Votação do impeachment na Câmara obedecerá lógica de efeito manada, diz fonte
Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - O governo tem investido na articulação para conseguir os votos necessários para barrar a abertura de um processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, mas a votação da admissibilidade do processo na Câmara obedecerá à lógica do efeito manada, avaliou uma fonte a par das negociações.
Com exceção dos partidos de oposição, que votarão a favor do impeachment, e dos aliados mais identificados com o governo, que se posicionarão contra o impedimento, há uma grande parcela de deputados que não tem o voto definido.
Apesar de o impeachment ter ganho impulso com o desembarque do PMDB do governo, a fonte avalia que o clima do momento e a percepção sobre qual será o resultado da votação –se o governo perde ou ganha– é que determinará em que sentido seguirá a “avalanche” de deputados.
Partidos aliados como o PP e o PR devem seguir essa lógica, assim como o PMDB, que já não integra mais a base do governo, mas ainda pode fornecer votos para barrar o impeachment.
Partido com as maiores bancadas na Câmara e no Senado, o PMDB, presidido pelo vice Michel Temer, decidiu em reunião do diretório nacional deixar o governo Dilma.
Na ocasião, a legenda definiu também que entregará todos os cargos que ocupa no governo federal --seis ministérios e postos no segundo escalão--, ameaçando os que permanecerem a enfrentar um processo no conselho de ética da sigla.
A decisão abriu a bolsa de apostas, e o governo trabalha na articulação para angariar os votos dos aliados indecisos, além de brigar para manter os votos que já tinha no PMDB. A conta feita pelo Palácio do Planalto é que, mesmo com o desembarque, o governo ainda pode contar com possivelmente algo entre 20 e 25 votos peemedebistas. Nas últimas votações na Câmara, o partido deu algo em torno de 35 votos ao governo.
Numa dessas investidas, segundo a fonte, a presidente pediu aos ministros do PMDB que não deixem as pastas –o sétimo ministro da cota do partido, Henrique Eduardo Alves, deixou o comando do Turismo ainda na segunda-feira.
A senha para os que quiserem ficar será o discurso de que optem, por decisão pessoal, por encontrar um ponto de equilíbrio entre a responsabilidade pública do cargo que ocupam e a disciplina perante o partido.
A ameaça de processo dentro do partido por ora não surte efeito, uma vez que não interessa à sigla provocar qualquer ruptura, seja qual for o desfecho da votação do impeachment. A unidade partidária, aliás, torna-se mais do que necessária se Temer assumir a Presidência da República em caso de impeachment de Dilma.
Com o desembarque do PMDB, a estratégia do Planalto é ir para o varejo, buscando apoios individuais. Para evitar a aprovação da admissibilidade do impeachment na Câmara o governo precisa evitar que 342 deputados votem a favor da abertura do processo.
De acordo com uma fonte próxima ao Planalto, o governo precisa garantir em sua base algo em torno de 190 deputados para ter uma margem de perda em uma votação de impeachment.
São necessários 172 votos para garantir que a proposta não vá adiante. Hoje, a conta no Planalto é que não se tem esse número assegurado.
(Com reportagem adicional de Lisandra Paraguassu)