Dólar cai quase 1,5% e vai abaixo de R$ 3,20, mínima em mais de 1 ano, com exterior e fluxo
Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar recuou quase 1,5 por cento e encerrou abaixo de 3,20 reais nesta quinta-feira, menor nível de fechamento em mais de um ano, com operadores citando o corte dos juros britânicos e fluxos de entrada de recursos externos relacionados a operações corporativas.
O dólar recuou 1,43 por cento, a 3,1945 reais na venda, menor fechamento desde 21 de julho de 2015 (3,1732 reais). A moeda norte-americana chegou a 3,1935 reais na mínima do dia.
O dólar futuro perdia cerca de 1,4 por cento no fim desta tarde.
"As medidas do Banco da Inglaterra dão alento ao mercado, confirmam as expectativas de que os bancos centrais estão atentos a qualquer volatilidade", disse o operador da corretora Correparti Ricardo Gomes da Silva.
O banco central britânico cortou sua taxa de juros pela primeira vez desde 2009 e informou que vai comprar mais 60 bilhões de libras em títulos públicos para amortecer o impacto do referendo que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia.
Juros mais baixos no Reino Unido tendem a aumentar a atratividade relativa de ativos que oferecem rendimentos altos, como no Brasil. Além disso, parte dos capitais injetados pelo banco central britânico na economia tende a migrar para mercados emergentes.
No cenário local, operadores citaram ainda um fluxo positivo de mais de 1 bilhão de dólares feito por uma grande empresa, que teria contribuído para puxar a moeda norte-americana para baixo nesta sessão.
Muitos investidores esperam que o Brasil receba cada vez mais recursos externos daqui para frente, após anúncios de diversas captações externas. Na véspera, a Vale vendeu 1 bilhão de dólares em títulos internacionais, seguindo-se a emissões de empresas como Petrobras e Marfrig.
Por sua vez, alguns esperam que o julgamento do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, que deve ser concluído no fim deste mês, sirva de gatilho para atrair mais investimento de fora, revertendo a tendência de saídas financeiras que vem sendo apontada pelos dados do Banco Central há meses.
Nesta quinta-feira, a comissão especial do Senado que analisa o impeachment de Dilma aprovou o parecer pela pronúncia da petista, considerando que há elementos suficientes para levá-la a julgamento final por crime de responsabilidade.
Estrategistas do banco BNP Paribas esperam que a moeda norte-americana termine setembro em 3,20 reais e fique praticamente neste nível até o fim do ano. O dólar voltaria a subir em 2017, a 3,60 reais no final do período.
Ainda assim, investidores continuaram demonstrando alguma preocupação com as dificuldades que o governo do presidente interino Michel Temer enfrenta para aprovar medidas de austeridade fiscal no Congresso Nacional.
Na véspera, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, minimizou a relevância do adiamento da votação da renegociação das dívidas dos Estados com a União no Congresso Nacional, que havia alimentado preocupações nos mercados financeiros.
"O mercado sabe que não vai ser fácil conseguir a colaboração do Congresso para controlar o crescimento do gasto público", disse o operador da corretora Spinelli José Carlos Amado.
Outro fator que deve movimentar os negócios no curto prazo é o relatório de criação de vagas de trabalho nos Estados Unidos fora do setor agrícola, que será divulgado na sexta-feira. O número pode afetar as expectativas sobre quando os juros norte-americanos começarão a subir, com a maioria dos operadores enxergando chances pequenas de alguma elevação neste ano.
Nesta manhã, o Banco Central brasileiro vendeu novamente 10 mil swaps reversos, contratos que equivalem a compra futura de dólares. A autoridade monetária vem atuando dessa forma quase diariamente desde o mês passado.