LULA MINISTRO – Ex-presidente e Dilma debocham do povo e das instituições; ele quer nos enterrar por várias gerações

Publicado em 15/03/2016 07:49
Em entrevista, Rui Falcão admite que chefão petista seria uma espécie de primeiro-ministro; como inexiste esse cargo no Brasil, então ele se oferece para ser um ditador (por REINALDO AZEVEDO)

Se for nomeado ministro, Luiz Inácio Lula da Silva será, na prática, primeiro-ministro. Como esse cargo inexiste no Brasil, ele se transforma, então, em presidente da República, e Dilma passa a exercer uma função meramente decorativa. A rigor, hoje, ela já dispõe de muito menos prerrogativas do que o cargo lhe confere, uma vez que entregou parte considerável das suas tarefas a dois prepostos de Lula: Jaques Wagner (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo). Um dos dois abriria lugar para o superministro. Em entrevista a Amanda Klein, da RedeTV, levada ao ar na noite desta segunda, Rui Falcão, presidente do PT, diz cheio de orgulho que seria isto mesmo: Lula como uma espécie de primeiro-ministro.

É um acinte e um descalabro. Um primeiro-ministro pode ser destituído por um voto de desconfiança do Parlamento. Um presidente, como sabemos, só deixa o cargo em circunstâncias bem mais complicadas: crime comum no exercício do mandato, crime de responsabilidade ou se cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Na prática, então, ao menos enquanto o Ministério Público e o Supremo deixassem, Lula seria uma espécie de ditador do Brasil, atuando como presidente, por delegação de Dilma, mas sem ser eleito por ninguém.

 

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Aqui, é preciso que se digam as coisas com clareza. Embora as questões de polícia os tenham aproximado, as de política os distanciam bastante. O leitor talvez não saiba, mas é preciso que se diga: hoje, Lula e Dilma se detestam. E há quem jure que um se refere ao outro, privadamente, aos palavrões, daqueles que ofendem a ascendência… E daí? Lula está se impondo a Dilma, e o PT a convenceu de que ele pode salvá-la do impeachment. Mas, para tanto, precisa ter todo o poder.

E ela lhe ofereceu. Lula não quer ver seu nome colado a uma recessão. Ao contrário: ele quer ser o ministro do “renascimento econômico” e, ora vejam, para assumir a Presidência informal exige mudança da política econômica. Uma das ideias de jerico dos companheiros e passar a usar as reservas para fazer bombar a economia. Lula está disposto a destruir o Brasil por muitas gerações.

Golpe
Eis aí o verdadeiro golpe. É evidente que, se assumir um ministério, Lula está em busca do foro especial por prerrogativa de função. A investigação do tríplex — seja a que já estava com o Ministério Público Federal, seja a que caminhava no MP de São Paulo — e do resto migra para o Supremo.

A decisão de fazer Lula ministro indica o que o PT entende ser o sistema político brasileiro: aposta-se que ele pode ser refém de um homem e de uma única vontade.

Há mais: nas conversas reservadas que anda tendo, Lula passa a certeza a uma parcela dos políticos, especialmente do PMDB, de que consegue pôr um freio na Operação Lava Jato. A suposição, desde sempre, é a de que falta pulso ao governo para enquadrar a Polícia Federal.

A operação é típica de republiqueta de banana e de bananas. Se Dilma e o PT realmente fizerem essa escolha, estarão jogando a Presidência da República, como instituição, na lama. A dupla estaria debochando do povo brasileiro, na certeza de que Polícia Federal, Ministério Público, Congresso e Justiça não passam de marionetes da vontade de um “condutor”, de um líder. No depoimento ao Ministério Público Estadual, Lula expressou a convicção de que é mesmo um Super-Homem.  Anunciou que vai se candidatar em 2018 e desafiou: vamos ver quem terá coragem de barrá-lo.

Essa reta final do petismo não será fácil. E que fique claro para todos: Lula ministro é a escolha do tudo ou nada.

Vamos ver: ou as instituições reagem ou vamos para o buraco.

 

Lula desafia as instituições e provoca: alguém tem “coragem” de mexer com ele?

O depoimento de Lula à Polícia Federal, vindo a público nesta segunda, é uma das coisas mais grotescas de que se teve notícia nos últimos tempos. E notem: estou entre aqueles que criticaram a tal condução coercitiva. Isso não quer dizer que não se tenha assistido a um espetáculo de arrogância, bufonaria e malcriação.

Não tem jeito! Lula se considera acima das vicissitudes humanas. De tanto que lhe falaram que é Deus, ele acabou acreditando. Destaque-se de saída, a sua afirmação, como se isso fosse do interesse da Polícia Federal, de que será, sim, candidato em 2018. E desafiou: quer saber se alguém terá “coragem” de torná-lo inelegível.

A construção é emblemática. Observem que, para Lula, no que lhe diz respeito, elegibilidade ou inelegibilidade não são matéria de lei, mas de “coragem”. Vale dizer: ele está acima das instituições. E ponto.

 

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Lula anda arrogante. Disse ter desistido do imóvel em Guarujá porque o achou pequeno. Segundo o chefão, um apartamento de 215 metros quadrados é um “tríplex Minha Casa Minha Vida”. Só para informação: as casas do programa passaram de 35 m² para 39,6 m², e os apartamentos, de 42 m² para 45,5 m². A área que o Poderoso trata com tanto menoscabo corresponde a 5,4 casas e 4,7 apartamentos do programa, do qual, visivelmente, faz pouco caso.

E sobre o sítio de Atibaia? Ele nãos sabe de nada. E sobre as nomeações da Petrobras? Ele não sabe de nada. E sobre a propina cobrada por João Vaccari Neto? Ele não sabe de nada e, na verdade, não acredita que este “grande dirigente sindical” tenha feito coisas erradas. E onde ficam os pertences que ele levou de Brasília? Ele não sabe de nada. E os repasses das empreiteiras para o Instituto Lula? Ele não sabe de nada. Deve ter sido coisa de algum assessor. E os pagamentos do seu instituto, que recebia dinheiro de empreiteiras, para empresas dos filhos? Ele não sabe de nada, é claro!

A única coisa de que Lula demonstrou ciência foi o valor das suas supostas palestras, pagas por empreiteiras: US$ 200 mil. Segundo ele, é o que cobra Bill Clinton. Fiquei com a impressão de que ele acha que a gente deveria se orgulhar dessa equiparação. A única coisa estranha é que inexistem registros desses eventos. Deles, sobrou apenas o dinheiro pago pelas empreiteiras.

Lula ficou indignado muitas vezes. Perguntou por que o promotor do Ministério Público de São Paulo, em vez de chamar a Marisa Letícia para depor, não chama a própria mãe ou a mulher… Lula é do tipo que põe a mãe no meio.

E pronto! E essa foi a síntese do depoimento desse gigante moral. É puro como as flores.

Mas quer saber se alguém tem “coragem” de bulir com ele.

 

Em desespero, Dilma tenta autogolpe com Lula, por JOSIAS DE SOUZA (UOL)

 

O brasileiro já ouviu muitas histórias de gente tirando gênio de garrafas. Mas nunca antes na história desse país se ouvira falar de alguém obrigando o gênio a retornar à garrafa. Na versão de um ministro petista é o que Lula está fazendo com Dilma. Vendida em 2010 como gestora genial, ela foi convencida a entregar ao antecessor o futuro dos escombros que restaram do seu governo.

Numa tentativa desesperada de se livrar do impeachment, Dilma fará de Lula um superministro, com sala no Planalto. Ele chefiará a articulação política do governo e projetará sua sombra sobre toda a Esplanada, especialmente sobre a pasta da Fazenda. Depois de acusar os rivais de tramar um golpe, Dilma recorre a um autogolpe. Lula entrará pela porta dos fundos numa espécie de terceiro mandato.

A manobra envolve alto risco. Ao patrociná-la, Dilma como que exerce um dos poucos privilégios que ainda lhe restam —o privilégio de escolher seu próprio caminho para o inferno. Com o governo esfarelando-se, madame atrelou seu destino ao de Lula, divorciando-se definitivamente das ruas.

No último domingo, o asfalto roncara sobretudo para exigir o impeachment de Dilma e prestigiar Sérgio Moro, cacifando-o para punir inclusive Lula ‘Jararaca’ da Silva. Em resposta a essas demandas, Dilma resolveu unir o inútil ao desagradável: para se manter no cargo, concede à serpente o foro privilegiado dos ministros, livrando a cobra criada do PT dos rigores do juiz da Lava Jato.

O movimento é inútil porque, ainda que consiga deter o impeachment, o máximo que Lula fará por Dilma é acomodá-la no verbete da enciclopédia como a primeira pessoa na história a se tornar ex-presidente ainda no exercício da Presidência. É desagradável porque a presença de Lula na Esplanada, além de não ser um bom exemplo, é um péssimo aviso: o governo entrou na fase do vale-tudo.

Tomado pelo que se diz dele no Planalto, Lula retornará a Brasília para operar milagres. Na política, promete reagrupar o bloco partidário que dava suporte aos governos petistas no Congresso. Na economia, acena com uma reviravolta capaz de abreviar a retomada do crescimento. Falta combinar com a lógica.

Quando ainda era um presidente da República popular, Lula só conseguiu apoio no Congresso comprando aliados com o dinheiro sujo do mensalão e do petrolão. Os parlamentares governistas continuam com o mesmo código de barras na testa. Mas o governo, com a força-tarefa da Lava Jato no seu encalço, já não pode remunerá-los como antes. O novo superministro manuseará um orçamento em ruínas.

Não é só: retratado nas ruas como um boneco-presidiário batizado de Pixuleco, investigado por corrupção, tráfico de influência, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica, Luís Inácio já não é o mesmo Lula da Silva. É nessa condição de ex-Lula que terá de convencer o PMDB, por exemplo, de que é mais negócio permanecer com Dilma do que colocar na cadeira dela o correligionário Michel Temer, seu substituto constitucional.

A contabilidade do impeachment favorece Dilma. Para aprovar o pedido na Câmara, os antagonistas do governo precisam reunir 342 votos. Para barrar o impedimento, o Planalto tem de juntar apenas 171 votos. Líder do governo na Câmara, o deputado José Guimarães (PT-CE) afirma que, se o governo não tiver algo como duzentos votos no plenário, é porque a propalada governabilidade já foi para o beleléu.

Na economia, a guinada defendida por Lula e seus devotos no PT passa pelo abandono de projetos como a reforma da Previdência e de estratégias como o rigor fiscal. Tudo em nome de uma hipotética retomada do crescimento ainda em 2016. Como se fosse possível colher bons indicadores sem plantá-los.

De resto, a aposta do Planalto na capacidade de Lula de fazer e acontecer desconsidera o fato de que a Lava Jato introduz na conjuntura muitas surpresas, espantos, choques, assombrações e uma certa dose de ‘sim senhor, quem diria?!?’.

Nesta segunda-feira, por exemplo, enquanto o morubixaba do PT se equipava para os novos desafios, veio à luz a notícia de que o ex-deputado federal Pedro Corrêa, cacique da tribo do PP, preso em Curitiba, fechou um acordo de delação premiada com a força-tarefa da Lava Jato.

Corrêa contou aos investigadores, entre outras coisas, que Lula tinha plena ciência das propinas que o PP beliscava na Petrobras. Aos pouquinhos, a turma de Curitiba vai fechando o cerco ao redor de Lula. Ainda que fuja de Sérgio Moro, presidente informal da República terá de se entender com o STF. E já estão no forno novas delações.

Fica-se com a impressão de que Dilma passará a dispor não de um ministro providencial, mas de um cúmplice full time. De certo mesmo, o autogolpe propiciará, por enquanto, uma perda da dignidade funcional de uma presidente em apuros. E dignidade é como virgindade. Perdeu, está perdida. Não dá segunda safra

– Charge do Paixão, via Gazeta do Povo.

 

PT pressiona Lula para virar um tutor de Dilma

Sob o impacto da maior manifestação de rua da história do país, cresceu nas últimas horas a pressão do PT para que Lula ocupe um ministério no que restou do governo de Dilma Rousseff. Disseminou-se na cúpula do partido o entendimento segundo o qual a presença de Lula no primeiro escalão pode ser a única cartada capaz de deter o avanço do impeachment. Deseja-se que o criador de Dilma atue como uma espécie de tutor de sua criatura, articulando uma reação.

Desde que a plataforma eleitoral de Dilma se converteu em estelionato político, já nos primeiros meses depois do início do segundo mandato, o país esperava pelo sinal de que o fim estivesse próximo. Os protestos deste domingo justificaram o uso do ponto de exclamação que costuma soar quando as pessoas dizem “tudo tem limite!” O asfalto emitiu um sinal eloquente.

Nesta segunda-feira, 14 de março de 2016, restam 1.021 dias de mandato para Dilma. Foram transformados pelas ruas em epílogo. Longe dos refletores, não se ouve nenhuma voz capaz de apostar uma pataca na permanência de Dilma no cargo por tanto tempo sem um milagre. Para o petismo, o milagre se chama Lula.

Na noite passada, o repórter perguntou a um dos devotos de Lula que mágica ele faria para conseguir superar os mágicos convencionais, tirando uma cartola de dentro do coelho. Eis a resposta: “O Lula é, a essa altura, a única lideranças capaz de virar o governo do avesso, dando a ele um rumo.” A afirmação baseia-se num tipo de fé que parece mais cristã do que política. A esse ponto chegou o governo Dilma.

É improvável que Lula, cuja santidade encontra-se sub judice em vários inquéritos, consiga soerguer o governo Dilma. Mas sua conversão em ministro seria um castigo do destino proporcional aos seus pecados. Primeiro porque parte do desgaste de Dilma se deve a ele, já que o petrolão, assim como o mensalão, foi idealizado e implementado na sua gestão. Segundo porque a fábula do talento gerencial de Dilma é de sua autoria.

São três os mecanismos legais que podem ser usados para encurtar o mandato de Dilma: a renúncia, que ela rejeita; a cassação da chapa presidencial pela Justiça Eleitoral, que depende de um processo demorado; e o impeachment, que o eventual desembarque do PMDB pode apressar no Congresso. Nas próximas semanas, não se falará noutra coisa em Brasília.

O epílogo de Dilma pode ser longo ou curto. Por ora, a única certeza é que, com Lula no ministério, o ocaso seria mais divertido. De saída, seria hilário observar a ginástica verbal que o personagem faria para negar que sua nomeação tivesse o objetivo de lhe escondê-lo do juiz Sérgio Moro, atrás do biombo do foro privilegiado.

Fonte: veja.com + FOLHA/UOL

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