Agência de risco Standard & Poor's rebaixa nota do Brasil de novo para BB
S&P volta a rebaixar rating do Brasil e aumenta distância do selo de bom pagador
SÃO PAULO (Reuters) - A agência de classificação de risco Standard & Poor's rebaixou nesta quarta-feira o rating do Brasil para "BB", de "BB+", alertando para desafios políticos e econômicos consideráveis, deixando o Brasil ainda mais longe do selo de bom pagador.
A S&P advertiu que pode piorar ainda mais a classificação ao atribuir a perspectiva negativa ao rating. O rebaixamento, disse a S&P, reflete a visão de que o perfil do país enfraqueceu desde setembro, quando a agência tirou o selo de bom pagador do país.
"Os desafios econômicos e políticos que o Brasil enfrenta permanecem consideráveis. Nós agora esperamos um processo de ajuste mais prolongado, com uma correção mais lenta na política fiscal, assim como outro ano de contração econômica acentuada", disse a S&P em comunicado.
O Brasil segue enfrentando dificuldades para equilibrar as contas públicas e a meta de superávit primário, equivalente a 0,5 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), é considerada de difícil cumprimento por economistas e até mesmo por membros da equipe econômica.
Neste cenário, o governo discute o tamanho do corte no orçamento e um limite para aumento dos gastos, enquanto busca formas de aumentar a arrecadação em meio às dificuldades para avançar o ajuste fiscal no Congresso. Além disso, há ainda a discussão dentro do governo sobre a criação de bandas para a meta fiscal.
A S&P prevê déficit primário de cerca de 1 por cento este ano e em 2017, com o governo voltando a fechar as contas no azul somente em 2018.
A perspectiva negativa indica que há grande chance de um novo corte no rating devido ao risco de mudança na política, devido à dinâmica e à inconsistência de iniciativas, ou como resultado de uma turbulência econômica maior do que esperada.
O Brasil tem agora a mesma nota que Bolívia e Paraguai, mas com a perspectiva pior. A S&P atribui perspectiva estável à nota da Bolívia e positiva à do Paraguai.
Do lado positivo, a S&P citou as contas externas do Brasil, que estão se ajustando mais rápido do que o previsto.
A S&P foi a primeira entre as três principais agências de classificação a tirar o selo de bom pagador do Brasil, passo seguido pela Fitch em dezembro. A Moody's mantém o país como grau de investimento, mas colocou o rating em revisão para rebaixamento em dezembro.
REPERCUSSÃO
O Ministério da Fazenda afirmou que "a revisão da nota do Brasil é temporária e será revertida tão logo os resultados das medidas em andamento comecem a produzir efeitos na economia, levando ao reequilíbrio fiscal e à recuperação do crescimento".
No mercado, a reação teve sinais distintos. Logo após o anúncio da S&P, o dólar reduziu um pouco a queda em relação ao real e o Ibovespa diminuiu os ganhos momentaneamente, mas fechou no azul.
O economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, disse que, mesmo sendo irrelevante o rebaixamento é sempre algo negativo e emblemático.
"Tenho a intuição de que as perspectivas para o fiscal... poderão melhorar com uma aprovação do teto para o crescimento do gasto e de reforma da previdência razoável", disse.
Em nota a clientes, o economista do Santander Luciano Ribeiro Sobral disse que a ação da S&P não era esperada e pode levar a reação negativa nos mercados no curto prazo.
O Barclays esperava um rebaixamento da S&P somente no segundo trimestre. Agora, o banco vê um novo corte pela S&P até o fim do ano, enquanto um novo downgrade pela Fitch é esperado até o fim do segundo trimestre. A perda do grau de investimento pela Moody's deve vir até o fim de março, na visão do Barclays.
Novo rebaixamento do Brasil surpreende Planalto, dizem fontes
BRASÍLIA (Reuters) - O novo rebaixamento do Brasil pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s nesta quarta-feira surpreendeu o Palácio do Planalto por ter acontecido pouco depois da perda do grau de investimento pela agência, em setembro de 2015, e pela demonstração de desconfiança na capacidade do governo em manter o ajuste fiscal, disseram à Reuters duas fontes palacianas.
“Obviamente é muito ruim. A gente estava trabalhando com essa possibilidade, mas não achávamos que viria tão rápido”, disse uma das fontes.
A Standard & Poor's rebaixou nesta quarta-feira o rating do Brasil para "BB", de "BB+", alertando para desafios políticos e econômicos consideráveis, deixando o Brasil ainda mais longe do selo de bom pagador.
A S&P advertiu que pode piorar ainda mais a classificação ao atribuir a perspectiva negativa ao rating. O rebaixamento, disse a S&P, reflete a visão de que o perfil do país enfraqueceu desde setembro, quando a agência tirou o selo de bom pagador do Brasil.
A informação chegou ao Planalto quando os ministros da Casa Civil, Jaques Wagner, e da Fazenda, Nelson Barbosa, participavam com outros ministros, empresários e representantes sindicais do fórum sobre Previdência no Palácio do Planalto para abrir as discussões sobre uma reforma no setor.
Assim que soube, Wagner foi conversar com a presidente Dilma Rousseff. Barbosa, que deveria participar de uma entrevista ao final do fórum, preferiu ir embora sem falar com os jornalistas.
A avaliação do Planalto é de que o novo rebaixamento foi muito rápido e, de fato, o governo não conseguiu ainda aprovar todas as medidas necessárias. Acredita, no entanto, que as medidas serão aprovadas, e o governo poderá mostrar que continuará o ajuste fiscal, ao contrário do que a agência avaliou.
"A decisão foi muito apressada. Só cinco meses entre os dois downgrades e, levando em consideração que tivemos um recesso parlamentar de um mês, não houve um agravamento do cenário político de lá até aqui", disse a outra fonte.
A prioridade agora, segundo essa fonte, é segurar a nota da agência Moody´s, a única das três grandes –além da S&P, a Fitch também já rebaixou o Brasil– que ainda mantém o grau de investimento, apesar de ter em dezembro posto a nota de crédito soberano do país em revisão para possível rebaixamento.
Bovespa fecha em alta de 1,8% com NY e petróleo, mas corte da S&P limita ganhos
SÃO PAULO (Reuters) - O principal índice da Bovespa fechou em alta pelo quarto pregão seguido nesta quarta-feira, na esteira dos ganhos em Wall Street e dos do petróleo, mas longe das máximas após a agência de risco Standard & Poor's cortar o rating do Brasil, com perspectiva negativa.
As notícias corporativas e a cena política também estiveram no radar nesta sessão, marcada ainda pelo vencimento de opções sobre o Ibovespa e o índice futuro.
De acordo com dados preliminares, o Ibovespa subiu 1,82 por cento, a 41.693 pontos. Na máxima, pouco antes do anúncio da S&P, o índice de referência do mercado acionário brasileiro chegou a avançar 3,6 por cento, acima de 42 mil pontos.
O volume financeiro totalizava 6,7 bilhões de reais, ainda sem contabilizar operações ligadas aos vencimentos de opções do Ibovespa e do índice futuro.
(Por Paula Arend Laier)
S&P corta nota de crédito do Brasil de novo... É o segundo corte em cinco meses; agência reafirma perspectiva 'negativa' (por GERALDO SAMOR, de VEJA.COM)
Talvez seja ‘o alçapão no fundo do poço’, do qual falou Luis Stuhlberger ao descrever a economia brasileira no início da semana.
O fato é que não há nada tão ruim que não possa piorar e, pela segunda vez em cinco meses, a agência de risco Standard & Poor’s cortou a nota de risco do Brasil, pressionando o dólar e enfraquecendo a Bovespa no final da tarde desta quarta.
O segundo corte veio hoje, com a agência dizendo: “Os desafios políticos e econômicos que o Brasil enfrenta continuam consideráveis, e nós agora esperamos um processo de ajuste mais prolongado — uma correção mais devagar na política fiscal e também mais um ano de contração econômica aguda.”
A agência disse ainda: “Com os déficits do governo e a dívida líquida ficando, em média, ao redor de 7% e 60% do PIB, respectivamente, durante 2016-2018, e nossa nova avaliação sobre possíveis contingências se originando do peso da dívida da Petrobras, acreditamos que não há mais flexibilidade suficiente na política econômica para podermos fazermos uma distinção entre a nota de crédito do Brasil em moeda local e moeda estrangeira.”
Mais uma vez, a S&P manteve a perspectiva da nota brasileira como ‘negativa,’ e disse que as chances de um terceiro corte na nota são hoje maiores do que 33%.
A agência disse que o risco de um novo corte está ligado ao “risco de reversões importantes na política econômica por causa da dinâmica fluida da política brasileira e políticas de governo inconsistentes, ou como resultado de uma turbulência econômica maior do que esperamos no momento.”
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Para saber mais sobre o problema estrutural das contas públicas brasileiras, leia aqui.
Para entender como a falta de clareza intelectual no Governo prejudica a economia, leia aqui.
(por GERALDO SAMOR, de veja.com)