Moro decreta prisão de Ronan Pinto, dono do Diário do Grande ABC, e envolvido pela Lava Jato na morte de Celso Daniel
O juiz federal Sergio Moro decretou nesta terça-feira (5) a prisão preventiva (sem prazo determinado) doempresário Ronan Maria Pinto, preso temporariamente na 27a fase da Operação Lava Jato, deflagrada na última sexta-feira (1o).
Moro também decidiu expedir alvará de soltura para o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira, comoantecipado pela coluna Mônica Bergamo.
Moro disse que não há elementos suficientes para a decretação da prisão preventiva de Silvio. O juiz escreveu em despacho que são necessárias ainda mais investigações sobre os pagamentos que o ex-secretário do PT recebeu de empreiteiras como a UTC e a OAS.
O despacho determina, porém, que Silvio fique proibido de deixar o país e compareça a todos os atos do processo. O advogado do ex-petista, Romero Ferraz Filho, foi à sede da Policia Federal em Curitiba para buscar o cliente.
"A justiça foi feita", disse o defensor à coluna Mônica Bergamo. "Não havia requisitos para a prisão temporária nem para a preventiva. Estão usando argumentos do mensalão, de 2007."
Luiz Carlos Murauskas - 08.jun.2005/Folhapress | ||
O ex-secretário-nacional do Partido dos Trabalhadores Silvio Pereira |
DECRETO DE PRISÃO
O juiz justificou a prisão preventiva de Ronan afirmando que as explicações apresentadas em depoimento foram "frágeis" e deixaram lacunas.
Moro também levou em conta que o empresário já foi condenado pela Justiça de São Paulo em um processo sobre corrupção. Para Moro, isso faz com que a liberdade dele represente "risco à ordem pública".
O empresário, dono de empresas de ônibus e do jornal "Diário do Grande ABC", é suspeito de ser o beneficiário final de um empréstimo que o grupo Schahin concedeu ao pecuarista José Carlos Bumlai em troca de um contrato para a operação de um navio-sonda com a Petrobras.
O dinheiro, segundo os investigadores, pode ter sido usado para comprar o silêncio de Ronan sobre a morte de Celso Daniel, prefeito de Santo André assassinado em 2002.
Em depoimento, Ronan disse que o dinheiro recebido era um empréstimo. Moro escreveu que "um empréstimo que não é devolvido não é, em princípio, empréstimo, mas outra coisa".
A versão da chantagem tinha sido detalhada pelo publicitário Marcos Valério, pivô do mensalão, em 2012.
Também pesou na decisão de Moro o fato de papéis apreendidos na semana passada apontarem a existência de empresas offshore em nome do filho de Ronan, Danilo Pinto
O juiz afirmou que Ronan responde a cinco ações em Santo André e que em uma delas foi condenado a 10 anos de prisão por corrupção. Segundo Moro, a "prática dos crimes pelos quais foi condenado, com intimidações e ameaças a empresários, indica igualmente risco à investigação e à instrução, já que testemunhas relevantes para esta investigação e para a instrução poderão também ser vítimas de práticas equivalentes."
Segundo Moro, por enquanto a única explicação possível para Ronan ter recebido R$ 6 milhões que Bumlai conseguiu por meio do banco Schain é que ele extorquiu dirigentes do PT. O juiz citou preocupação com o descobrimento de contas off-shore em nome do filho de Ronan, mas não decidiu ainda se autoriza a quebra de sigilo fiscal e bancário dele.