Editorial da FOLHA: Recado cabal; Enterro de gala do PT; Um dia que valerá por anos

Publicado em 14/03/2016 06:29
na edição da FOLHA DE S. PAULO desta segunda-feira, 14/3/2016

Um dia que valerá por anos

Por ROGERIO CHEQUER, do Movimento vem pra rua

Com 6,5 milhões de manifestantes pelo Brasil, o dia 13 de março de 2016 entra para a história como a maior manifestação política e social da humanidade. Por qualquer critério que quisermos avaliar -número de participantes, número de cidades, convites ou confirmações no Facebook-, um país nunca reuniu tanta gente nas ruas.

Crianças e idosos, ricos e pobres, nortistas e sulistas saíram às ruas para pedir o fim da impunidade, o fim da farra, o fim de um governo escancaradamente corrupto. E o fizeram de forma surpreendente.

Em um país acostumado a manifestações políticas ideologicamente radicais, pouco conhecidas pelo apreço à organização, à disciplina e ao respeito às leis, pode parecer surpreendente que cinco manifestações nacionais reunindo mais de 10 milhões de pessoas tenham um saldo como as nossas: nem uma única vitrine quebrada.

Os brasileiros, mesmo revoltados, deram um exemplo de cidadania, ordem e civilidade. Isso mostra que há formas pacíficas de se unir uma população em torno de uma causa comum. A imensa maioria dos brasileiros sabe conjugar indignação, protesto e respeito. Novas tecnologias, planejamento e pessoas com valores republicanos muito bem definidos estão levando o Brasil a inovar no campo da participação política. E este é apenas o
começo.

Mas o dia 13 de março também traz uma peculiaridade: um novo recorde bizarro do PT. O mesmo partido que foi (e ainda é) protagonista do maior escândalo de corrupção da história da humanidade passa agora a deter também o recorde de ser o inspirador da maior manifestação de todos os tempos. Bicampeão mundial, em corrupção e revolta popular.

E ainda há quem tenha a cara de pau de afirmar que o impeachment não é legítimo. O dia 13 de março escancara a permanência insistente de uma minoria incompetente, pendurada no abismo, agarrada ao poder em corda prestes a se romper.

Os recordes deste dia, no entanto, não são suficientes para mudar o Brasil de forma sustentável. A mudança do país começa com o impeachment de Dilma Rousseff, mas continua com a renovação política, com o fim da impunidade, com o fortalecimento das instituições democráticas, objetivos de longo prazo do Movimento Vem Pra Rua.

Aqui entra novamente o dia 13 de março, consolidando o segundo pilar do impeachment, o apoio popular, somado ao crime de responsabilidade, já configurado.

Resta agora o terceiro pilar, o andamento político do processo. Essa tarefa cabe aos parlamentares do Congresso. O impeachment, desejo do povo, só pode ser implementado por eles. E reunir 342 votos, num governo ainda aparelhado, não é tarefa trivial.

Aqui, o obstáculo. O povo está revoltado de forma generalizada com a classe política, e não faltam motivos para tal. Mas, sem os políticos, nada acontece.

Para conciliar os dois lados, ajuda reconhecer um objetivo comum às duas partes, nesse momento decisivo: a queda constitucional do governo atual e a transição para um governo que consiga recuperar nossa trajetória de crescimento até as próximas eleições presidenciais.

Com essa agenda comum, sociedade e políticos devem, agora, após a confirmação do desejo popular, seguir juntos rumo ao impeachment e à transição. Aos políticos, a sociedade deve oferecer apoio, particularmente ao grupo que está tomando a frente do processo, para que possam formar maioria. À sociedade, os políticos devem oferecer sua luta incondicional, resgatando os objetivos de representatividade descritos em suas funções.

Na fase final, e derradeira, deste triste capítulo da história do Brasil, só o trabalho conjunto e coordenado entre sociedade e políticos pode nos tirar desta lama de escárnio, incompetência e sofrimento.

E, aí sim, o dia 13 de março será lembrado não apenas como um recorde, mas como o dia no qual o povo brasileiro retomou a esperança no futuro que merece.

ROGERIO CHEQUER, 47, é empresário, líder e porta-voz do Movimento Vem Pra Rua*

 

Recado cabal, EDITORIAL DA FOLHA

Tendo reunido, ao longo da tarde, cerca de 500 mil pessoas em São Paulo —segundo o Datafolha—, e um número que, conforme o cálculo, oscila de 1 milhão a 3 milhões de participantes nas demais cidades do país, os protestos realizados ao longo deste domingo contra o governo Dilma Rousseff (PT) consistiram na maior manifestação política de que se tem registro na história do país.

Superando até mesmo a dimensão dos comícios pelas Diretas-Já em 1984, um impressionante contingente de brasileiros convergiu às ruas, de forma pacífica, bem-humorada e eloquente, num ato de definitiva rejeição.

Rejeição que se volta não apenas contra um governo atolado na incompetência administrativa, na crise econômica e na arrogância pessoal de seus integrantes, mas a um modelo político fundamentado na mistificação ideológica e nutrido pela corrupção.

É difícil imaginar as saídas possíveis, ou minimamente aceitáveis para o conjunto da população, que ainda restem aos estrategistas do PT e do governo federal.

Já na véspera, o PMDB sinalizava, em sua convenção, o seu afastamento da base parlamentar que precariamente sustentava o governo. De modo típico, não abandonou por enquanto os cargos de que desfruta no ministério —mas decidiu pela expulsão de quaisquer filiados que eventualmente aceitem novos postos no primeiro escalão do Executivo.

Os últimos dias vinham agravando a situação de Dilma. Se, desde o início do segundo mandato, eram inúmeros os motivos para a indignação popular, ganharam evidência novos sinais, mais graves, de corrosão moral e administrativa nos círculos do poder.

Nada terá sido mais decisivo, entretanto, do que a revelação dos laços entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e as principais empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato. As tentativas de mistificar a opinião pública quanto à natureza do escândalo, habilmente encetadas pelo líder petista, não tiveram —excetuada a cegueira habitual da militância—outro efeito que não o de acentuar as vontades generalizadas de protesto.

Terá caído por terra, paralelamente, a teoria petista de que o movimento contra a corrupção vinha apenas a expressar o inconformismo dos partidos e lideranças derrotados nas últimas eleições presidenciais. Hostilizados por parte dos manifestantes, os tucanos Aécio Neves e Geraldo Alckmin não permaneceram no palanque.

A palavra está agora com a presidente. Os atos superaram as previsões mais pessimistas do Planalto. Apesar de sua extensão e força, o país permanece dividido —e numa crise que, de uma forma ou de outra, é urgente superar.

A seita da jararaca

Por LUIZ FELIPE PONDÉ

O que estará pensando o PT após tamanha manifestação contra Lula, Dilma e associados, ontem, em todo o país?

Não temos bola de cristal, mas não é difícil ter alguma ideia do que estará passando na cabeça do PT. O PT é uma seita. Sempre foi. E o traço essencial de toda seita é o ódio. Esta seita colheu seu fanático séquito de seguidores entre grande parte da inteligência (tola?) do país, arregimentando professores, jornalistas, intelectuais, cientistas e estudantes, além, é claro, do pelotão de choque dos militantes profissionais.

Eu apostaria que o PT não está nem aí para o que aconteceu no Brasil ontem. Não que os petistas não estejam preocupados com a possível perda do PMDB na sua base, ou com o risco crescente do impeachment, ou com o sangramento e paralisia do governo. Isto é um pesadelo mesmo. Devem estar mijando nas calças. Devem acordar suando, com o gosto da comida de cadeia na boca, ou com a estranha sensação de que foram desmascarados na sua profunda vocação para o engodo.

Refiro-me a outra coisa. Há dez dias, após a condução coercitiva para o depoimento no aeroporto de Congonhas, o ex-presidente Lula fez um discurso raivoso contra todo este processo que reúne procedimentos jurídicos (Lava Jato como grande exemplo) e o nojo que seu partido parece causar na maior parte da população. Lula referiu-se a si mesmo como uma jararaca. Acho que deveríamos levar a sério sua metáfora.

O PT hoje continua sendo uma seita, mas não mais a seita da estrela da esperança (que enganou muitos e continua enganando alguns), mas a seita da jararaca. E seu veneno ainda pode ser mortal, justamente porque ele não está nem aí para a população. A essência do veneno da seita da jararaca (o PT) é justamente sua indiferença para com o Brasil e sua população comum, contrariamente ao discurso populista com o qual enfeitiçou o país por décadas.

O Partido dos Trabalhadores não tem nenhuma elegância diante da derrota. E isso nada tem a ver com a fato de que a maior parte dos petistas seja arrivista social. A deselegância é um comportamento que atravessa todas as classes sociais de forma "democrática". Mesmo se tiver que estrangular o pais, levando-nos à miséria absoluta, continuará a tentar mobilizar sua seita de seguidores da jararaca para impedir o que grande parte da população demonstrou ontem nas ruas.

A soberania popular (base da democracia), em grande parte, demonstrou ontem não mais reconhecer na presidente Dilma alguém que mereça confiança ética, política ou técnica. Além disso, a soberania popular "escolheu" Sérgio Moro em detrimento da jararaca. Mas, isso pouco importa à seita da jararaca.

Eis seu veneno, na sua forma atual. Este veneno, na sua forma clássica, foi a corrupção sistemática que montou no país e seu atraso mental em termos econômicos que pode levar o Brasil ao tempo da economia de subsistência. Há quem diga que grama que socialista pisou leva muito tempo para florescer de novo. Na sua forma atual, este veneno será sua tentativa, mesmo que a custos gigantescos para o país, de se manter no poder. E para o sofrimento do povo, ele oferecerá o sorriso sinistro da jararaca.

Viveremos dias fascinantes de agora em diante. Preparem seus corações para turbulências. As alma mais frágeis poderão ter medo, mas é em momento como esses que virtudes como coragem e disciplina são necessárias. Os covardes, provavelmente, ficarão paralisados. As jararaquinhas serão soltas pelas ruas, cuspindo seu discurso de que são vítimas das elites. Difícil imaginar que um "boy das empreiteiras" represente o grosso da população brasileira que está vendo sua vida ir pelo ralo.

Mas, vale lembrar que grande parte dessas jararaquinhas habita o pensamento público, apesar de que estão chocadas com o fato de que nem todo mundo "inteligente" teme ou pertence à seita delas. Penso mesmo, às vezes, que essas jararacas não conseguem entender que grande parte do país não as vê mais como santinhas redentoras. O PT é coisa do passado. Restará apenas as jararacas loucas correndo pelas ruas. 

Enterro de gala do PT

Por FERNANDO CANZIAN

Nada nem próximo da manifestação popular e espontânea que cobriu a avenida Paulista neste domingo (13) foi produzida até aqui pelo PT ou apoiadores da presidente Dilma Rousseff.

Desde que o ex-presidente chamou a militância para apoiá-lo no dia 4, apósdepor na Polícia Federal, só ocorreram poucos atos isolados e esporádicos, dentro de "ambientes controlados". Como na sede de sindicatos ligados à CUT ou bem na frente da casa do líder petista, em São Bernardo do Campo.

Em São Paulo, o que se viu neste domingo foram milhares de manifestantes chegando antes do horário para o evento, vindos a pé ou de metrô. Não havia sinais de "esquemas" oportunistas de transporte de pessoas.

A exceção foi a van tucana do governador de São Paulo que conduziu Geraldo Alckmin e Aécio Neves para a Paulista. Logo foram chamados exatamente de "oportunistas" e hostilizados por parte dos manifestantes.

Marta Suplicy (ex-PT e agora PMDB) também não escapou e teve de sair do meio dos manifestantes. Mais prudentes, deputados de oposição do DEM se reuniram no hotel Maksoud Plaza, atrás da avenida, e depois circularam discretamente.

No próximo dia 18, PT, CUT e outras centrais, sindicatos e movimentos sociais ligados ao partido terão sua vez de demonstrar força. Assim como no último grande evento que fizeram, será em um dia da semana (desta vez véspera de um fim de semana).

A estratégia, como se viu em outubro, será interromper o dia de trabalho antecipadamente e levar boa parte dos manifestantes e materiais, como bandeiras e balões, em ônibus fretados pela CUT e sindicatos.

A logística será paga com o dinheiro que centrais e sindicatos recebem todos os anos via descontos compulsórios (feitos em março) dos trabalhadores CLT, sindicalizados ou não. São repasses que não exigem qualquer prestação de contas sobre seu destino ou uso.

Se ficarem restritas a isso, sem um genuíno apoio popular, as manifestações pró Lula, Dilma e PT serão só mais um exemplo da falta de transparência político-partidária com o dinheiro público.

Um enterro de gala em plena avenida. 

Nas ruas contra o monstro

Por VINICIUS MOTA, DA FOLHA DE SÃO PAULO - 

Fosse o Brasil um país com instituições maduras, a degradação política e econômica que hoje observamos não teria se avolumado. A própria rua, que acaba de rugir como nunca antes na história deste país, estaria quieta.

Um aparato institucional forte não teria deixado agigantar-se o Leviatã dos contratos bilionários de bancos e empresas estatais com oligopólios entrelaçados à própria elite no poder. Não teria permitido que tudo fosse financiado com dívida a juros impiedosos lançada nas costas dos cidadãos, a comprometer o seu futuro.

Seria impensável a subversão das regras de exploração e produção na cadeia do petróleo no sentido de restituir o monopólio estatal e asfixiar a competição. Soluções de compromisso ajeitadas com a mão pelo governo, como o consórcio que construiu a hidrelétrica de Belo Monte, seriam impossíveis.

Todo esse substrato conferiu superpoderes de xeque árabe ao presidente no Brasil, em dias normais já dotado de atribuições extravagantes. Aproximou-o de um Putin tropical, que engolfou o Congresso e só encontrou resistência no Ministério Público, no Judiciário e na imprensa.

Eis o que pode confirmar o caráter especial do Brasil no conjunto de nações emergentes acometidas por uma hipertrofia assemelhada do Executivo durante o boom chinês. Aqui não chegamos ao fundo do poço, à rendição completa.

As ruas voltaram a encher-se também em reação às novas invectivas de Dilma e Lula contra a Lava Jato. Ambos transformam o que resta do governo num comitê de combate político a policiais, procuradores e juízes que produzem um colossal conjunto probatório de abuso do poder.

Resposta errada, presidente. Ou, em outro registro, resposta certa. Pode ser que a exposição crua da natureza do monstro, agora decrépito e a debater-se, seja um rito necessário para superamos de uma vez esse triste episódio de nossa história.

 

Próximo do fim!?

Por VALDO CRUZ,  de BRASÍLIA - 

Aconteceu o que o governo mais temia, a oposição esperava e o PMDB sonhava. Os protestos deste domingo (13) bombaram, foram maiores do que o das Diretas Já e deram força ao grupo que tenta tirar Dilma Rousseff do poder.

Às vésperas da retomada da tramitação do processo de impeachment na Câmara, as manifestações de ontem tornam mais plausível diagnóstico quase consensual partilhado por governo, oposição e peemedebistas. O desfecho da crise está próximo e pode não passar de julho.

Tal avaliação vai acelerar ainda mais uma corrida nos bastidores de Brasília. De uns, na busca de herdar o poder, de outros, para tentar mantê-lo e de muitos sonhando com seu rápido desfecho para escapar das garras da Operação Lava Jato.

Para esta última turma, o recado da equipe da Lava Jato é que a operação não vai parar, tal desejo é mera ilusão e vai se transformar em pesadelo com as novas delações.

O fato é que o domingo pode ser visto como um divisor de águas, que assusta o governo, pressiona o Congresso na análise do impeachment e faz Michel Temer evitar erros recentes e se posicionar como aquele que pode unir o país. Nesta toada, algo inimaginável acontece: o PMDB proíbe filiados de aceitar cargos. Claro, o melhor deles está logo ali.

Já a oposição celebra os protestos de ontem, acerta com o vice um governo de transição para recuperar o país e, assim, espera reconquistar o poder em 2018. Afinal, hoje o clima nas ruas não é bom nem para ela.
Do lado do governo e do PT, mais do que nunca muitos enxergam no ex-presidente Lula a última cartada capaz de evitar uma debandada da base aliada nesta hora derradeira e fugir de um fim horroroso.

Enfim, a voz das ruas cobra urgência para o desfecho da crise. Ela precisa ser superada com a reação do governo ou seu fim, mas pelas vias legais. O fato é que ninguém aguenta mais. Nem mesmo a própria equipe da presidente Dilma.

 

Dilma entre os carros de fuga

Por CELSO ROCHA DE BARROS

Aumentou consideravelmente a chance de Dilma Rousseff sofrer o impeachment. Não pela passeata deste domingo, que ainda não ocorrera quando esta coluna foi entregue. Mas porque Dilma está na encruzilhada de várias rotas de fuga.

O surgimento de nomes da oposição e a constante repetição de nomes do PMDB nas delações poderiam, em tese, ter melhorado a situação de Dilma. Em 2015, o entusiasmo pelo impeachment arrefeceu muito quando a população se informou sobre as alternativas à presidente.

Aconteceu o contrário: quando a sirene da polícia tocou, aumentou a disposição do establishment político de entregar Dilma, Lula e o PT à opinião pública e torcer para que isso arrefeça o ânimo investigativo. Daí em diante as negociações transcorreriam sem a pressão da opinião pública.

Não é bonito, mas acho que vai dar certo.

Afinal, para se livrarem da cadeia, basta aos empreiteiros entregarem os petistas. De volta às suas casas, tentarão voltar aos negócios de sempre. E já lhes é mais ou menos claro quem têm chance de voltar a ser governo. Esses não serão delatados. Nossa "Mãos Limpas" será maneta.

Lembremos que, até poucas semanas atrás, o impeachment parecia muito improvável, justamente porque um acordo entre PMDB e PSDB parecia distante. Cada um tinha seu projeto para 2018. Nenhum dos dois queria pagar o custo de popularidade do ajuste econômico sem o outro. Mas as diferenças se tornaram secundárias quando aumentou a urgência de encerrar o assunto.

Não faz o menor sentido o argumento de que o impeachment ganhou força devido às novas denúncias. A delação da Andrade Gutierrez, que aumenta as chances da chapa Dilma/Temer ser cassada, fez com que os tucanos se aproximassem dos pemedebistas? Qual seria o plano? Derrubar Dilma no Congresso e logo depois derrubar Temer nos tribunais? O PMDB concordaria? Lembremos que a ação no TSE foi proposta pelo próprio PSDB.

É muito mais provável que apostem que conseguirão convencer o TSE (como?) a livrar Temer, a essa altura já empossado como presidente. Se o TSE o fizer, a propósito, terá absolvido Dilma da única acusação sólida contra ela até agora. Mas a terá absolvido depois de impedida. A esperança é que ninguém mais esteja prestando atenção.

Além disso, a prisão de Lula tem cara de coisa grande o suficiente para parecer o ápice das investigações do petrolão, a prisão do Poderoso Chefão, o encerramento da história. Mas essa história não se sustenta com as evidências disponíveis. Lula provavelmente fazia lobby para as empreiteiras, e, se for o caso, deve ser legalmente responsabilizado. Mas o esquema era das empreiteiras. Pintar a prisão de Lula como o ápice das investigações do petrolão é acobertar muitas, muitas fugas.

E, finalmente: desconfiem de petistas menores insistindo na radicalização da política econômica. A maioria ali está sinceramente errada (como, na minha opinião, estão os manifestantes de ontem). Mas não estranharia se também houvesse uma rapaziada que aceita que o governo caia e que a crise se aprofunde para fugir na confusão.

Enfim, aumentou a chance de Dilma ser atropelada por um dos vários carros de fuga em disparada por Brasília.

 

PT pressiona Lula para virar um tutor de Dilma, por JOSIAS DE SOUZA (UOL)

Sob o impacto da maior manifestação de rua da história do país, cresceu nas últimas horas a pressão do PT para que Lula ocupe um ministério no que restou do governo de Dilma Rousseff. Disseminou-se na cúpula do partido o entendimento segundo o qual a presença de Lula no primeiro escalão pode ser a única cartada capaz de deter o avanço do impeachment. Deseja-se que o criador de Dilma atue como uma espécie de tutor de sua criatura, articulando uma reação.

Desde que a plataforma eleitoral de Dilma se converteu em estelionato político, já nos primeiros meses depois do início do segundo mandato, o país esperava pelo sinal de que o fim estivesse próximo. Os protestos deste domingo justificaram o uso do ponto de exclamação que costuma soar quando as pessoas dizem “tudo tem limite!” O asfalto emitiu um sinal eloquente.

Nesta segunda-feira, 14 de março de 2016, restam 1.021 dias de mandato para Dilma. Foram transformados pelas ruas em epílogo. Longe dos refletores, não se ouve nenhuma voz capaz de apostar uma pataca na permanência de Dilma no cargo por tanto tempo sem um milagre. Para o petismo, o milagre se chama Lula.

Na noite passada, o repórter perguntou a um dos devotos de Lula que mágica ele faria para conseguir tirar uma cartola de dentro do coelho. Eis a resposta: “O Lula é, a essa altura, a única lideranças capaz de virar o governo do avesso, dando a ele um rumo.” A afirmação baseia-se num tipo de fé que parece mais cristã do que política. A esse ponto chegou o governo Dilma.

É improvável que Lula, cuja santidade encontra-se sub judice em vários inquéritos, consiga soerguer o governo Dilma. Mas sua conversão em ministro seria um castigo do destino proporcional aos seus pecados. Primeiro porque parte do desgaste de Dilma se deve a ele, já que o petrolão, assim como o mensalão, fou idealizado e implementado na sua gestão. Segundo porque a fábula do talento gerencial de Dilma é de sua autoria.

São três os mecanismos legais que podem ser usados para encurtar o mandato de Dilma: a renúncia, que ela rejeita; a cassação da chapa presidencial pela Justiça Eleitoral, que depende de um processo demorado; e o impeachment, que o eventual desembarque do PMDB pode apressar no Congresso. Nas próximas semanas, não se falará noutra coisa em Brasília.

O epílogo de Dilma pode ser longo ou curto. Por ora, a única certeza é que, com Lula no ministério, o ocaso seria mais divertido. De saída, seria hilário observar a ginástica verbal que o personagem faria para negar que sua nomeação tivesse o objetivo de lhe escondê-lo do juiz Sérgio Moro, atrás do biombo do foro privilegiado.

 

 

Fonte: Folha de S. Paulo + UOL

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