Crise derruba PIB potencial do Brasil e dificulta saída da recessão
Por Luiz Guilherme Gerbelli
SÃO PAULO (Reuters) - A crise econômica derrubou o Produto Interno Bruto (PIB) potencial do Brasil, o que deve deixar a recuperação esperada para 2017 mais lenta e com alguns economistas já colocando um sinal de alerta para o risco de o país estar próximo de um terceiro ano seguido de recessão.
Para analistas consultados pela Reuters, o PIB potencial do Brasil --ou seja, aquilo que o país pode crescer sem gerar desequilíbrios, como inflação-- recuou para apenas 1 por cento, sobretudo por causa do baque que os investimentos sofreram na recessão.
O número atual está muito abaixo da capacidade de crescimento que já foi exibida pela economia brasileira. Entre 2004 e 2010, ficou perto de 4 por cento.
"Nos anos recentes, houve uma redução bastante drástica do PIB potencial tanto por causa do declínio consistente da produtividade como pela destruição de capital", afirma o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), Julio Mereb, para quem o PIB potencial do país é de 1 por cento.
"A nossa projeção para o PIB de 2017 é de avanço de apenas de 0,6 por cento, justamente por incorporar essa expectativa de retomada lenta e gradual", diz Mereb.
No terceiro trimestre, os investimentos na economia brasileira recuaram para o menor patamar desde o segundo trimestre 2009, de acordo o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea).
Os investimentos no Brasil estão em queda desde 2014. Nos governos dos ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, houve uma série de investimentos direcionados para setores específicos e para as empresas que ficaram conhecidas como "campeãs nacionais", mas o fracasso dessa política tem obrigado o país a rever a sua estratégia.
"Os investimentos só vão voltar com um ambiente regulatório bem definido que, de fato, seja estimulante", afirmou o coordenador do Grupo de Estudos de Conjuntura do Ipea, José Ronaldo de Castro Souza Júnior, que vê o PIB potencial do Brasil a 1 por cento.
"Para o futuro, concessões e privatizações são fundamentais para a infraestrutura do país devido a crise fiscal atual", diz o economista do Ipea.
OTIMISMO FRUSTRADO
A dificuldade de reação da economia brasileira para o ano que vem fica evidente pela piora nas projeções para o crescimento econômico do Brasil, com analistas até mesmo vendo que o país não terá expansão, flertando com a recessão que vem dominando há dois anos.
Nessa onda mais pessimista, o banco Fator estima que a economia brasileira deve ficar estagnada no ano que vem e o seu economista-chefe, José Francisco Gonçalves, não descarta recessão.
O Bradesco e o Bank of America reduziram o crescimento esperado para PIB de 2017 para 1 por cento, de 1,5 por cento. O banco Fibria diminuiu para 1,3 por cento, abaixo de 2,1 por cento calculado anteriormente.
"A retomada mais lenta da economia responde a um cenário de endividamento ainda elevado das empresas e certa frustração com o mercado de trabalho", escreveram os economistas do Bradesco em relatório.
Em 2015, o PIB brasileiro recuou 3,8 por cento e, segundo pesquisa Focus do Banco Central, que ouve semanalmente uma centena de economistas, a projeção para 2016 é de que a economia vá encolher 3,37 por cento. Para 2017, ainda segundo o levantamento, as contas são de que o país crescerá 1,13 por cento, mas têm sido reduzidas semana após semana.
O próprio ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou nos últimos dias que a economia brasileira deve avançar apenas 1 por cento no que vem.
A fraqueza na recuperação passou a se somar às incertezas provocadas com a eleição surpreendente do republicano Donald Trump para a Presidência dos Estados Unidos e diante do discurso de campanha radical e imprevisível.
O republicano é considerado uma incógnita para os economistas e, por ora, há pouca clareza de qual será a política econômica a ser adotada por ele.
A consultoria MacroSector estima avanço de apenas 0,8 por cento para o Brasil 2017, mas vê risco de o país crescer menos do que isso diante das incertezas na economia mundial.
"O que a gente não sabe é o tamanho da turbulência que virá pela frente com a vitória do Trump. Turbulência mais forte se traduz em juro alto lá fora e aqui", afirma o sócio-diretor da MacroSector Consultores, Fábio Silveira.