Debandada do PSD tirou do Planalto gordura para evitar impeachment, dizem fontes

Publicado em 14/04/2016 10:49

Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) - A defecção do PSD queimou a gordura que o governo tinha na contagem de votos contra a abertura de processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, disseram à Reuters duas fontes palacianas, mas o Planalto ainda avalia que consegue derrubar o processo, mesmo que por uma margem mínima.

“Em nossa conta pessimista estamos sem gordura. Foi queimada nossa gordura. Qualquer corte agora é na carne”, disse uma das fontes.

“Temos os votos, mas sem gordura”, disse a outra fonte.

Qualquer nova defecção nos próximos dias pode complicar ainda mais a situação da presidente, admitiu uma das fontes.

Até esta quarta-feira, a contabilidade do Planalto, que pode ser avaliada como otimista, era de 185 votos para o governo, uma conta apertada --para o impeachment ser derrotado são necessários 172 votos contra o impedimento ou que os votos favoráveis não cheguem a 342.

O governo inclui na conta, por exemplo, 20 dos 65 deputados da bancada do PMDB e um terço da bancada do PSD. O partido do ministro das Cidades, Gilberto Kassab, votou em sua maioria nesta quarta-feira, em reunião interna, pelo encaminhamento ao impeachment da presidente. No final da tarde, o líder do partido, Rogério Rosso (DF), confirmou que a decisão, apesar de afirmar que serão “respeitadas as minorias”.

Mesmo com 185 votos, o governo ainda teria um placar apertado para a votação em plenário, no próximo domingo. “Esse é o mínimo, do mínimo, o que três ministros fizeram as contas e garantiram que existe hoje”, disse à Reuters uma terceira fonte palaciana. “A coisa está feia, mas não perdida.”

A fonte reconhece, no entanto, que os próximos dias continuarão em um “estica e puxa” entre os dois lados. A meta do governo era chegar a 205 deputados, mas as defecções dificultam o trabalho. Garantidos, no entanto, o Planalto tem mesmo só 93 votos --58 da bancada petista, os seis votos do PSOL, já que o partido anunciou que votará contra o impeachment, dois do PTdoB, 11 do PCdoB e 16 dos 20 pedetistas, já que o mesmo o partido tendo anunciado que votará com o governo, quatro parlamentares ainda são contrários.

O Planalto contabiliza votos em 16 partidos, mas admite que essa contabilidade é volátil. Pela manhã, o ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, reuniu-se com quatro deputados do PSD e ainda aposta em ter 15 dos 36 votos em plenário.

Mas deputados do partido falam em apenas cinco --apesar de, na reunião, oito terem votado a favor de se manter no governo-- e uma das fontes palacianas garantir que são mais, em uma guerra de números que deve durar até domingo.

No PMDB, uma fonte próxima a um dos ministros disse à Reuters que é possível o partido conseguir entregar 20 votos em plenário, mas depende dos movimentos das próximas horas. Se houver uma debandada, como se prevê, é possível que o governo leve apenas 10.

O governo ainda conta com vários votos de partidos que já anunciaram que vão encaminhar pelo impeachment, como cinco do PTB, três do PSB, nove do PP e dois da Rede, partido de Marina Silva, que passou a defender o impeachment nos últimos dias.

EXONERAÇÕES

A retaliação pela mudança de lado de alguns antigos aliados do governo virá rápida. O Planalto pretende anunciar já na quinta-feira a demissão de nomes indicados por parlamentares que anunciaram nas últimas horas a opção pelo impeachment.

Um dos que deve perder indicados já é o líder do PP, Aguinaldo Ribeiro (PB), que anunciou na terça-feira que o partido estava deixando o governo e iria entregar os cargos. O presidente da Companhia de Desenvolvimentos dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), Felipe Mendes, deve ter sua exoneração publicada na quinta-feira.

O Planalto também prepara um mapa das nomeações ligadas ao PP e ao PRB --inclusive casos recentes, de substituições a nomes dos PMDB-- para que sejam exonerados nos próximos dias, a não ser em casos que sejam ligados a parlamentares que se comprometeram a votar com o governo.

Fonte: Reuters

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