Dólar fecha estável sobre o real, apesar de forte ação do BC
Por Patrícia Duarte
SÃO PAULO (Reuters) - Mesmo com a intensa atuação do Banco Central, o dólar fechou praticamente estável sobre o real nesta terça-feira, com o mercado pressionando as cotações para baixo ao precificar cada vez mais o impeachment da presidente Dilma Rousseff como uma realidade.
O dólar subiu 0,01 por cento, a 3,4948 reais na venda. Na máxima do dia, atingida pela manhã, chegou a 3,5641 reais, com alta de quase 2 por cento. O dólar futuro subia cerca de 0,05 por cento.
Só nas duas sessões anteriores, o dólar havia acumulado queda de 5,39 por cento, indo abaixo de 3,50 reais e no menor nível em cerca de oito meses, movimento que muitos entendem ter desagradado o BC por ser abrupto demais e prejudicar as exportações.
"(O dólar) caiu muito ontem e o BC veio forte", afirmou o gerente de câmbio da corretora Fair, Mário Battistel, para quem o mercado já precificou o afastamento da presidente. A maior parte dos investidores acredita que, sem Dilma no poder, o ambiente político deve melhorar e, assim, ajudar na recuperação da atividade econômica.
Na noite passada, a comissão especial do impeachment aprovou o parecer favorável à abertura do processo contra Dilma por 38 votos a 27, resultado comemorado pela oposição mas que não desagradou de todo os governistas. No fim da semana, o plenário da Câmara dos Deputados deve votar a matéria.
O mercado acompanha agora atentamente as articulações políticas. Segundo publicou o jornal O Estado de S.Paulo, o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Leonardo Picciani (RJ), acertou com o vice-presidente Michel Temer a liberação da bancada na votação do processo de afastamento da presidente.
ESTRATÉGIA DE GUERRA
Diante da forte queda do dólar, o BC mais uma vez entrou em campo e aumentou muito sua artilharia. Só neste pregão, fez cinco leilões seguidos de swaps reversos --correspondentes à compra futura de dólares.
O último deles ocorreu logo após o fechamento do mercado à vista. Assim, o BC vendeu a oferta total, somando 160 mil contratos, equivalente a cera de 8 bilhões de dólares.
Na véspera, havia vendido os 20 mil swaps reversos que ofertou, mas precisou fazer três leilões para tanto.
Só neste mês, o BC já colocou no mercado o equivalente a 10,280 bilhões de dólares em swaps reversos, reduzindo em 10 por cento o estoque total de swaps tradicionais, que atuam como venda futura de dólares e somavam cerca de 100 bilhões de dólares.
Além disso, o BC não anunciou leilão de rolagem dos swaps tradicionais que vencem em maio. Ele iniciou o mês ofertando 5,5 mil contratos, indicando que poderia rolar cerca de metade do lote do próximo mês.
Até a sexta-feira, o BC vinha vendendo todos os swaps tradicionais ofertados, movimento que mudou na véspera, quando o BC colocou apenas parcialmente a oferta.
"Não vai ter atuação do BC que seja capaz de evitar a tendência de queda do dólar", afirmou o gerente de câmbio da corretora Treviso, Reginaldo Galhardo. "Há entusiasmo no mercado com o PT saindo do poder", acrescentou ele.
As forte atuações do BC no mercado, para alguns, podem abrir a possibilidade de a autoridade monetária atuar no mercado à vista, comprando dólares. Mas, segundo afirmou à Reuters uma importante fonte da equipe econômica, esse movimento não está nos planos por enquanto.