Presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos pede demissão. Paulo Rabello de Castro vai assumir

Publicado em 26/05/2017 18:10

RIO DE JANEIRO (Reuters) - A presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Maria Silvia Bastos Marques, informou pessoalmente sua renúncia do cargo ao presidente Michel Temer nesta sexta-feira, alegando motivos pessoais.

Em breve comunicado à imprensa, o banco afirmou que o diretor Ricardo Ramos, do quadro de carreira do BNDES, vai assumir interinamente a presidência da instituição.

No início do mês, descartando rumores de que sofria pressão para deixar a presidência do BNDES, Maria Silvia afirmou que "não faltava" a ela "apoio do presidente Michel Temer".

A saída da executiva do banco de fomento também ocorreu poucos dias depois de o BNDES ter criado uma comissão interna para avaliar operações com a gigante de alimentos JBS .

A comissão foi anunciada por Maria Silvia após a deflagração de operação da Polícia Federal encarregada de investigar fraudes e irregularidades na liberação de 8 bilhões de reais em recursos do BNDES para a JBS antes da executiva assumir a presidência da instituição.

Maria Silvia tomou posse como presidente do BNDES em 1º de junho do ano passado e desde então vinha promovendo uma série de revisões nas políticas de concessão de financiamentos do banco.

Presidente do IBGE, Paulo Rabello de Castro vai assumir o BNDES

O presidente Michel Temer escolheu o economista Paulo Rabello de Castro, que estava a frente do IBGE, para assumir o comando do BNDES. Rabello vai substituir Maria Sílvia que entregou o cargo na tarde de hoje. Ontem Rabello se reuniu com Temer em agenda oficial no Palácio do Planalto.  A decisão dela de deixar o Banco por motivos pessoais pegou o presidente Michel Temer de surpresa. Ela veio pessoalmente conversar com Michel Temer.

Em março, O ESTADO DE S. PAULO revelou que empresários se reuniram em São Paulo para criticar Maria Silvia para Temer. Foi dito que sob a gestão da executiva o banco está inoperante, fechado para tudo e para todos. “É um time que não conhece a máquina. Só anda lá o Bê-a-Bá”, resumiu um empresário. Segundo o relato de um dos presentes, Temer disse que já havia recebido reclamações e que, diante da contundência das queixas, vai chamar a executiva para resolver as pendências.

Após o jantar com o presidente, um empresário comentou que a única forma de “resolver pendências” é trocar a presidente do BNDES. À época eram duas as queixas: 1) pedidos de financiamento vultosos e 2) a executiva não recebe empresários. Temer ouviu o relato de que um grande industrial tenta há quatro meses falar com Maria Silvia. Foi orientado a procurar três diretores antes. Um deles agendou o encontro para um mês depois.

Nos últimos dias a informação de bastidores era que Moreira Franco (Secretaria-Geral) buscava um nome para substitui-la no mercado. E isso a teria irritado.

Na noite de quarta-feira, 24, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), fez a leitura do requerimento para a instalação da CPI do BNDES. O banco será investigado por senadores.

Saída de Maria Silvia é um desastre para Temer, por JOSIAS DE SOUZA (UOL)

Envolto há dez dias na mais grave crise do seu governo, Michel Temer rumava para o final de semana aliviado. Ele soou otimista em vídeo jogado nas redes sociais na noite de quinta-feira. Discutiu com auxiliares na manhã desta sexta os “anúncios importantes” que fará nos próximos dias. Em privado, dizia ter “recuperado o fôlego”. De repente, caiu-lhe sobre a cabeça carta de demissão da presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos —um desastre que devolveu Temer à realidade.

A logomarca do BNDES apareceu num dos trechos da gravação do diálogo do delator Joesley Batista com Temer. Nele, o dono da JBS expôs o que o presidente definiria depois como “reclamações contra o ministro da Fazenda, contra o Cade, contra o BNDES.” As queixas do empresário são uma “prova cabal de que meu governo não estava aberto a ele”, disse Temer há uma semana, evocando a atuação de Maria Silvia e de Pedro Parente, presidente da Petrobras, como evidências da seriedade de sua gestão.

O problema é que, se o trecho do áudio mencionado na autodefesa de Temer provou alguma coisa foi que um empresário corrupto, depois de se defrontar com a resistência de servidores como a presidente do BNDES, decidira cobrar do presidente da República a solidariedade de que se julgava credor. E foi correspondido.

Na gravação que fundamentou a abertura de inquérito contra Temer no STF, Joesley pediu ao presidente um “alinhamento” de posições que lhe permitisse ser mais direto nas cobranças para que o ministro Henrique Meirelles, seu interlocutor, fosse sensível aos seus pedidos. E Temer: “Pode fazer isso.”

Em depoimento à Procuradoria da República, Joesley declarou que Temer interveio pessoalmente a favor de sua empresa junto ao BNDES. “Eu tive informações que ele intercedeu no BNDES tentando me ajudar”, disse o delator aos procuradores. “Depois ele me confirmou e disse que esteve no Rio falando com a presidente” do banco. O esforço resultou “infrutífero”.

Maria Silvia tornara-se uma pedra no sapato dos chamados “campeões nacionais”. Ela irritara gente como o delator Joesley Batista, que havia se acostumado a aproveitar as facilidades da era petista para azeitar com dinheiro fácil e barato do BNDES a expansão internacional do seu conglomerado. Súbito, o cofre se fechou. Sob nova administração, o bancão oficial passou a ser mais criterioso na análise de suas operações de crédito.

Sobreveio a pressão para que o BNDES parasse de torcer o nariz dos grandes “empreendedores”. Os ataques a Maria Silvia não vinham apenas dos escritórios assentados nas avenidas Paulista, Faria Lima e Berrini. Um de seus críticos vira a maçaneta do gabinete presidencial na hora que quer e desfruta de acesso irrestrito aos ouvidos de Temer: o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência).

Equilibrando-se em meio ao entrechoque de forças antagônigas, Temer sempre pareceu mais dúbio do que Maria Silvia gostaria. Ela entregou os pontos. “Razões pessoais”, alegou. Na semana em que Temer imaginava ter recuperado o fôlego, a água continua na altura do nariz.

Fonte: Reuters

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