Bovespa fecha no azul após decisão do Fed em dia de vencimento de opções sobre índice
Por Priscila Jordão
SÃO PAULO (Reuters) - A Bovespa fechou em alta na sequência da decisão do Federal Reserve nesta quarta-feira, com a leitura de que o banco central norte-americano mostrou postura mais branda sobre o processo de elevação da taxa de juro, e conforme investidores amenizaram preocupações sobre delação envolvendo o presidente interino Michel Temer no âmbito da Lava Jato
O Ibovespa subiu 0,55 por cento, a 48.914 pontos, em dia de vencimento de opções sobre o índice, que agregou volatilidade ao pregão e elevou o giro financeiro, que chegou a 15,37 bilhões de reais.
O Fed manteve a taxa de juros inalterada, como esperado, e sinalizou que ainda planeja duas altas neste ano. Contudo, reduziu suas projeções econômicas para 2016 e 2017 e indicou que será menos agressivo ao apertar a política monetária depois do fim do ano. [L1N1971OA]
A menção pela chair do Fed, Janet Yellen, de possíveis consequências econômicas e financeiras de uma eventual saída da Grã-Bretanha da União Europeia também indicou uma postura mais branda do Fed em relação à alta dos juros, avaliou o operador Alexandre Soares, da BGC Liquidez.
Um aumento mais gradual dos juros nos Estados Unidos tende a favorecer ativos de mercados emergentes, como as ações brasileiras.
Com isso, o Ibovespa voltou a território positivo, após ter recuado mais cedo no pregão, diante divulgação da delação premiada do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Na delação, Machado afirma que o presidente interino Michel Temer teria pedido recursos ilícitos para campanha de Gabriel Chalita (PMDB) à prefeitura de São Paulo.
"Se incluir o Temer e se tornar alguma coisa séria, acaba sendo muito complicado para tudo que é medida econômica... em termos econômicos, o mercado está achando bastante bom o governo (Temer)", disse o economista Hersz Ferman, da Elite Corretora.
O Ibovespa chegou a cair 0,67 por cento logo após a divulgação do documento, mas se acomodou e engrossou ganhos após a decisão do Fed.
Soares, da BGC Liquidez, disse que investidores decidiram esperar um pouco mais para ver que desdobramentos a delação envolvendo Temer pode ter.
DESTAQUES
--USIMINAS disparou 22,75 por cento nas preferenciais e 11,9 por cento nas ordinárias, depois que a produtora de aços planos informou que fechou acordo de renegociação de 75 por cento de sua dívida com bancos comerciais brasileiros, BNDES e debenturistas. No acordo, a empresa obteve prazo de 10 anos, com 3 anos de carência, para pagar as dívidas. Analistas do BTG Pactual afirmaram que o refinanciamento "dá a Usiminas três anos de tempo precioso" e que o valor das ações da empresa estava incluindo um componente de desconto baseado no risco financeiro da siderúrgica, algo que "será reconsiderado pelos investidores".[L1N19712X]
--GERDAU avançou 3,72 por cento, no embalo do setor siderúrgico, que teve como um todo um dia positivo. O Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) suspendeu a sessão nesta quarta-feira que discutiria questões tributárias envolvendo a Gerdau, citada na operação Zelotes.
--VALE subiu 3,22 por cento nas preferenciais, alinhada com o bom desempenho de mineradoras no exterior, como Anglo American, a medida que os preços de metais avançaram.
--KROTON recuou 2,14 por cento, em meio à notícia de que a OAB do Rio de Janeiro entrou com denúncia no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) contra o interesse da Kroton em adquirir a Estácio Participações. O jornal Valor Econômico também publicou que a Kroton admitiu que a proposta a ser levada à Estácio é maior que a sinalização inicial, de 0,977 ação de sua emissão para cada papel do grupo de ensino carioca.
--SMILES caiu 0,78 por cento e a MULTIPLUS, que não faz parte do Ibovespa, recuou 0,59 por cento, após o lançamento de uma empresa de programas de fidelidade rival, a Livelo, pelo Banco do Brasil e pelo Bradesco, com valor de mercado estimado similar ao das concorrentes e com uma base 10 milhões de pessoas.
--BRADESCO subiu 0,17 por cento, euquanto o BANCO DO BRASIL recuou 0,06 por cento, respectivamente. A Guide Investimentos afirmou que a Livelo traz aos bancos novas fronteiras de receitas, diversificando seu mercado de atuação. "Dado a perspectiva de menor crescimento em operações de crédito para este ano, essa diversificação deve ser positivo, com crescimento em novas fontes".
Fed mantém juros e sinaliza menor trajetória para alta da taxa à frente
WASHINGTON (Reuters) - O Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, manteve a taxa de juros nesta quarta-feira e sinalizou que ainda planeja duas altas neste ano, apesar de uma trajetória de crescimento econômico mais lenta para 2016 e 2017 levar a uma revisão para baixo sobre qual será o pico das taxas de juros.
Até mesmo a estimativa para a taxa de juros este ano foi menos segura do que a anterior. Das 17 projeções individuais dos membros do Fed, seis indicaram apenas uma alta este ano, ante a projeção de apenas um membro no levantamento anterior, há três meses.
"Estamos bastante incertos sobre aonde as taxas vão no longo prazo", disse a chair do Fed, Janet Yellen, em entrevista de imprensa após a decisão sobre a política monetária.
O banco central norte-americano reduziu sua projeção para o crescimento econômico em 2016 a 2 por cento, ante 2,2 por cento. A estimativa para avanço econômico em 2017 recuou para 2 por cento, ante 2,1 por cento.
O Fed também cortou sua visão sobre a taxa de juro apropriada no longo prazo em 0,25 ponto percentual, para 3,0 por cento, e indicou que seria menos agressivo no aperto monetário depois do fim deste ano.
Yellen não deu pistas se um novo aumento de juros poderia vir na próxima reunião, em julho, ou se o banco central esperará uma série de dados mais firmes, avançando para a reunião de setembro.
"Apesar de dados recentes do mercado de trabalho terem sido decepcionantes, é importante não exagerar na reação a uma ou duas leituras mensais", disse Yellen, acrescentando que o Fed espera fortalecimento adicional do mercado de trabalho.
As autoridades estão preocupadas com a potencial fraqueza no mercado de trabalho dos Estados Unidos e a possibilidade de turbulência financeira se a Grã-Bretanha votar por deixar a União Europeia (UE) em referendo na próxima semana.
Yellen reconheceu que o referendo foi um dos fatores na decisão desta quarta-feira sobre a taxa de juros e disse que a decisão britânica sobre a permanência ou não na UE teria "consequências para as condições econômicas e financeiras nos mercados globais".
POSTURA BRANDA, SINALIZANDO PREOCUPAÇÕES COM CRESCIMENTO
Os mercados financeiros praticamente deixaram de precificar uma alta de juros este ano, após o comunicado do Fed.
Mesmo os membros mais duros do Fed apoiaram a decisão de adiar a alta de juros na reunião desta quarta-feira, destacaram analistas.
"É tão 'dovish' quanto o Fed pode ser sem efetivamente cortar os juros. Até mesmo (a presidente do Fed de Kansas) Esther George deixou de ser dissidente", disse o estrategista-chefe de portfólio do Wells Fargo, Brian Jacobsen.
O Fed elevou os juros apenas uma vez em uma década e nesta quarta-feira manteve a meta para a taxa entre 0,25 por cento e 0,50 por cento.
O banco central subiu os juros em dezembro e inicialmente sinalizou que quatro altas eram possíveis em 2016. Preocupações com a desaceleração econômica global e a volatilidade nos mercados financeiros reduziram subsequentemente esse número para duas.
Embora as preocupações com a saúde da economia global tenham diminuído, a forte desaceleração das contratações nos EUA em maio foi preocupante. Dados mais recentes indicaram que o relatório de emprego de maio pode ter sido um desvio temporário e menor.
O Fed também disse que a atividade econômica parece ter se recuperado desde abril.
Economistas consultados pela Reuters não viam nenhuma chance de o Fed elevar os juros agora. A maioria esperava que isso acontecesse em julho ou setembro, na expectativa de que o mercado de trabalho norte-americano se recuperaria e que o referendo britânico não levaria a um colapso financeiro.
Dólar fecha em queda ante real após Fed adotar postura cautelosa
Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em queda ante o real nesta quarta-feira ao fim de uma sessão volátil, após o Federal Reserve, banco central norte-americano, sinalizar postura mais cautelosa sobre quando pretende voltar a elevar os juros.
O dólar recuou 0,39 por cento, a 3,4665 reais na venda. A moeda norte-americana chegou a 3,5019 reais na máxima da sessão, após a divulgação de delação premiada citando o presidente interino Michel Temer, e recuou a 3,4455 reais na mínima do dia.
O dólar futuro recuava cerca de 0,5 por cento no final da tarde.
"O tom (do Fed) foi bastante 'dovish', bastante cauteloso. Não há por que esperar aumento de juros tão cedo", disse o operador da corretora Spinelli José Carlos Amado.
O Fed confirmou as expectativas de analistas e manteve os juros nesta quarta-feira, mas passou a projetar crescimento econômico mais baixo do que na projeção anterior. Além disso, indicou que vai ser menos agressivo ao elevar os juros após o fim deste ano.
Após a divulgação do comunicado, Yellen manteve o tom cauteloso em entrevista coletiva, afirmando que autoridades do banco central estão "muito incertas" sobre a trajetória de longo prazo dos juros.
Uma trajetória mais gradual de aumentos de juros nos EUA tende a favorecer ativos emergentes, que oferecem rendimentos financeiros mais elevados.
Antes da decisão do Fed, o dólar já vinha tendo uma sessão de volatilidade diante do cenário interno. A moeda chegou a subir 0,63 por cento após a divulgação de que o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado afirmou, em delação premiada, que Temer teria pedido recursos ilícitos para campanha de Grabriel Chalita (PMDB) à prefeitura de São Paulo.
A moeda norte-americana reduziu os ganhos pouco depois, porém, quando ficou aparente que parte das denúncias já eram conhecidas.
"O mercado viu a manchete e comprou com tudo, com medo de o caos político voltar. Quando viu que boa parte da notícia já era conhecida, teve que dar alguns passos para trás", afirmou o operador de um importante banco nacional.
Por outro lado, o plano do governo de colocar prazo de 20 anos na proposta que limita o aumento dos gastos públicos, maior do que o sugerido por notícias recentes, foi recebido de forma mais calorosa nas mesas de câmbio, o que levou o dólar às mínimas do dia.
O plano determina que, por esse período, o crescimento anual dos gastos públicos seja limitado à inflação do exercício anterior.
"(O limite do crescimento do gasto) é uma medida boa, melhor do que parecia. Agora é preciso ver como o Congresso vai lidar com isso", disse o operador da corretora Renascença Thiago Castellan Castro.