Uma semana depois, especialistas analisam o efeito Trump no agronegócio

Publicado em 17/11/2016 09:13

Uma semana após a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, o site Agrimoney consultou especialistas do setor agrícola para discutir os possíveis rumos desde cenário.

O efeito imediato da eleição, até então, fez com que os preços subissem, com o preço do ouro bastante elevado e o dólar chegando a seu patamar mais alto em treze anos.

Os rendimentos dos títulos também subiram, em torno das expectativas de que as políticas econômicas de Trump alimentariam a inflação.

No entanto, este efeito não foi tão negativo como era o esperado. Acerca disso, os especialistas convidados pelo site comentaram suas opiniões sobre o real impacto que a eleição de Trump deve ter para o setor.

François Thaury, diretor de soft commodities, Agritel:

Considerando que 75% dos agricultores dos Estados Unidos apoiaram Trump, há expectativas de um movimento positivo para a agricultura do país. Sua política de menores impostos para a agricultura familiar foi bem-vinda.

Entretanto, sua política em relação à imigração ilegal pode ser negativa, uma vez que estes imigrantes representam boa parte dos trabalhadores do campo, especialmente na época da colheita.

Trump falou muito sobre acordos comerciais durante a campanha, mas ainda é preciso aguardar para ver o que de fato será realizado. A China é uma grande compradora de soja dos Estados Unidos, logo, supõe-se que a relação dos dois países deve continuar estável.

Paul Georgy, executivo-chefe, Allendale:

O dólar mais alto pressiona agora as exportações de soja dos Estados Unidos e, por sua vez, também traz mudanças de patamares para as exportações brasileiras e argentinas.

As exportações americanas se tornarão caras. Este ano, teremos grandes safras de trigo, milho e soja, que serão afetadas.

A disputa entre a Agência de Proteção Ambiental e a regra WOTUS (Waters Of The USA - Águas dos Estados Unidos, em português) - que define quais córregos, rios, lagoas, zonas úmidas, valas e cursos de água estão sujeitos aos regulamentos do Clean Water Act (em português, Lei da Água Limpa) - será preocupante para o setor agrícola.

Muitas das preocupações a respeito das guerras comerciais são apenas pura especulação por agora. Há um consenso de que haverá diferença entre o discurso eleitoral de Trump e a realidade.

Wandile Sihlobo, chefe de inteligência econômica e de agronegócio da Agbiz, com sede na África do Sul:

Com a reação a curto prazo do mercado, a vitória de Trump levou a um enfraquecimento da moeda sul-africana, o rand, em relação ao dólar americano, o que poderia trazer ganhos para os mercados de commodities agrícolas.

Mas um rand mais fraco aumenta os custos dos insumos, devido ao fato de que a África do Sul importa cerca de 80% do seu consumo anual de fertilizantes e 95% de agroquímicos. O fertilizante representa 35% do custo de produção de grãos.

Infelizmente, a África do Sul deverá ser, majoritariamente, importadora de grãos na safra 2016/17, já que há pouca oferta interna devido a uma recente seca.

Um rand mais fraco não ajuda muito, porque não podemos vender grandes volumes de grãos para o mundo.

A longo prazo, as opiniões comerciais de Trump são um pouco preocupantes. Ele não disse muito sobre a Lei de Crescimento da Oportunidade Africana ou sobre a África em si nos seus discursos - o que traz uma esperança de que ele não deve se concentrar no continente.

Carsten Fritsch, analista do Commerzbank:

O dólar mais alto terá impacto nas colheitas contabilizadas em dólares.

A mais recente queda acentuada do real dá aos produtores brasileiros um incentivo para vender a soja que ainda restava nos armazéns.

Os preços dos grãos também lucraram com o aumento do petróleo. O milho, matéria-prima importante na produção de etanol, teve seu preço puxado para cima, o que, por sua vez, também apoiou o preço do trigo.

Em resposta às possíveis tarifas, a China pode pensar em comprar da América Latina ou de outros países, mas não deve descartar os suprimentos americanos.

Geordie Wilkes, analista de pesquisa da Sucden Financial:

Em todos os produtos agrícolas, com exceção do cacau, os movimentos do dólar apresentaram mudanças significativas para os patamares de preços.

Nos dias seguintes às eleições, houve uma maior volatilidade, com a queda dos preços, à medida em que o poder de compra do dólar aumentava.

Trump deve favorecer o investimento na infraestrutura que priorizaria as mercadorias industriais. Com isso, poderíamos ver a agricultura sofrer e depender mais de financiamento privado.

Um ponto brilhante no horizonte é o que de Trump deve ficar firme contra os reguladores, comprometendo-se a baixar a taxa de impostos para a agricultura familiar em 15%, o que poderia trazer alívio a curto prazo.

Tradução: Izadora Pimenta

Fonte: Agrimoney

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