Exclusivo em O Antagonista: Bolsonaro vai impugnar pesquisa do Datafolha

Publicado em 29/01/2018 08:41

Os advogados Gustavo Bebianno e Tiago Ayres, que defendem Jair Bolsonaro, estão recorrendo ao TSE contra a nova pesquisa do Datafolha questionada por O Antagonista na sexta-feira.

Uma das perguntas do Datafolha é: “Você tomou conhecimento sobre denúncias envolvendo o aumento do patrimônio da família do deputado Jair Bolsonaro desde o início da sua carreira política?”

Segundo Bebianno, “não houve denúncia”. “Quando provocado para apurar o tema, o Ministério Público constatou que não havia irregularidade.”

“Normalmente, é difícil atacar o mérito de uma pesquisa, mas o Datafolha parte de uma premissa falsa para induzir o eleitor.”

A pesquisa inclui Lula em cinco diferentes cenários eleitorais.

Veja o que publicamos a respeito:

O Datafolha registrou ontem, no TSE, uma pesquisa a ser divulgada na próxima quarta-feira. A informação está no site do tribunal.

O instituto traça diversos cenários com Lula na disputa do primeiro e segundo turnos, o que é só um exercício de imaginação, uma vez que o condenado em segunda instância não poderá ser candidato.

Não há cenário de segundo turno com Luciano Huck ou João Doria, no mínimo perda de oportunidade para verificar a viabilidade de nomes que podem estar no páreo. Mas Ciro Gomes está num dos cenários (concorrendo com Geraldo Alckmin).

O Datafolha não coloca mais Sergio Moro como possível candidato, mas o põe ao lado de FHC, Lula e Temer, para perguntar se o eleitor votaria num candidato apoiado pelo juiz — como se Moro fosse político.

No final do questionário, o Datafolha pergunta se o cidadão acha ou não que a Justiça foi muito rápida para julgar Lula e se a decisão de condená-lo a 12 anos de prisão foi justa ou injusta. É curioso que o Datafolha agregue esse tipo de questão a uma pesquisa eleitoral.

O instituto também indaga se Lula deveria ou não ser impedido de disputar a eleição — como se tratasse de uma questão de opinião.

As última perguntas são:

“Você tomou conhecimento sobre denúncias envolvendo o aumento do patrimônio da família do deputado Jair Bolsonaro desde o início da sua carreira política?”

“Você diria que está bem informado, mais ou menos informado ou mal informado sobre esse assunto?”

Bolsonaro é um capítulo bem à parte na pesquisa.

Exclusivo: a impugnação do Datafolha

O Antagonista obteve em primeira mão a íntegra da representação apresentada por Jair Bolsonaro ao TSE para impugnar a próxima pesquisa do Datafolha.

Na ação, os advogados do pré-candidato alegam “questionamentos tendenciosos com nítido objetivo de manipular” os eleitores em “benefício de uma determinada candidatura”.

Eles dizem que algumas perguntas constituem “escrutínio das ações do Poder Judiciário em relação ao ex-presidente Lula”. O que seria uma abordam, no mínimo, “pouco ortodoxa”.

Na peça, os advogados Tiago Ayres e Gustavo Bebianno afirmam que os questionamentos sobre Bolsonaro induzem o eleitor a acreditar que o deputado foi “denunciado por enriquecimento ilícito, de forma manifestamente difamatória”.

“O contexto do documento não permite interpretação inocente.”

Confira a íntegra aqui.

Veja como o Datafolha trata Lula melhor do que os demais políticos

Na mesma pesquisa Datafolha a ser divulgada na próxima quarta-feira, há outras duas perguntas muito interessantes sobre Lula:

“Na sua opinião, o ex-presidente Lula:

1 sabia da corrupção em seu governo e deixou que ela ocorresse;
2 sabia da corrupção mas não poderia fazer nada para evitá-la;
3 ele não sabia da corrupção em seu governo?
4 Não sabe”

Vejam que não há a opção mais condizente com a realidade — ou seja,  “O ex-presidente Lula sabia da corrupção em seu governo e usufruiu dela”

A segunda pergunta interessante:

“Pensando nos casos de corrupção envolvendo políticos brasileiros, na sua opinião, a Justiça brasileira trata o ex-presidente Lula da mesma maneira que os demais políticos, trata Lula melhor do que os demais políticos ou trata Lula pior do que os demais políticos?”

Em nenhum momento, o eleitor pesquisado é informado de que Lula não goza de foro privilegiado como a esmagadora maioria dos políticos implicados na Lava Jato — e, por isso, foi condenado rapidamente.

Nossa conclusão é de que o Datafolha trata melhor Lula do que os demais políticos.

O número é…

Em outubro, segundo o Datafolha, 54% dos brasileiros queriam ver Lula na cadeia.

Será curioso observar como esse dado será ajustado na quarta-feira, quando o Datafolha divulgar mais uma pesquisa sobre o assunto.

Quem vai herdar os votos de Lula?

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não irá disputar a eleição presidencial em 2018 a menos que consiga reverter em tribunais superiores sua inegibilidade decorrente da condenação pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), a segunda instância da Lava Jato. A possibilidade de uma eleição sem o petista levanta uma grande dúvida: quem irá herdar os 53 milhões de votos que hoje seriam de Lula?

A dinâmica da política impede uma resposta definitiva para a questão. Contudo, a última pesquisa eleitoral do Instituto Datafolha, divulgada em dezembro do ano passado e que confere 36% das intenções de voto ao petista, e a análise de especialistas dão algumas pistas do que pode ocorrer.

Se Lula desistir da candidatura, num primeiro momento a tendência é de que sejam beneficiados os candidatos de outros partidos de esquerda, mais conhecidos que o possível substituto de Lula no PT. Mas, durante a campanha eleitoral, a partir do momento em que o ex-presidente começar a pedir votos para o petista que irá substituí-lo, esse candidato tende a subir.

Veja a notícia na íntegra no site da Gazeta do Povo

Com Lula quase fora, saiba quem se beneficia do vácuo deixado pelo petista

Exceto se houver uma reviravolta estrambótica e imprevisível, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não terá como chegar ao dia 7 de outubro como candidato do PT ao Palácio do Planalto. O TSE deve negar o registro para Lula por causa de sua condenação na Lava Jato.

O PT tem sustentado em público que Lula é candidato. É só aparência. O PT não tem opções. Luta pela vida. Tem de dizer até quando for possível que Lula está na disputa. A retórica manterá as coisas andando. Lá na frente, a sigla escolherá outro nome.

Num discurso na 5ª feira, o petista falou de maneira oblíqua sobre sua saída do páreo. Pediu aos militantes que façam campanha por ele “mesmo que aconteça algo indesejável”. E completou: “Espero que essa campanha não dependa do Lula”.

QUEM GANHA E QUEM PERDE

A história indica que poucos políticos conseguem transferir votos para 1 terceiro. Lula já teve êxito nesse tipo de empreitada. Elegeu Dilma Rousseff em 2010. Mas a economia naquele ano cresceu 7,5% e o petista era aprovado por mais de 80% dos brasileiros. A conjuntura agora é outra.

É cedo para saber o desfecho da corrida presidencial, embora os parâmetros atuais indiquem algumas pistas. Antes, vale a pena relembrar a pesquisa DataPoder360 de dezembro de 2017:

A seguir, o que é possível dizer da fotografia atual do cenário sucessório:

Lula e PT – perdem muito. As reações populares não se materializaram. As centrais de trabalhadores movidas a imposto sindical estarão banguelas em 2018. É improvável haver atos nas ruas com grandes massas pedindo a liberdade para Lula. Ícones do partido já foram presos, como José Genoino e José Dirceu. A impressão inicial era a de que haveria uma certa comoção. Mas nada significativo aconteceu nada.

Jair Bolsonaro – o senso comum propagado na mídia foi que o capitão reformado do Exército perde porque fica sem o seu antípoda (“sem Lula o discurso de Bolsonaro se esvazia”). O Poder360 discorda dessa avaliação. Até porque Lula estará se apresentando como candidato ainda por muitos meses.
O fato é que deputado e possível candidato a presidente pelo minúsculo PSL continua sendo o único a surfar na onda conservadora que assola o país. Isso não significa que será o vencedor, mas neste momento pouco muda para Bolsonaro –que tem inúmeras reuniões marcadas em fevereiro e março com grandes empresários que não enxergam (pelo menos ainda) viabilidade no tucano Geraldo Alckmin.

Marina Silva – a ex-senadora não deve ser desprezada. Seu perfil humilde e de representante dos menos favorecidos a qualifica para herdar parte dos votos de Lula. Ela já foi candidata a presidente duas vezes (2010 e 2014) e teve perto de 20% dos votos. Se ampliar seu arco de alianças tem muito a ganhar com a saída de Lula. Mas Marina Silva tem 1 temperamento peculiar e não conseguiu romper algumas barreiras nas disputas anteriores –como, por exemplo, atrair a confiança total do establishment.

Ciro Gomes – sempre citado como herdeiro dos votos da esquerda, o político cearense é o que tem a verve mais afiada entre todos os postulantes ao Planalto (excluído Lula). O Poder360 acha, entretanto, que Ciro resiste a ampliar seu discurso para além da esquerda. Lula só se viabilizou dessa forma, em 2002, quando acenou de maneira substantiva para o centro. Não há sinais de que Ciro pretenda fazer essa transmutação. Com a estratégia atual, pode acabar exatamente onde está: na faixa dos 5% a 10% dos votos.

Geraldo Alckmin – segue como o único nome do, vamos dizer, “centro moderado”. Com Lula fora, a situação do tucano deixa de ser tão desesperadora como a atual. Tome-se a Bahia, por exemplo. Ninguém do DEM (partido do prefeito de Salvador, ACM Neto) queria ver Alckmin nem pintado de ouro. Lula tem mais de 50% de intenção de voto em todos os Estados do Nordeste. Agora, o jogo fica mais equilibrado. O tucano ainda precisa melhorar sua avaliação em São Paulo. Pretende inaugurar obras a granel até o fim de março –inclusive (e finalmente) algumas estações de metrô. O Poder360 acha que Alckmin estará viabilizado se entrar em abril com mais de 10% de intenção de voto para presidente, o que é plausível.
O que pode dar errado para o PSDB? Duas coisas, ambas intangíveis neste momento. Primeiro, a Lava Jato acabar avançando por terras paulistas e comprometer Alckmin. Segundo, o atual governador de São Paulo e sua notória falta de carisma ficarem empacados na redondeza dos 5% a 7% até a metade do ano. Nessa hipótese, ou o PSDB arruma outro candidato ou Alckmin será “cristianizado”.
[bônus sobre jargão político: na eleição presidencial de 1950, Cristiano Machado (1893-1953) foi o candidato do antigo PSD. Todos o abandonaram no meio da campanha. A partir daí, quando 1 partido descarta seu próprio candidato virou costume dizer que o político foi “cristianizado”].

“Outsider” – o possível “nome de fora” fica na mesma sem Lula. O problema de Luciano Huck, Joaquim Barbosa ou outros interessados é achar uma legenda disposta a: 1) tratá-los como reis; 2) costurar todas as alianças com os demais partidos para que a campanha tenha dinheiro e tempo de TV; 3) resolver todos os problemas de chapas regionais nas disputas para governador em 26 Estados e no Distrito Federal. Por fim, esse partido (nesse caso, seria quase uma instituição benemerente) teria de aceitar que Huck, Barbosa ou seja quem for recusasse todas as indicações políticas num eventual governo. Tudo considerado, como se vê, essa saída é mais difícil do que Michel Temer aprovar a reforma da Previdência (que já está morta neste momento).

Os quase “outsiders” – Rodrigo Maia (DEM), Henrique Meirelles (PSD) e outros pontuam 1% ou 2%. Em nenhuma campanha presidencial na atual fase democrática do Brasil algum candidatou entrou em fevereiro com essa pontuação e acabou vencedor. Em política, como se sabe, tudo pode. Mas a vida de Maia, Meirelles e demais não vai ser fácil.

João Doria – o prefeito de São Paulo tem 1 dilema pela frente. O que ele gostaria mesmo é de ser candidato a presidente. Mas essa vaga acabou sendo preenchida pelo seu colega de PSDB, Geraldo Alckmin. Resta a candidatura a governador de São Paulo. Só que esse é 1 desafio também difícil. O quadro só estará claro lá para junho ou julho, no mínimo. Problemaço para Doria: ele precisa se desincompatibilizar até 7 de abril para ficar em condições de ser candidato a outro cargo em outubro.
Há também uma outra guerra interna no PSDB. Alckmin já percebeu que Doria, na primeira curva, pode voltar a querer ser candidato a presidente. Por essa razão o governador de São Paulo fará o possível para dificultar a caminhada do prefeito. A eleição prévia entre os tucanos para escolher o nome do partido para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes deve ser marcada –a mando de Alckmin– apenas em meados de abril ou maio. Doria prefere que seja em março, pois assim teria certeza de que pode deixar a cadeira atual tendo assegurado o apoio do partido. A simples definição dessa data será reveladora sobre o rumo do PSDB (e de Doria).

 

Veja como o Datafolha trata Lula melhor do que os demais políticos

 

Fonte: O Antagonista/Gazeta/Poder 360

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