Dólar firma alta ante real por BC e preocupações locais, apesar de exterior
Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar firmou-se em alta e aproximava de 3,25 reais nesta quinta-feira, com incertezas sobre o ajuste fiscal no Brasil e a estratégia de atuação cambial do Banco Central ofuscando expectativas de que os juros não devem subir tão cedo nos Estados Unidos, que levava a moeda norte-americana a recuar nos mercados externos.
Às 13:58, o dólar avançava 0,87 por cento, a 3,2395 reais na venda, após chegar a 3,2432 reais na máxima e cair a 3,2002 reais na mínima do dia. O dólar futuro subia cerca de 1 por cento no início desta tarde.
"Com a atuação mais pesada do BC e as especulações sobre o fiscal nos últimos dias, o real tem tido desempenho pior que as outras moedas. E hoje, o mercado desviou o foco para o (cenário) local", disse o estrategista de um banco internacional.
O BC vem mantendo sua estratégia de vender diariamente 15 mil swaps reversos, que equivalem a compra futura de dólares, desde que aumentou a oferta na semana passada, sobre 10 mil contratos diários até então. O reforço na intervenção contribuiu para tirar o dólar das mínimas em quase um ano atingidas neste mês.
Declarações do presidente interino Michel Temer levaram alguns a apostar que o governo almejaria evitar quedas maiores do dólar, mas o presidente do BC, Ilan Goldfajn, tem defendido o respeito ao câmbio flutuante.
Investidores também continuavam à procura de pistas sobre a trajetória do ajuste fiscal brasileiro.
De maneira geral, o mercado vem minimizando a importância dos recuos do governo em sua campanha para aprovar medidas de austeridade no Congresso Nacional, apostando que a postura tende a enrijecer quando o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff for aprovado, em julgamento que começa em 25 de agosto.
O quadro local levou o mercado brasileiro a descolar-se dos mercados externos, onde o dólar perdia terreno em meio a apostas de que os juros norte-americanos não devem subir neste ano.
O presidente do Fed de Nova York, William Dudley, sugeriu nesta semana a possibilidade de alta de juros já no mês que vem. Nesta quinta-feira, ele voltou a adotar um tom positivo sobre a economia dos EUA, ressaltando o fortalecimento do mercado de trabalho.
Mas a ata do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) mostrou, na véspera, que ainda há consenso no Fed de que são necessários mais dados para que seja apropriado elevar os juros, embora alguns integrantes com poder de voto esperam que isso aconteça em breve.
Muitos operadores esperavam sinalização mais contundente de que os juros norte-americanos podem subir neste ano e venderam dólares após a divulgação da ata. Juros mais altos nos EUA poderiam atrair para a maior economia do mundo recursos aplicados em outros mercados.
"(Autoridades do Fed) têm feito comentários mais 'hawkish', mas a ata de ontem foi cautelosa, não se comprometeu com um prazo. Isso deixa o mercado em uma encruzilhada, esperando mais comunicações oficiais", disse o operador da corretora Correparti Jefferson Luiz Rugik.