Dólar despenca 2,29%, maior queda ante o real em quatro meses, por crise política

Publicado em 17/03/2016 18:28

Por Bruno Federowski

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em queda de mais de 2 por cento, a maior em pouco mais de quatro meses e que o levou ao patamar de 3,65 reais nesta quinta-feira, com investidores apostando mais forte na eventual troca de governo após a divulgação de conversa entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff.

O dólar recuou 2,29 por cento, a 3,6533 reais na venda, maior queda diária desde 3 novembro de 2015 (2,39 por cento). A moeda norte-americana chegou a 3,6033 reais na mínima do dia.

"A probabilidade de a presidente Dilma terminar o seu mandato é mínima", escreveram analistas do corretora Guide Investimentos em relatório.

A divulgação da conversa levou à interpretação de que Dilma estaria entregando o termo de posse a Lula para protegê-lo de eventual ação da operação Lava Jato, já que sua chegada à Esplanada do Ministério o tira do alcance da primeira instância em Curitiba e lhe dá foro privilegiado junto ao Supremo Tribunal Federal (STF).

No fim da manhã, liminar de um juiz federal suspendeu a nomeação, argumentando que a nomeação coloca em risco o livre exercício do Poder Judiciário e das atuações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. A Advocacia-Geral da União (AGU) informou que vai recorrer da decisão judicial.

Com isso, o dólar manteve a tendência de queda vista no fim da sessão passada, após subir com força no início da semana conforme crescia a expectativa de que Lula assumiria um ministério.

"A leitura é que Lula não vai conseguir evitar o impeachment e isso impulsiona os ativos brasileiros", disse o superintendente regional de câmbio da corretora SLW, João Paulo de Gracia Corrêa.

Para boa parte do mercado financeiro, a troca de governo poderia resultar em maiores chances de recuperação da economia e o fim da crise política.

O movimento do dólar nesta sessão também vinha em sintonia com os mercados externos, onde a moeda norte-americana recuava após o Federal Reserve projetar menos altas de juros neste ano. A manutenção de juros baixos pelo banco central norte-americano tende a favorecer ativos emergentes, que oferecem rendimentos elevados como os do Brasil.

Citando o cenário externo mais tranquilo, o BC anunciou que reduzirá a rolagem de swaps cambiais, contratos equivalentes a venda futura de dólares. Uma fonte do BC afirmou à Reuters que a decisão veio em reação à decisão do Fed e à menor demanda por swaps com o atual patamar do câmbio.

Operadores entenderam que a decisão tem como fim reduzir o estoque de swaps, equivalente a cerca de 110 bilhões de dólares. Essas operações tendem a gerar custos ao BC quando o dólar sobe e contribuíram para elevar a dívida bruta e o déficit nominal no ano passado.

"O BC quer retomar o que começou no ano passado, quando começou a fazer rolagens parciais, e viu espaço para isso agora", disse o gestor de um banco internacional.

"Em termos de cotação, isso não muda a tendência. O destino do dólar depende do cenário político", acrescentou.

Pesquisa da Reuters com economistas e estrategistas mostrou que o dólar pode cair ao menor valor desde meados do ano passado, ou bater novos recordes, dependendo do desfecho do processo de impeachment de Dilma.

Nesta manhã, o Banco Central realizou mais um leilão de rolagem dos swaps que vencem em abril com venda integral de 9,6 mil contratos. Até o momento, o BC já rolou 6,003 bilhões de dólares, ou cerca de 60 por cento do lote total para abril, que equivale a 10,092 bilhões de dólares.

Fonte: Reuters

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Cerca de 80 países chegam a acordo sobre comércio eletrônico, mas sem apoio dos EUA
Brasil terá bandeira verde para tarifa de energia em agosto, diz Aneel
Wall Street termina em alta com apoio de dados de inflação e ações de tecnologia
Ibovespa avança mais de 1% impulsionado por Vale e quase zera perda na semana; Usiminas desaba
Dólar acumula alta de quase 1% na semana em que real foi pressionado pelo iene
Podcast Foco no Agronegócio | Olho no mercado | Macroeconomia | Julho 2024