cento.
- VALE perdeu 6,4 por cento, no segundo pregão de queda, apesar da alta do preço do minério de ferro, acompanhando a queda de outras exportadoras.
- CSN caiu 5,02 por cento, em dia de queda das ações de siderúrgicas, em meio à queda dos futuros do vergalhão de aço na Bolsa de Xangai e à queda do dólar, enfraquecendo também outras com receita favorecida pela alta da moeda norte-americana, como EMBRAER, que caiu 4,31 por cento.
- SMILES subiu 6,18 por cento, recuperando-se, após perder mais de 20 por cento nos três pregões anteriores, contaminada por preocupações relacionadas à sua controladora GOL, em razão da recente disparada do dólar ante o real.
- B2W subiu 5,8 por cento, após queda nos últimos três pregões, acumulando queda de 17,6 por cento no período, com o setor de consumo experimentando uma trégua, apoiado em sinalizações do presidente do Banco Central de que não irá elevar a taxa de juros para conter a valorização do dólar.