Dólar cai e se aproxima de R$ 3,20; fecha junho com queda de 11%, maior perda mensal em 13 anos

Publicado em 30/06/2016 18:59

Por Bruno Federowski

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em queda pelo terceiro dia seguido e se aproximou de 3,20 reais nesta quinta-feira, marcando em junho o maior recuo mensal em 13 anos devido à ausência do Banco Central do mercado de câmbio e ao otimismo cauteloso dos investidores em relação ao Brasil.

O dólar recuou 0,73 por cento, a 3,2133 reais na venda, menor nível de fechamento desde 21 de julho de 2015 (3,1732 reais).

A moeda norte-americana acumulou queda de 11,05 por cento no mês, maior recuo mensal desde abril de 2003. No segundo trimestre, despencou 10,65 por cento, maior baixa trimestral desde o segundo trimestre de 2009 (-15,35 por cento), acumulando no semestre perda de 18,61 por cento.

Operadores acreditam, no entanto, que a moeda norte-americana não deve se afastar muito desses patamares no curto prazo, seja para cima ou para baixo. Embora incertezas sobre o futuro do Reino Unido após a opção por deixar a União Europeia (UE) permaneçam, a perspectiva de estímulos no resto do mundo tende a manter as cotações perto das mínimas em quase um ano.

"A impressão que dá é que o mercado virou a chave em relação ao Brasil", disse o operador da corretora B&T Marcos Trabbold. "Pode haver exageros, como vimos hoje mais cedo, mas se o BC continuar ausente e não tivermos grandes surpresas na política, parece que o dólar de fato mudou de patamar".

O mercado brasileiro tem mostrado desempenho melhor do que seus pares na América Latina desde o início do ano, com operadores apostando que o governo interino do presidente Michel Temer será capaz de limitar os gastos e colocar a economia de volta nos trilhos.

Mesmo escândalos políticos envolvendo figuras de alto escalão do governo não foram suficientes para dissuadir os operadores, apesar da perspectiva de que dificultem a aprovação de medidas de austeridade fiscal.

A inação do BC, sob o comando de Ilan Goldfajn, no mercado cambial diante do recuo recente da moeda norte-americana também vem contribuindo para manter o dólar em patamares baixos. Muitos operadores esperavam que a autoridade monetária agisse para amortecer a queda do dólar, com medo de impactos sobre as exportações.

O BC não faz leilão de swap reverso, que equivale a compra futura de dólares, desde 18 de maio. Este era o instrumento que o BC, quando era comandado por Alexandre Tombini, estava usando para segurar maiores quedas do dólar.

"Embora a equipe econômica possa não estar ativamente perseguindo (o dólar mais fraco), parece improvável que aja para reverter a tendência atual, já que pode ajudar a ancorar as expectativas de inflação no longo prazo", escreveram analistas da consultoria de risco político Eurasia Group em relatório.

O banco JPMorgan espera que o dólar termine o terceiro trimestre a 3,35 reais e avance para 3,50 reais ao fim deste ano.

Nesta sessão, operadores citaram ainda a perspectiva de o BC estabelecer para 2018 meta de inflação mais baixa do que a de 2017, como afirmou uma fonte da equipe econômica à Reuters. Com isso, cresceram as expectativas de que os juros básicos demorarão mais para cair, o que tende a sustentar a atratividade de ativos brasileiros.

ABAIXO DE R$ 3,20

O dólar chegou a 3,1830 reais na mínima desta sessão, mas reduziu boa parte dessas perdas durante a tarde. A moeda norte-americana ficou mais sensível durante a primeira metade do pregão devido à briga pela Ptax de junho.

A taxa, calculada pelo BC, serve de referência para diversos contratos cambiais. Operadores costumam brigar por cotações nos últimos dias do mês para deslocá-las a patamares favoráveis a suas posições.

"Essa queda do dólar surpreendeu muita gente e parte do mercado quer ver até onde esse movimento tem força para ir", disse o operador da corretora Intercam Glauber Romano.

Nos mercados externos, o dólar apresentou desempenho misto neste pregão em relação às principais moedas da América Latina.

Os mercados têm sido fortemente influenciados após o Reino Unido decidir na semana passada deixar a UE. O referendo gerou forte mau humor na sexta-feira e na segunda-feira, mas o quadro se inverteu em seguida em meio a expectativas de que bancos centrais ajam para limitar as turbulências financeiras.

O banco central do México elevou sua principal taxa de juros em 0,50 ponto percentual, mais do que o esperado, para tentar amparar o peso mexicano e limitar pressões inflacionárias. No fim desta tarde, o dólar recuava cerca de 1 por cento frente ao peso mexicano.

Fonte: Reuters

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Wall St avança após liquidação enquanto investidores avaliam efeito da desistência de Biden
Ibovespa tem oscilação tímida com Petrobras atenuando efeito de Wall Street
Wall St abre em alta enquanto investidores avaliam eleição nos EUA após desistência de Biden
Ibovespa abre com viés positivo endossado por bolsas no exterior
Dólar recua em linha com emergentes enquanto investidores analisam desistência de Biden
Minério de ferro cai com investidores digerindo sinais contraditórios da China