CARLOS VEREZA: Réquiem para um impostor (na Folha de S. Paulo)

Publicado em 23/01/2018 15:11
O comunismo não acabou; mudou-se para o Brasil...

Seja qual for o resultado do julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre, o Brasil jamais será o mesmo.

O condenado a nove anos e meio pelo juiz Sergio Moro mobilizou todo um séquito de fiéis vassalos, dispostos, com o aval da alma mais honesta deste país, ao enfrentamento e desafio às leis que o julgarão.

Parlamentares não se ruborizam ao incitar os seguidores da seita à coação e mesmo à violência física contra os que apenas exercem um dever avalizado em nossa Constituição.

Lula paira acima do mais comum dos mortais; determina, como um déspota que sempre foi, que a lei deve curvar-se a ele, e não o contrário.

A irracionalidade faz tábula rasa de incontáveis depoimentos de antigos comparsas, que pedem provas, como se o "simples fato" de Lula e Marisa terem declarado, durante seis anos, ao Imposto de Renda o tríplex de Guarujá não passasse de uma articulada conspiração da "direita fascista".

Do macacão matreiramente maquiado de graxa ao alfaiate de grife Ricardo Almeida, o humilde operário, antes sofrido morador de uma residência de 40 m2, como relata o jurista Hélio Bicudo, um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, deu o chamado salto de qualidade —e ponha qualidade.

Com inegável carisma, Lula soube catalisar como ninguém a carência histórica de nosso povo por um "pai dos pobres". Diante da ausência de consciência politica da maioria da população, ele a tornou refém do mais deslavado assistencialismo, contando com o apoio de intelectuais saudosos de uma falida ideologia "de esquerda" e de aplicados setores da igreja partidários da enigmática Teologia da Libertação.

Lamentavelmente, Lula poderia ter sido o maior líder popular, não só da história do país, mas de toda a América Latina, se não tivesse pretendido impor à nação um projeto indefinido de poder, utilizando para essa finalidade o aparelhamento partidário-ideológico da sociedade, esgarçando, estrategicamente, os limites que caracterizam uma democracia. 

Evidentemente, Lula não inventou a corrupção, mas aperfeiçoou-a a níveis inimagináveis, usando-a como adestramento e cooptação de não tão renitentes adversários em praticamente todas as áreas de poder do país.

Mas, como imaginam as bem intencionadas Pollyanas de plantão, o comunismo não acabou com a queda do Muro de Berlim, apenas mudou o idioma e corte de cabelo e veio lançar seu alto poder de sedução à América Latina.

Para esse intento, Lula, com a cumplicidade de Fidel Castro (1926-2016) e de Hugo Chávez (1954-2013), criou o Foro de São Paulo em 1990, com o objetivo de debater a nova conjuntura pós-queda do Muro de Berlim. "Debater", leia-se, a articulação para dominar primeiro o maior e mais influente país da região, e a posterior subjugação de toda a América Latina.

Não era mais a tomada do poder pela luta armada; ressuscitaram Antonio Gramsci (1891-1937), uma pitada de fabianismo, a solerte infiltração nas universidades, com a escola com partido, e a consequente doutrinação do marxismo cultural, idiotizando e alienando setores expressivos de nossa juventude.

Mas os míopes seguidores de Lula esbravejam que Brahma —um de seus codinomes revelados nas incontáveis delações premiadas— realizou, como nunca dantes na história deste país, a inclusão social!

Como assim? Deixando um deficit de 13 milhões de desempregados, mais de 60 milhões de inadimplentes, milhares de postos de trabalho fechados, brutal aumento das dívidas interna e externa. Fatos! Mas sem "consistência" para seus hipnotizados aduladores!

Enfim, não é apenas Lula que estará sendo julgado, mas todo o seu "legado" que se tornará de difícil recuperação; não só a quebradeira econômica de seus governos e da "administração" de sua dileta afilhada, a inesquecível Dilma Rousseff, mas o resgate ético e moral de uma nação apática e humilhada.

CARLOS VEREZA, 77, é ator, diretor e autor de peças de teatro, com mais de 50 trabalhos desde o início da carreira, em 1959

Na Gazeta do Povo: O fim das incertezas, por Ives Gandra

O julgamento do recurso interposto pelo advogado de Lula contra a decisão do juiz Sergio Moro que condenou o ex-primeiro mandatário da nação está suscitando variada gama de objeções e de indagações sobre a independência dos poderes, os fundamentos da democracia e se há algo que justifique pressões políticas sobre os julgadores do TRF da 4.ª Região.

Minha primeira consideração é de que, pelo regime democrático, a independência dos poderes deve ser respeitada; qualquer pressão de movimentos que costumeiramente violam a lei com invasões de terra e depredações de prédios públicos e privados é antidemocrática e segue caminhos próprios de quem deseja impor sua vontade pela violência, e não pela vitória nas urnas ou aprovação em concurso público.

Leia a íntegra do artigo no site da Gazeta do Povo.

"Condenar Lula é essencial para a democracia", por Roberto Rachwesky

publicado pelo Instituto Liberal

“Defender Lula é defender a democracia”, dizia o cartaz carregado pelos cúmplices do réu. Julgar e condenar Lula é defender a Justiça.

Os petistas insistem nessa tecla. É claro que numa democracia o direito de defesa é inalienável. Considerando democracia como sinônimo de um sistema de governo regido por leis onde as pessoas têm direito ao voto, onde aqueles que foram por elas eleitos ao praticarem crimes são denunciados e julgados pelo judiciário. Ninguém mais do que o Lula usou e abusou desse direito. Tanto é que mesmo condenado por vários crimes, ainda está solto.

O que os petistas fingem desconhecer é que para alguém se defender de algo, é preciso ter sido denunciado por um crime. Para existir tal denúncia, e isso acabar ainda em condenação, é porque antes da denúncia, ocorreu um crime praticado por quem está se defendendo.

Ora, justiça é exatamente isso: alguém acusa, o acusado se defende e o juiz julga. É isso exatamente que aconteceu no caso do Lula.

Mas quem defende o acusado, como é o caso do Lula, não são seus cúmplices, é um advogado. Que até pode ter sido cúmplice desde que isso não tenha sido provado.

Eu concordo que defender Lula é defender a democracia, nesse sentido. Mas eu também concordo que o Marcelo Odebrecht, o Eduardo Cunha, o Sérgio Cabral, o Marcola, o Fernandinho Beira-Mar, e até os nazistas julgados em Nuremberg, merecem ou mereciam ser defendidos perante a justiça. E tenho a convicção de que todos eles deveriam ser condenados até no último grau.

Condenar Lula é mais essencial para a democracia a essa altura do processo do que sua defesa que já foi exercida além do que seria razoável.

Com a condenação confirmada ou absolvido, o tempo corre contra Lula (por IGOR GIELOW, na Folha de S. Paulo)

Passado o Carnaval antecipado pelos extremos lulista e antilulista para esta quarta (24) em Porto Alegre, mais um sinal inequívoco da miséria civilizacional do Brasil, será hora de recolher os cacos desse propalado Dia D de Luiz Inácio Lula da Silva.

Para começar, não se trata de um Dia D, o que soa como heresia histórica à memória das praias normandas. Lula é um personagem absurdamente menor, moralmente, do que o presidente que saiu aplaudido de seu segundo mandato -que seu encolhimento seja decorrente de práticas e enganações patrocinadas por ele no cargo não está desculpado nessa avaliação.

É um político popularíssimo, dono de um terço do eleitorado por meio de decantados fatores. É personagem central do processo eleitoral. Mas também alguém condenado em primeira instância, réu em outras cinco ações e investigado em três casos. Isso para não falar da economia delegada ao duo Guido/Dilma, do mensalão e do petrolão, todas faltas de primeira grandeza.

Sintoma disso é que não se viu, até aqui, nada parecido com uma mobilização popular de relevo em favor do petista. Haverá sempre um sem-teto ou um sem-terra credenciados para tal, já que sindicalistas perderam musculatura sem a mordida do imposto que lhes foi tirada, mas daí a vermos o "povo na rua" há uma boa distância. Não confunda isso com o barulho desta quarta, que tende a ser pontual.

Para a sorte de quem carrega a chama de Lula, seus adversários são toscos quantos seus apoiadores em práticas e na difusão de cacofonia pelo pântano das redes sociais. O ex-presidente pôde, com uma generosa mão do atoleiro ético que colheu o condomínio centrista sob Temer, viver um renascimento em pesquisas de opinião. Talvez canto do cisne, mas ainda assim.

Como ironizou o escritor norte-americano John Steinbeck em 1957, talvez não seja o poder que corrompa, mas o medo de perdê-lo. Daí o alarido inconsequente do "eleição sem Lula é fraude", "é golpe" e outras desonestidades intelectuais pespegadas não só pelos brucutus habituais, mas por gente que se diz, bem, "intelectual".

Se o senso comum insinua que uma improvável absolvição acabaria com o embuste, esqueça. Viraria, como tudo no teatro lulista, mais um slogan para o palco sem fim no qual o petista se encontra desde o fim dos anos 1970. Isso não é, ressalve-se, uma avaliação jurídica —isso é trabalho para os desembargadores.

Com a condenação confirmada ou não, contudo, o tempo continua a correr contra Lula. Como um vampiro vislumbrando os primeiros raios da manhã, ele precisa esticar a confusão a seu redor até encontrar abrigo e evitar a claridade que pode evidenciar sua natureza. Parece tarde, e o potencial disruptivo de sua insistência será conhecido ao longo deste ano.

Quem nasce para Lula nunca chega a Sócrates.. (por Rodrigo Constantino)

Entre as várias características que dividem os revolucionários dos conservadores está o grau de respeito conferido às leis e aos costumes estabelecidos na sociedade. O espírito revolucionário costuma ser mais rebelde, autocentrado, subjetivo e, portanto, não demonstra muito apreço pelas regras vigentes. Já o espírito conservador tende a ser mais sereno, realista, resignado. O primeiro quer “transformar o mundo” à sua imagem e semelhança, o segundo prefere aceitar o mundo como ele é, sem grandes pretensões de criar um novo do zero.

Quando o assunto são as leis que vigoram na sociedade, assumindo, naturalmente, não se tratar de uma tirania arbitrária como a Venezuela, os revolucionários vão agir de forma mais desrespeitosa, pois as leis podem ser consideradas “injustas” ou “inadequadas” e, afinal, seu processo de formulação não é tão diferente da fabricação de salsichas. Já o conservador vai reclamar das leis que julga incorretas, mas vai acatá-las e tentar mudá-las gradualmente, dentro do próprio processo legal.

A frase do revolucionário Thomas Jefferson, que chegou a se empolgar com a Revolução Francesa, ilustra bem o espírito rebelde e libertário: “Se uma lei é injusta, um homem está não apenas certo em desobedecê-la, ele é obrigado a fazê-lo”. Resta definir, claro, o que será considerado injusto, como, e por quem. E eis o perigo revolucionário: cada um terá seu próprio conceito de justiça, e poderá usar essa máxima para simplesmente viver à margem da sociedade, ignorando todas as leis que desgostar. Alguns podem até transformar traficantes em heróis!

Já o espírito conservador não encontra melhor exemplo do que em Sócrates. O filósofo foi acusado de “corromper as crenças da juventude”, foi julgado, e acabou sendo condenado, apesar de apresentar sua defesa calcada em argumentos sólidos. Ainda assim decidiu acatar a decisão, que considerou injusta. Quando seu amigo se ofereceu para ajudá-lo numa fuga, Sócrates rejeitou o plano, preferindo enfrentar a punição com dignidade. Fugir seria negar todas as vantagens que Atenas lhe ofereceu em vida. Tomou a cicuta, morreu para salvar o “império das leis”.

Montaigne comenta sobre o caso em seus Ensaios, no capítulo sobre a importância dos costumes e de não se mudar facilmente uma lei aceita:

Contudo essas considerações não impedem um homem de discernimento de seguir o estilo geral: antes ao contrário, parece-me que todas as maneiras insólitas e individualistas provêm mais de loucura ou de afetação pretensiosa que de razão verdadeira; e que o sábio deve, no íntimo, afastar sua alma da multidão e mantê-la com liberdade e poder para julgar livremente sobre as coisas; mas, quanto ao exterior, que ele deve seguir inteiramente as modas e comportamentos aceitos. A sociedade pública nada tem a ver com nossos pensamentos; mas o restante, como nossas ações, nosso trabalho, nossas fortunas e nossa vida própria, é preciso emprestá-lo e entregá-lo a seu serviço e às ideias comuns, como aquele bom e grande Sócrates recusou-se a salvar a vida pela desobediência ao magistrado, mesmo um magistrado muito injusto e muito iníquo. Pois é a regra das regras, e a lei geral das leis, que cada qual observe as do lugar em que está: “Devemos obedecer às leis de nosso país”.

Montaigne tinha tanto apreço por tal postura conservadora que chegou a mencionar a ideia inusitada do legislador dos turienses, Carondas, de que toda pessoa que desejasse abolir uma das velhas leis ou estabelecer uma nova se apresentasse ao povo com a corda no pescoço, para que, se a novidade não fosse aprovada por todos, ele fosse enforcado incontinenti. Ou seja, o ônus da prova estaria no reformista, no revolucionário, exigindo-se cautela e prudência a quem deseja “remodelar a sociedade”.

Tudo isso nos traz ao caso da narrativa petista, que tenta transformar Lula numa vítima de uma elite golpista que controla um judiciário corrupto. A mentalidade revolucionária permite esse tipo de tática, mesmo quando fica evidente que se trata de pura falsidade, de uma estratégia canalha de gente canalha. Mas a ideia revolucionária de que não devemos seguir as leis “injustas” serve aos interesses dos marginais nesse caso, como em tantos outros. Em seu editorial de hoje, a Gazeta toca no ponto, concluindo:

A reação diante de decisões judiciais das quais se discorda é uma boa medida do respeito que pessoas e instituições têm pela Constituição e pelo Estado Democrático de Direito. A julgar pelo que se tem dito até agora, o PT, infelizmente, não parece apto a passar no teste. Só nos resta esperar, caso a condenação de Lula seja confirmada, por um lampejo de lucidez em Porto Alegre na quarta-feira.

Existem várias leis que eu detesto, no Brasil e mesmo aqui nos Estados Unidos. Há leis que julgo absurdas até. Mas tenho orgulho de dizer que sou um “law-abiding citizen”, ou seja, um cidadão cumpridor das leis, que sequer tem uma multa de trânsito. É claro que existem gradações. É claro que podemos pensar em casos de reductio ad absurdum, como uma lei que obrigue todos a parar de respirar, ou a entregar judeus para nazistas. Nesses casos extremos parece evidente que a única alternativa é aquela recomendada por Jefferson.

Mas o conservador vai “pecar” por excesso de cautela, e se viver num país minimamente democrático e republicano, certamente vai valorizar o “império das leis”, mesmo quando não apreciar uma ou outra. Ele consegue enxergar a floresta, não somente as árvores. Já os revolucionários vão olhar as árvores, vão pular de galho em galho de acordo com seus interesses momentâneos, com suas crenças subjetivas. E é por isso que a esquerda revolucionária e até alguns libertários defendem tantos marginais.

Sócrates, acusado injustamente, aceitou com dignidade o resultado e a severa punição de morte, sem desejar somente salvar a própria pele. Lula, condenado com provas, bandido chefe de quadrilha, procura agitar as massas manipuladas para intimidar os juízes, insinuar que Sergio Moro atende aos comandos da “elite golpista” ou da CIA, bancar a vítima e criar um clima de anarquia e caos social. Quem nasce para lagartixa nunca chega a jacaré. E quem nasce para Lula nunca chega a Sócrates…

Rodrigo Constantino

 

 

Fonte: Gazeta do Povo

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