Na Folha: A história do Brasil do PT, por Luiz Felipe Pondé
A "batalha do impeachment" é a ponta do iceberg de um problema maior, problema este que transcende em muito o cenário mais imediato da crise política brasileira e que independe do destino do impeachment e de sua personagem tragicômica Dilma.
Mesmo após o teatro do impeachment, a história do Brasil narrada pelo PT continuará a ser escrita e ensinada em sala de aula. Seus filhos e netos continuarão a ser educados por professores que ensinarão esta história. Esta história foi criada pelo PT e pelos grupos que orbitaram ao redor do processo que criou o PT ao longo e após a ditadura. Este processo continuará a existir. A "inteligência" brasileira é escrava da esquerda e nada disso vai mudar em breve. Quem ousar nesse mundo da "inteligência" romper com a esquerda, perde "networking".
Ao afirmar que a "história não perdoa as violências contra a democracia", José Eduardo Cardozo tem razão num sentido muito preciso. O sentido verdadeiro da fala dos petistas sobre a história não perdoar os golpes contra a democracia é que quem escreve os livros de história no Brasil, e quem ensina História em sala de aula, e quem discorre sobre política e sociedade em sala de aula, contará a história que o PT está escrevendo. Se você não acredita no que digo é porque você é mal informado.
O PT e associados são os únicos agentes na construção de uma cultura sobre o Brasil. Só a esquerda tem uma "teoria do Brasil" e uma historiografia.
Esta construção passa por uma sólida rede de pesquisadores (às vezes, mesmo financiada por grandes bancos nacionais), professores universitários, professores e coordenadores de escolas, psicanalistas, funcionários públicos qualificados, agentes culturais, artistas, jornalistas, cineastas, produtores de audiovisual, diretores e atores de teatro, sindicatos, padres, afora, claro, os jovens que no futuro exercerão essas profissões. O domínio cultural absoluto da esquerda no Brasil deverá durar, no mínimo, mais 50 anos.
Leia o artigo na íntegra no site da Folha de S. Paulo.
Editorial da Folha de S. Paulo: O país tem pressa
Por expressiva maioria -superando com alguma folga o mínimo necessário de 342-, a Câmara dos Deputados manifestou-se neste domingo (17) em favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).
Num clima de exaltação, mas também de respeito à diversidade, os deputados federais deram sua opinião, ornamentando-a, conforme o caso, de razões sucintas ou de considerações extravagantes.
Poucos trataram das acusações que se dirigem à presidente; contam-se nos dedos aqueles que evocaram as chamadas pedaladas fiscais ou os decretos orçamentários. Prevaleceram apelos à própria família e um quase sempre cínico discurso de combate à corrupção, como se disso o processo cuidasse.
Seja como for, nem pela via jurídica, nem pelas ruas cabe contestar o resultado, legítimo do ponto de vista constitucional e político. Reflete a vontade da maioria da população, e deriva de uma ação conduzida conforme regras sancionadas pelo Supremo Tribunal Federal.
Abre-se agora um período de transição. Enquanto a análise do impeachment segue para o Senado, o país terá a sua frente um governo paralisado -ou consumido pelas patéticas barganhas a que, nestes dias, entregou-se em vão.
É do interesse de toda a sociedade que esse período transcorra com a máxima presteza, respeitando-se sempre, por óbvio, o devido processo legal. Não há sentido em prolongar artificialmente a permanência de quem já não tem a menor condição de governar.
Leia o editorial na íntegra no site da Folha de S. Paulo.
Punição exemplar, por Vinicius Mota
Os lances decisivos para o desenvolvimento das nações são em geral silenciosos e incrementais. A trepidação do impeachment de Dilma Rousseff importa menos para o futuro que o estímulo antiautoritário projetado pelo evento sobre a gestão do dinheiro público.
Nesse horizonte, as chamadas pedaladas fiscais -apelido inadequado para fraudes deliberadas, profundas e duradouras contra o pacto democrático cristalizado no Orçamento- sobrepujam, como razão para o impeachment, quaisquer outros motivos de ordem política, econômica ou moralista, os quais decerto pesaram mais no desfecho imediato.
Explodiu o custo sobre qualquer presidente disposto a fazer o diabo a fim de se reeleger. Quebrar estatais para fazer o sucessor, usar moeda clandestina de banco público para triunfar nas urnas, onerar gerações de pagadores de impostos com gestos imediatistas de cesarismo orçamentário, tudo isso ficou mais difícil.
A História poderá associar ao impeachment de Dilma Rousseff um dos episódios importantes na fixação de regras do jogo inclusivas e estáveis na sociedade brasileira. Há muita coisa a consertar, entretanto, para que essa via se consolide.
Agora mesmo o colapso das finanças estaduais e municipais desafia o edifício da responsabilidade devida pelos governantes aos cidadãos contribuintes. A Justiça, que tem atuado com firmeza no controle do abuso de poder, contribui para instilar confusão no domínio econômico.
A maioria formada no Congresso em torno de Michel Temer vai evaporar-se, inviabilizando a Presidência do peemedebista, caso se desvie da missão antipopulista à sua frente.
A hora é de refrear o instinto politiqueiro e entregar o núcleo estratégico do governo (Fazenda, BC, Justiça, Saúde, Educação e Relações Exteriores) a pessoas que, a despeito da filiação partidária, possuam luz própria e compromisso com recolocar o Brasil no trilho da sobriedade.