Operação Xepa mostra que a corrupção continuou mesmo com a prisão de Marcelo Odebrechet

Publicado em 22/03/2016 09:22
na VEJA: PF deflagra 26ª fase da Lava Jato e mira OdebrechtXepa, a ação desta terça-feira, é um desdobramento da fase que prendeu marqueteiro do PT, João Santana. Agentes cumprem 110 mandados em oito Estados e no Distrito Federal

A Polícia Federal deflagrou na madrugada desta terça-feira a 26ª fase da Operação Lava Jato. Agentes cumprem mandados em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Piauí e Distrito Federal. O principal alvo da ação é a empreiteira Odebrecht.

Cerca de 380 policiais federais cumprem 110 mandados: 67 de busca e apreensão, 28 de condução coercitiva, 11 de prisão temporária e 4 de prisão preventiva. A ação de hoje, batizada Xepa, é um desdobramento da 23ª fase da Lava Jato, a Operação Acarajé, que prendeu o marqueteiro do PT, João Santana, e a mulher dele, Mônica Moura. Santana aparecia em planilhas de pagamento da Odebrecht como 'Feira'.

Durante as investigações decorrentes da Acarajé, a PF detectou um esquema de contabilidade paralela da empreiteira destinado ao pagamento de propina a agentes "com vínculos diretos ou indiretos com o poder público em todas as esferas", informa a corporação. Os destinatários da propina eram indicados por altos executivos da Odebrecht.

De acordo com a PF, há indícios concretos de que a Odebrecht se utilizou de operadores financeiros ligados ao mercado paralelo de câmbio para efetuar os pagamentos ilegais. Os alvos desta operação são investigados pelos crimes de corrupção, evasão de divisas, organização criminosa e lavagem de dinheiro.

 

Nem prisão de Odebrecht interrompeu pagamento de propina, diz MP

Lava Jato chega definitivamente ao caixa dois da empreiteira - e joga por terra linha de defesa adotada até aqui pelo executivo, apontado como comandante do esquema

A Operação Lava Jato chegou definitivamente ao caixa dois do Grupo Odebrecht. Os mandados de busca e apreensão cumpridos nesta terça-feira na 26ª fase da operação jogam por terra a linha de defesa do empreiteiro e herdeiro Marcelo Odebrecht, que sempre argumentou na Operação Lava Jato que ele não detinha conhecimento de todas as estruturas da companhia e que tampouco adentrava no dia a dia das empresas do grupo. A nova etapa das investigações, batizada de Xepa, desvendou um esquema estruturado de pagamento de vantagens indevidas pelo Grupo Odebrecht e mostra que pelo menos até novembro de 2015 há registros de tratativas de pagamentos de dinheiro sujo feitas por executivos.

A nova fase da Lava Jato deve evidenciar ainda que o próprio marqueteiro João Santana, responsável pelas últimas campanhas publicitárias do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff, foi beneficiário direto de um esquema paralelo de pagamentos da Odebrecht. Os repasses foram feitos por uma estrutura específica no Setor de Operações Estruturadas da companhia. Nele, um sistema informatizado próprio processava o pagamento de propinas e permitia a comunicação sigilosa entre executivos e funcionários envolvidos nas tarefas ilícitas. Nos papéis coletados pela PF, os beneficiários estão registrados por codinomes. Ao lado, valores elevados relacionados a contratos em todo o país. De todos os codinomes, um dos mais vistosos é "Feira", em referência a Santana e à esposa dele, Mônica Moura.

São pelo menos 14 executivos de diversos setores do Grupo Odebrecht que davam ordens para os pagamentos paralelos do conglomerado. "Essas evidências abrem toda uma nova linha de apuração de pagamento de propinas em função de variadas obras públicas", disse o Ministério Público. Para os investigadores, as evidências de pagamento de propina em escala mostram que repasses de dinheiro sujo eram um "modelo de negócios" da Odebrecht. "Obtiveram-se mais evidências contundentes de que [Marcelo Odebrecht] não apenas tinha conhecimento e anuía com os pagamentos ilícitos, mas também comandava diretamente o pagamento de algumas vantagens indevidas, como, por exemplo, as vantagens indevidas repassadas aos publicitários e também investigados Monica Moura e João Santana", diz o MP.

No início do mês, quando foi deflagrada a 23ª fase da Lava Jato, com foco no marqueteiro do PT, uma planilha de contabilidade paralela feita pela construtora Odebrecht listava pagamentos de 21,5 milhões de reais feitos pela companhia entre outubro de 2014 e julho de 2015, período da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff e dos primeiros meses do segundo mandato da petista, já sob efeito da Operação Lava Jato. Naquele primeiro documento, ao lado do registro "Feira", havia códigos como "leite", "cerveja", "bacalhau" e "temperos", o que, de acordo com a PF, são senhas para contabilizar o repasse de dinheiro ilegal. "A inserção de codinomes é um claro indicativo de tratar-se de operações à margem da contabilidade da empresa, buscando 'mascarar' pagamentos não contabilizados de forma oficial", anotou a Polícia Federal.

 

Nova fase da Lava-Jato vai gerar investigações em obras do governo além da Petrobras

Novas frentes de investigação

Investigadores que atuam na Lava-Jato acreditam que o suposto sistema de pagamento paralelo da Odebrecht irá abrir as portas para que casos de corrupção semelhantes ao que acontecia na Petrobras sejam descobertos em outras obras do governo.

Os investigadores esperam encontrar provas do pagamento de propina em diversas obras do grupo que eram realizadas com a presença de recursos públicos.

Odebrecht: na Xepa

A 26ª fase da Lava-Jato, batizada de Xepa, tem como principal implicado o empreiteiro Marcelo Odebrecht.

Com o que se descobriu a partir da operação Acarajé e o que será revelado após as buscas e prisões desta terça-feira, será “impossível” ao herdeiro da maior construtora do país negar seu envolvimento com os desvios da Petrobras e outros crimes, dizem pessoas enfronhadas na investigação.

Os investigadores acreditam que, depois da Xepa, só restará ao herdeiro da Odebrecht fechar acordo de delação premiada — a que ele ainda resistia, apesar de ter liberado executivos da empreiteira para colaborar com a Justiça.

 

Executivo da Odebrecht mais perto da extradição

O governo brasileiro já providenciou todos os documentos para embasar o pedido de extradição de Fernando Migliaccio da Silva, executivo da Odebrecht apontado pelo Ministério Público Federal como operador de duas offshores da empreiteira utilizadas para pagar propinas no exterior. O empresário foi preso em Genebra há um mês tentando encerrar contas bancárias e esvaziar um cofre na cidade suíça. O Ministério da Justiça repassou ao Itamaraty "documentos justificativos e formalizadores do pedido de extradição". Migliaccio é apontado pelo Ministério Público como operador das offshores Constructora Internacional Del Sur e Klienfeld Services. Ele teria intermediado pagamentos de propina da empreiteira em outros países, como na Argentina, cujo ex-secretário de Transportes Ricardo Raúl Jaime teria recebido dinheiro referente à obtenção do contrato de soterramento do Ferrocarril Sarmiento pela Odebrecht. A polícia descobriu que Migliaccio usava um e-mail sigiloso para tratar de questões suspeitas - o endereço era o.overlord@hotmail.com. (Laryssa Borges, de Brasília)

Fonte: veja.com

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