O GLOBO (exclusivo): Mulher de João Santana diz que JBS pagou caixa 2 ao PT

Publicado em 07/05/2016 11:49
Monica Moura afirmou à Lava-Jato que a empresa quitou dívida com gráfica (POR THIAGO HERDY, de O GLOBO)

A mulher do marqueteiro João Santana, Monica Moura, afirmou a procuradores — em depoimento durante negociação para fechar acordo de delação premiada — que a JBS pagou caixa 2 à campanha pela reeleição de Dilma Rousseff. Segundo o relato, a empresa pagou diretamente a dívida do PT com a gráfica Focal Confecção e Comunicação Visual, de São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Este pagamento não está declarado à Justiça Eleitoral. A JBS doou R$ 361,8 milhões nas eleições de 2014, legalmente. A empresa nega veementemente a afirmação, diz que vasculhou todos os seus arquivos e não encontrou registro do suposto pagamento.

A Focal é a segunda maior fornecedora da campanha de Dilma e Michel Temer, em 2014, e pertence ao empresário Carlos Cortegoso, que presta serviços ao PT desde os anos 90. Segundo Mônica, o então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, determinava que serviços gráficos de campanha deviam ser concentrados nas empresas de Cortegoso, porque ele aceitava receber os pagamentos depois das campanhas.

O GLOBO apurou que a Focal emitiu notas fiscais de serviços para a JBS, mas nunca imprimiu peça ou fez serviços para a empresa, maior processadora de proteína animal do mundo, que tem BNDES e Caixa como sócios, com 27% do capital. As notas emitidas para os pagamentos foram entregues pessoalmente na sede da JBS, em SP, por funcionários de Cortegoso.

Os pagamentos em caixa 2 da JBS à campanha de Dilma foram citados por Mônica em um dos anexos produzidos por sua defesa e levados ao Ministério Público Federal para tentar acordo. Os procuradores têm resistido a aceitar, por considerar que a colaboração teria mais informações para relatar do que o apresentado.

Na última semana, Mônica e Santana foram denunciados pelo MPF por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, por pagamentos feitos por fornecedores da Petrobras aos dois, no Brasil e no exterior.

No fim de abril deste ano, a ministra do Tribunal Superior Eleitoral Maria Thereza de Assis Moura autorizou a Polícia Federal a realizar perícia contábil de vários fornecedoras da campanha da chapa Dilma/Temer, entre elas a Focal. Maria Thereza é a relatora da quatro ações que propõem a cassação da chapa.

A Focal é a 2ª maior fornecedora oficial da campanha de Dilma em 2014: recebeu R$ 23,9 milhões, valor que só não é maior do que o recebido pelo casal Santana (R$ 78 milhões). A empresa está registrada em nome de uma das filhas de Cortegoso — Carla Regina Cortegoso — e de um de seus motoristas, Elias Silva de Mattos, que também é motivo de apuração.

Outra empresa de Cortegoso, a CRLS Confecção Consultoria e Eventos Ltda., é alvo de inquérito na Lava-Jato que apura pagamentos feitos pelo operador petista Alexandre Romano com propina da Consist Software, empresa de SP beneficiada em acordo no âmbito do governo federal. À PF, Romano disse que passava parte do acerto com a Consist para a CRLS a pedido do ex-ministro Luiz Gushiken.

Delator da Lava-Jato em troca de redução de pena caso condenado, Romano prestou novas informações sobre a atuação de Cortegoso para o PT ano passado; os depoimentos seguem em sigilo. Por decisão do STF, o inquérito foi desmembrado de Curitiba e tramita hoje em SP.

EMPRESA VÊ ‘DENÚNCIAS INFUNDADAS’

Procurada pelo GLOBO, a JBS disse não ter localizado em sua contabilidade qualquer registro de pagamento para a Focal ou para outras empresas registradas em nome de Carlos Cortegoso e pessoas ligadas a ele. “Foi feita uma varredura com relação às empresas citadas e não consta nenhum pagamento às mesmas”, afirmou a empresa.

A JBS disse que “vê mais uma vez seu nome envolvido em denuncias infundadas”, feitas de forma “irresponsável, agredindo sua imagem, marcas e reputação”.

Pelo telefone, Cortegoso disse que não se manifestaria:

— A JBS é um cliente meu antigo, sempre fiz camisetas para eles. Mas não vou me manifestar nesse caso, porque prefiro responder em instâncias mais adequadas — afirmou.

Em nota, o advogado da chapa Dilma/Temer, Flávio Caetano, repudiou o "vazamento seletivo de mera tratativa de acordo" de Mônica Moura. Disse que como não há colaboração firmada, inexiste, "em âmbito jurídico", qualquer acusação. "As contas da campanha presidencial foram superavitárias, inexistindo débito a ser saldado, com seus fornecedores ou prestadores de serviço", escreveu o advogado. Ele afirmou que todas as despesas da campanha foram aprovadas pelo então tesoureiro da campanha, Edinho Silva, e "regularmente contabilizadas e aprovadas pelo TSE".

Fundada em 1953 em Goiás, a JBS é a maior empresa processadora de proteína animal do mundo e detentora de marcas como Friboi, Swift e Seara. Seu “boom” ocorreu a partir de 2003, quando o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) passou a lhe conceder empréstimos até se tornar sócio da empresa, dentro da política do governo petista de alavancar empresas multinacionais de origem brasileira. Concorrentes sempre criticaram a concentração de recursos públicos em uma única empresa. A JBS rebate que todos obtiveram recursos do banco de fomento. A forte capitalização permitiu que adquirisse ao longo dos anos pequenos e grandes concorrentes, no Brasil e em países como Argentina e Estados Unidos, Austrália.

Além da produção de carnes, o grupo possui fábricas de celulose, biodiesel, um banco e uma emissora de TV. Ensaiou entrar na área de infraestrutura recentemente, mas desistiu depois da crise no setor. Na campanha de 2014, entre as doações, R$ 115 milhões foram para o PT (32%), R$ 61,6 milhões para o PMDB (17%), R$ 56,5 milhões, PSDB (15,6%), e R$ 37,2 milhões para o PP (10%).

 

PGR denuncia Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo ao STF


O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) denúncia contra a senadora Gleisi Hoffman (PT-PR), o marido dela, o ex-ministro Paulo Bernardo, e o empresário Ernesto Kugler. Eles teriam cometido corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Segundo as investigações da Lava-Jato, a campanha de Gleisi ao Senado em 2010 recebeu R$ 1 milhão do esquema de desvios de dinheiro da Petrobras. Há incídios de que o dinheiro teria sido entregue pelo doleiro Alberto Yousseff. A pedido de Gleisi e do marido, Kugler teria recebido em quatro parcelas.

O ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no STF, vai analisar a denúncia e levar o caso para a análise da Segunda Turma do tribunal, formada por cinco integrantes. Se o colegiado receber a denúncia, o inquérito será transformado em ação penal e os investigados, em réus. Não há data prevista para isso acontecer.

A denúncia foi elaborada com base em trechos da delação premiada do advogado Antonio Carlos Fioravente Pieruccini, que detalhou como o dinheiro foi repassado para a campanha da petista. Em depoimento ao Ministério Público Federal, ele afirmou ter transportado R$ 1 milhão de São Paulo para Curitiba, a pedido de Yousseff. O doleiro teria dito que a destinatária final do dinheiro era a campanha de Gleisi.

Em nota, os advogados Rodrigo Mudrovitsch e Veronica Abdala Sterman, contratados para defender Gleisi e Paulo Bernardo, disseram que receberam a notícia da denúncia com “inconformismo”. Segundo o texto, “todas as provas que constam no inquérito comprovam que não houve solicitação, entrega ou recebimento de nenhum valor por parte da senadora. A denúncia sequer aponta qualquer ato concreto cometido. Baseia-se apenas em especulações que não são compatíveis com o que se espera de uma acusação penal”.

A defesa também argumentou que os depoimentos de delatores são contraditórios, o que tira “toda a credibilidade das supostas delações”. Os advogados também apontaram que Pieruccini trabalharia para Yousseff, o que fragilizaria ainda mais aos indícios apresentados pela PGR.

Fonte: O Globo

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