Contra a declaração de independência do PMDB ao governo federal, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu (TO), lembra que o partido tem um compromisso com a administração de Dilma Rousseff e avalia que ele não pode ser dissolvido por conveniência momentânea.
Para ela, a sigla é sócia do governo tanto no bônus como no ônus e, por isso, a decisão de independência pode não ser compreendida pela população.
Convenção do PMDB começa com gritos de 'Fora Dilma' e 'Fora PT
Por DANIELA LIMA
A convenção nacional do PMDB começou na manhã deste sábado (12) embalada pelos gritos da militância de "Fora Dilma" e "Fora PT". As manifestações contra o governo também marcaram a abertura dos discursos de dirigentes estaduais e setoriais da sigla.
O ato teve início por volta das 9h. A ala oposicionista do partido preparou uma carta única, assinada por deputados estaduais, federais, que prega o "afastamento imediato dessa desastrosa condução do país". "Temos que desembarcar do governo que não nos respeita nem considera", pede os oposicionistas do partido na carta.
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Renato Costa/Folhapress |
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Convenção Nacional do PMDB começa em Brasília (DF) |
Não houve, até o momento, um discurso de defesa do governo. O vice-presidente Michel Temer ainda não chegou ao local.
O PMDB decidiu deixar os microfones abertos para as críticas ao governo mas fez um acordo que prevê que os pedidos de rompimento serão decididos pela direção nacional do partido depois, em até 30 dias.
O ato do partido, no entanto, foi tomado por críticas à presidente Dilma Rousseff e convocações para as manifestações deste domingo (13).
"O que dizem as ruas neste momento?", questionou o ex-ministro Geddel Vieira Lima. "Elas ecoam as vozes dessa sala."
LÍDER
Em diversos discursos, Temer foi descrito como "o grande líder" da legenda. Geddel chegou a dizer que "o mesmo entendimento que gerou unidade" dentro do partido em torno da reeleição do vice ao comando nacional do PMDB, "é capaz de se organizar para dar um alternativa" ao país.
Outros dirigentes locais do PMDB pregaram que o partido tenha "coragem de deixar esse governo".
ROMPIMENTO
A convenção vem sendo classificada nos bastidores como "um aviso prévio"do PMDB à petista. Líderes da sigla afirmam que, agora, é o momento "de falar para dentro" do partido e pregar a união em torno de Temer, que será reeleito presidente da sigla.
A cúpula peemedebista fez um acordo que prevê adiar qualquer decisão sobre o rompimento formal da sigla com o governo Dilma Rousseff em até 30 dias.
PMDB abafa divisões e adia rompimento com governo
Na tentativa de projetar Michel Temer como um líder político capaz de unificar diferentes correntes "em nome do Brasil", o PMDB decidiu sufocar divisões internas e transformar sua convenção nacional num ato de unção ao vice-presidente.
Após semanas de especulações sobre qual seria o tom do evento que acontece neste sábado (12), a cúpula peemedebista fez um acordo que prevê adiar qualquer decisão sobre o rompimento formal da sigla com o governo Dilma Rousseff em até 30 dias.
Nesse contexto, a convenção vem sendo classificada nos bastidores como "um aviso prévio" do PMDB à petista. Líderes da sigla afirmam que, agora, é o momento "de falar para dentro" do partido e pregar a união em torno de Temer, que será reeleito presidente da sigla.
O acerto foi fechado na noite desta quinta (10), em jantar dos líderes da legenda. Até então, havia uma disposição nas alas mais radicais do partido de usar o encontro para declarar, no mínimo, independência do Planalto.
Essa medida desobrigaria deputados e senadores da sigla de votarem conforme determinação do governo e de seus líderes no Congresso.
O recuo é resultado da ação de integrantes do PMDB no Senado, entre eles o presidente da Casa, Renan Calheiros (AL), e de integrantes da legenda de Estados que ainda apoiam o governo, como o Rio de Janeiro do deputado Leonardo Picciani.
Mesmo esses grupos, no entanto, reconhecem que a situação da presidente beira o insustentável. Nesse cenário, o adiamento da ruptura também dará ao PMDB tempo para acompanhar a repercussão das manifestações contra Dilma programadas para o domingo (13) e da finalização do julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal) sobre o impeachment.
Há ainda uma preocupação em aguardar o desfecho da tentativa de Dilma delevar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o seu ministério. O PMDB não acredita que o petista abraçará a ideia, mas pondera que esse pode ser um fator relevante para o destino de Dilma.
A cautela, porém, não impediu aliados de Temer de traçarem um roteiro com vistas a, em breve, sacramentar o desembarque do governo.
A criação do MDB, agremiação que deu origem ao PMDB, completará 50 anos no final deste mês. O partido planeja grande evento para a data, que também será usada para lançar a segunda etapa do plano de governo do PMDB, que ficou conhecido como "Plano Temer". O novo documento terá foco em propostas para a ação social.
MICROFONES
Apesar de manter o discurso de união interna em prol de Temer, o partido não vai barrar críticas à aliança entre o PMDB e o PT. Os microfones do evento ficarão abertos para a apresentação de moções contra Dilma.
Segundo o acordo da cúpula, no entanto, nenhuma dessas moções será votada. Os próprios líderes da legenda admitem que, embora ainda não haja unanimidade, hoje, a maioria do partido é a favor da ruptura com Dilma.
Mesmo as alas mais radicais foram convencidas a adiar as deliberações. "Nesse momento o partido está preocupado em mostrar à nação que é capaz de se unir para ajudar o Brasil", reconheceu o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), um dos opositores ao PT mais ferrenhos da sigla.
"A maioria do PMDB quer romper, mas isso ainda apresentaria uma divisão. Então vamos aguardar", concluiu.