Giro financeiro na Bovespa acelera por perspectiva política e maior presença de estrangeiros
Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - Após um início de ano com giro financeiro fraco, a Bovespa começou março com forte volume negociado, sustentado principalmente por investidores estrangeiros, mas também refletindo ajustes relevantes em posições de agentes locais.
Expectativas de mudanças no cenário político com implicações favoráveis nas perspectivas econômicas do país estão por trás desse movimento, que precisa de novas evidências no sentido de concretização de tais especulações para se manter.
"O aumento do volume deve persistir enquanto o noticiário político continuar alimentando as expectativas de uma mudança no governo federal", disse o chefe da mesa de renda variável da corretora de um banco estrangeiro em São Paulo.
Até o dia 9, o giro médio diário no mês estava em quase 10,8 bilhões de reais. Janeiro e fevereiro fecharam com volume médio de 5,2 bilhões e 6 bilhões de reais, respectivamente. A média em março está próxima do patamar de outubro do ano passado, quando o quadro político também ditou o tom na bolsa.
"O noticiário político e policial da semana passada parece indicar uma probabilidade maior de mudança no futuro e consequentemente quem estava 'underweight' em Brasil e ações, que era a maior parte, decidiu agir", disse o chefe da área de ações e negociação eletrônica de outra relevante corretora de um banco estrangeiro no Brasil.
"Todo mundo operou bem", disse o profissional, referindo-se a estrangeiros, agentes locais e fundos quantitativos, bem como de varejo, prevendo que volume continuará firme.
As posições compradas no fundo de índice (ETF) iShares MSCI Brazil, um dos principais termômetros sobre o apetite de estrangeiros por ações brasileiras, aumentaram cerca de 37 por cento desde o final de fevereiro, de acordo com profissionais do mercado de renda variável.
O iShares MSCI Brazil tem como lastro ações brasileiras e, conforme há interesse dos investidores, a gestora que o administra compra mais papéis no Brasil para emitir mais ETFs. Como os ETFs têm um número limitado de ações, a gestora vai criando outros fundos para atender a demanda.
O iShares MSCI Brazil acumula em março alta de mais de 20 por cento.
Dados de fluxo da BM&Bovespa ratificam a presença dos estrangeiros, com o saldo positivo em quase 5,7 bilhões de reais em março. Apenas no dia 4, quando uma nova fase da operação Lava Jato teve como alvo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, houve entrada líquida de mais de 2 bilhões de reais.
Para o gestor Eduardo Roche, da Canepa Asset Management, novos desdobramentos da operação Lava Jato com potencial de fragilizar ainda mais o governo, tendem a atrair também o investidor local.
"Em um primeiro momento, os fundos locais apenas desarmaram grandes posições vendidas na bolsa. Há a percepção que as posições compradas deles ainda estão baixas."
O prognóstico de mudanças na cena política soma-se a níveis relativamente atrativos das ações brasileiras, após tocarem mínimas desde 2009, conforme expresso pelo índice de referência do mercado acionário local, o Ibovespa.
No dia 20 de janeiro, o Ibovespa tocou mínima intradia desde março de 2009. Desde então, chegou a se valorizar 35 por cento, considerando a máxima intradia do ano, de 50.023 pontos no dia 4 de março. Apenas em março, considerando os dados de fechamento da véspera, o Ibovespa acumula alta de 14 por cento.
"No nível em que a bolsa se encontrava e segue é mais fácil subir", afirmou o diretor de Operações da Mirae Asset Wealth Management no Brasil, Pablo Stipanicic Spyer, destacando que o mercado acionário brasileiro estava bastante depreciado. E, neste mês, o estrangeiro foi quem mais comprou, disse.
Para o operador José Carlos Amado, da corretora Spinelli, a manutenção da expectativa de mudança na cena política pode seguir atraindo estrangeiros, embora ele avalie que muitos ajustes foram feitos e não descarta uma desaceleração no ritmo de transações.