Dólar segue exterior, tem terceira alta seguida e fecha a R$ 3,66

Publicado em 15/05/2018 17:11

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar subiu pela terceira sessão consecutiva e chegou a encostar no patamar de 3,70 reais nesta terça-feira, acompanhando o cenário externo, onde cresceram os temores de que os juros nos Estados Unidos podem subir mais do que o esperado neste ano, o que afetaria o fluxo global de capitais.

O dólar avançou 0,90 por cento, a 3,6608 reais na venda, renovando maior patamar de fechamento desde 7 de abril de 2016, quando terminou a 3,6937 reais. Nestes três pregões, a moeda norte-americana ficou 3,22 por cento mais cara ante o real.

Na máxima dessa sessão, o dólar chegou a 3,6943 reais. O dólar futuro tinha valorização de cerca de 1 por cento no final da tarde.

"Se o euro seguir caindo e o dólar avançando ante a cesta de moedas, mantendo-se acima de 93, o dólar seguirá pressionado aqui também. É um movimento global", afirmou o diretor da consultoria de valores mobiliários Wagner Investimentos, José Faria Júnior.

Nesta sessão, o dólar avançava para a máxima desde dezembro ante uma cesta de moedas, acima de 93, após dados robustos da economia norte-americana e que reforçaram as apostas de que o Federal Reserve, banco central do país, vai elevar os juros mais três vezes este ano. Até então, a expectativa era de apenas mais duas altas.

Mais cedo, os juros futuros dos Estados Unidos precificavam 54 por cento de chances de alta dos juros a 2,25-2,50 por cento no final do ano, ou seja, mais três altas além da já feita neste ano. Atualmente, as taxas estão no intervalo de 1,50-1,75 por cento.

Taxas elevadas têm potencial para atrair para a maior economia do mundo recursos aplicados em outras praças financeiras, como a brasileira.

As vendas no varejo dos EUA subiram 0,3 por cento em abril, em linha com as projeções, mas os dados de março foram melhorados, mostrando expansão de 0,8 por cento, sobre 0,6 por cento antes.

O dólar também exibia alta firme ante moedas de países emergentes e exportadores de commodities, em dia de avanço do rendimento do Treasury de 10 anos para acima do patamar de 3 por cento.

Internamente, a cautela dos investidores também decorreu da cena política, sobretudo após divulgação da pesquisa eleitoral CNT/MDA na véspera e que indicou a preferência por candidatos que os investidores enxergam como menos comprometidos com ajuste fiscal.

O Banco Central vendeu nesta sessão a oferta total de até 5 mil novos swaps cambiais tradicionais, equivalentes à venda futura de dólares.

Também vendeu integralmente a oferta de até 4.225 swaps para rolagem do vencimento de junho. Dessa forma, já rolou 353,750 bilhões de dólares do total de 5,650 bilhões de dólares que vence no próximo mês.

Dólar volta a fugir do Brasil por crescimento baixo e dívida (Folha de S. Paulo)

Outro motivo é a incerteza eleitoral; Bloomberg diz que commodities não servem mais de defesa (por NELSON DE SÁ)

No despacho da agência Associated Press, pelos sites de New York TimesWashington Post e outros, “Real brasileiro continua a sua queda em meio à incerteza eleitoral”.

E no Financial Times, também nesta terça (15), “Liquidação ampla nas moedas de emergentes”, desta vez encabeçada pela lira turca.

A nova “onda de vendas foi exacerbada pelos dados que mostraram que a economia dos Estados Unidos continua a se fortalecer”, explicou o jornal: “Os sinais levaram os investidores a repensar os números fracos do crescimento e o aumento das dívidas em países como Argentina, África do Sul e Brasil.”

Bloomberg acrescenta, em análise pessimista, que nas três últimas semanas “as fortificações tradicionais dos emergentes —os preços das commodities— vêm fracassando em proteger as suas moedas do ataque”.

O mesmo FT publicou novo caderno sobre o Brasil, com seis páginas e anunciantes como HSBC e Humanitas360. No título on-line da reportagem principal, “Preso, Lula detém as cartas chaves da incerteza sobre as eleições brasileiras”.

Noutro texto, sobre Sergio Moro, “Democracia não está em risco, diz juiz cruzado”. Ele “rejeita que o inquérito sobre corrupção possa abrir o caminho para autoritários”, como Jair Bolsonaro —capa do caderno.

No caderno do FT, ‘Economia frágil e criminalidade agitam vozes populistas antes das eleições’

Ninguém se entende sobre o dólar (por VINICIUS TRRES FREIRE)

O preço do dólar pode flutuar, desde que seja para o lado que interessa ao freguês. Parte da indústria e exportadores reclamam de dólar barato, cansou-se de saber. Parte da finança, em geral defensora de câmbio flutuante, está nervosa demais com a corrida do dólar para perto dos R$ 3,70.

É o que a gente pôde ver e ouvir nas últimas semanas de desvalorização do real, com gente meio desesperada por intervenções mais firmes do Banco Central.

Há, claro, o temor sensato de que disparadas do dólar causem acidentes financeiros. Há, porém, também o desgosto de se ver mais pobre em termos de dinheiro que realmente interessa, dólar.

O que a gente ainda não consegue ver são explicações coincidentes sobre o motivo da disparada da moeda americana por aqui. Economistas razoáveis e reputados que lidam com a conjuntura dão explicações disparatadas sobre o que se passa e o que pode se passar até o fim do ano.

Certos estudos indicam que o dólar se mudou para andar mais alto, por um bom tempo, em particular porque a diferença entre taxas de juros americanas e brasileiras caiu (embora viesse caindo fazia tempo, uma "não linearidade" que não parece fácil de explicar).

Outros modelos acabam por soltar números que dão mais peso a variações transitórias na percepção de risco de manter dinheiro no Brasil, em reais. A depender do resultado da eleição, a taxa de câmbio voltaria a um patamar mais comportado já no fim do ano. Nessa linha, estaria havendo um exagero de desvalorização ("overshooting").

A mediana das estimativas do mercado ainda chuta dólar a R$ 3,40 no fim do ano, quase nada de desvalorização real em relação a 2017. Tem ainda bancão acreditando em R$ 3,30.

Todo o mundo concorda com a constatação óbvia de que o Brasil não vive crise externa (dificuldade de financiar gastos e dívidas). Além do mais, é óbvio ainda que há uma valorização mundial do dólar, embora certas moedas apanhem mais, outras menos, devido a fatores nacionais idiossincráticos.

Há fatos um tanto curiosos neste tumulto. Até agora, pelos dados conhecidos e conhecíveis, não há fuga do Brasil nem movimentos nervosos além da conta nas taxas de juros. A Bolsa se segura nos 84 mil pontos, por aí, embora vitaminada pelo preço do petróleo e animações outras com a Petrobras.

Por meios diversos, procura-se mais dólar com o objetivo de proteger aplicações em real (Bolsa, juros), a compensação de perdas ali com ganhos aqui, o que grosso modo se chama "hedge". Esse seria um fator da alta do dólar (ou que realimenta temporariamente, ao menos, a alta do dólar).

De interessante também, nesta onda de desvalorização geral nos emergentes, os preços de commodities que esses países exportam estão em alta ou em bom nível. Também não há muito país com problema ruim em contas externas, como Argentina e Turquia.

Quanto à questão de fundo, não haveria muito o que fazer a não ser suavizar a desvalorização, evitar acidentes em empresas e reparar algum entupimento ou disfunção (ahá!) do mercado.

Caso as taxas de juros americanas continuem subindo, chegando a 3,5% ao ano (para o título de dez anos, ora em 3,1%), o remelexo seria quase universal, se diz, com o dólar aqui passando pelo menos uma temporada no inferninho de R$ 4,00.

Caso, ainda por cima, persista a impressão de que pode ser eleito um programa de governo demente para 2019, melhor esquecer prognósticos razoáveis. (por Vinicius Torres Freire)

WHATSAPP & FAKE NEWS

Em longas reportagens, NYT e Wall Street Journal detalharam o “papel central” alcançado pelo WhatsApp nas eleições regionais encerradas nesta terça na Índia —e também no Brasil e na Indonésia, outros grandes emergentes.

O NYT anota que o aplicativo de mensagens não enfrenta o mesmo escrutínio do Facebook, dono do WhatsApp, “porque é mais usado fora dos EUA”. O WSJ avisa que a quase totalidade das notícias falsas indianas, até 90%, surgem agora na plataforma.

Um representante do Partido do Congresso diz que “o WhatsApp funciona como uma reação nuclear em cadeia”.

DE VOLTA À TRÍPLICE FRONTEIRA

Com relatório da consultoria Asymmetrica, da opositora venezuelana Vanessa Neumann, baseada em Washington, o WSJ publicou que o “Hezbollah estaria lavando dinheiro na tríplice fronteira”.

O partido libanês, vitorioso nas eleições da semana passada mas “considerado terrorista pelos EUA”, voltou a chamar a atenção porque “o governo Trump eleva a pressão sobre Irã” e seus aliados.

Neumann chama a fronteira Brasil-Argentina-Paraguai de “um sub Estado”, com “cartéis de Bolívia, Colômbia, México e Brasil”, “máfias de Coreia e Rússia” e até da China, mais a “grande comunidade libanesa”.

ORDEM DIRETA

"Israelenses matam dezenas em Gaza" foi a manchete do NYT (acima), criticada na Fox News por suposto "viés anti-Israel".

Também o israelense Haaretz (abaixo) optou pela ordem direta, "Forças de Defesa de Israel matam 55 moradores de Gaza durante protesto contra mudança de embaixada antes da Nakba" —ou catástrofe, como os árabes chamam a expulsão de mais de 700 mil palestinos por Israel, há 70 anos.

Nelson de Sá (Na coluna Toda Mídia da FOLHA DE S. PAULO).
Fonte: Reuters/Folha

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