Na FOLHA: Grupos pró e contra Lula se agridem onde ex-presidente daria depoimento
Com o cancelamento da oitiva, deputados petistas que iriam participar do ato em defesa do ex-presidente se reuniram com ele na sede do Instituto Lula. Parte deles se dirige para o ato no fórum.
A maior confusão ocorreu por volta das 11h, após militantes dos grupos Nas Ruas e Revoltados Online tentarem inflar o boneco "Pixuleco", alegoria inflável de Lula vestido de presidiário.
Um dos coordenadores da Frente Brasil Popular, que defende o ex-presidente, chegou a pedir a policiais presentes no ato que não deixassem o boneco ser inflado porque não conseguiria conter os manifestantes. Neste momento, os grupos começaram a se xingar e atirar garrafas uns nos outros. A polícia interveio para separar os manifestantes, que se espalharam e tomaram a rua.
Antes, às 10h40, militantes da Frente Brasil Popular acenderam fogos de artifício e jogaram uma bomba perto de onde manifestantes anti-Lula estão situados.
Depois disso, os dois lados ameaçaram invadir o acesso ao fórum, que separa os manifestantes.
Pouco depois, uma manifestante da Central de Movimentos Populares foi socorrida por policiais. O motivo teria sido pedra lançada do lado dos movimentos antipetistas.
A Frente Brasil Popular se aglomerou na calçada à esquerda do fórum. "Fora, coxinha" é um dos gritos que entoam recorrentemente.
À direita do prédio, em número menos expressivo, estão movimentos como o Nas Ruas e o Revoltados Online. Aos opositores, gritam: "Vai trabalhar, vagabundo".
Nesta terça, na chamada para o ato, o presidente da CUT, Vagner Freitas, divulgou em seu perfil no Facebook um poster com as frases "Lula eu respeito, Lula eu defendo".
"Esperamos que seja o início de uma reação popular contra um linchamento sem precedência de uma das mais importantes lideranças mundiais dos últimos tempos", disse Raimundo Bonfim, coordenador geral da CMP (Central de Movimentos Populares) e membro da Frente Brasil Popular.
Também nesta terça, Kim Kataguiri, um dos líderes do MBL e colunista daFolha, pedia uma demonstração da "legitimidade popular" dos movimentos contrários a Lula, Dilma e PT. O MBL, porém, desistiu da manifestação após o depoimento do ex-presidente ser cancelado.
LIMINAR
Uma decisão liminar do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) suspendeu nesta terça (16) os depoimentos de Lula e de sua mulher, Marisa Letícia, ao Ministério Público de São Paulo.
Os dois haviam sido intimados a depor sobre a situação do tríplex no condomínio Solaris, em Guarujá (SP), e sobre suspeitas de irregularidades na transferência do condomínio da cooperativa Bancoop para a OAS.
O conselheiro Valter Shuenquener de Araújo, porém, acatou umrequerimento do deputado petista Paulo Teixeira (SP), em que ele alega que o inquérito teria que ter entrado no sistema de distribuição do Ministério Público paulista. O deputado fala ainda em "flagrante perseguição política".
Teixeira questionou a atuação do promotor Cassio Conserino, afirmando que ele não era o promotor natural para conduzir a investigação. O promotor já afirmou à imprensa ver indícios para denunciar Lula.
"É fundamental o respeito à Constituição pelos agentes públicos", disse o deputado Teixeira à Folha.
Ele contou com a orientação de pessoas do entorno do ex-presidente para entrar com o pedido de liminar. A ideia inicial era que Lula prestasse o depoimento –isso mudou após alertas de aliados.
DISTRIBUIÇÃO
Segundo o deputado Teixeira, o caso do tríplex está sendo apurado atualmente na 5ª Vara Criminal do Foro Central Criminal de São Paulo, sendo que é a 1ª Promotoria de Justiça a responsável pelos casos dessa área. Conserino seria da 2ª Promotoria.
Para Teixeira, se não fosse direcionado para a 1ª Promotoria, o caso deveria ter tido, ao menos, livre distribuição.
Araújo afirma que a representação criminal foi feita "de forma nominalmente direcionada ao requerido [Conserino] e a dois outros membros do Ministério Público, sem que se tenha notícia de qualquer distribuição ou mesmo decisão ministerial no sentido de que o requerido seria efetivamente o promotor de Justiça com atribuição na matéria".
O conselheiro avaliou que é melhor paralisar o caso até mesmo para não colocar em risco as investigações.
"Não é recomendável a manutenção de ato a ser presidido pelo requerido [Conserino] designado para amanhã [quarta] sem que antes o plenário deste conselho possa apreciar as alegações de ofensa ao princípio do promotor natural no âmbito do Ministério Público do Estado de São Paulo. A manutenção do ato poderia, acaso se entenda, em momento futuro, pela falta de atribuição do referido membro e da necessidade de livre distribuição do feito, até mesmo ensejar uma indesejável nulidade no âmbito penal", disse o conselheiro em sua decisão.
O conselheiro alega ainda que as notícias que grupos favoráveis e contrários a Lula protestariam em frente ao Fórum da Barra Funda poderia "comprometer o regular funcionamento e a segurança" do local.
A decisão vale até que o plenário do CNMP avalie o caso.
JUSTIFICATIVA
Sobre o tríplex, Lula justifica que comprou uma cota da Bancoop que dava direito a uma unidade no condomínio, mas desistiu de comprar o imóvel. Há a suspeita de que o tríplex, que está em nome da OAS e foi reformado pela empreiteira, estaria reservado para a família do ex-presidente e seria uma forma de favorecê-lo.
A linha de defesa do ex-presidente sobre o triplex e o sítio em Atibaia, no interior de São Paulo, ainda está sendo traçada por sua equipe de advogados, por isso, qualquer pronunciamento precipitado é considerado arriscado. Aliados e envolvidos na defesa do petista estão tomando o máximo de cautela em relação a manifestações públicas sobre as suspeitas.
PT consegue suspender depoimento de Lula e Marisa sobre triplex no Guarujá
Uma decisão proferida na noite desta terça-feira pelo Conselho Nacional do Ministério Público adia o depoimento do ex-presidente Lula e da ex-primeira-dama Marisa Leticia no inquérito aberto para averiguar a propriedade de um triplex no Guarujá que seria ligado à família do petista.
O conselheiro Valter Araujo, do CNMP, concedeu liminar em pedido do deputado Paulo Teixeira (PT-SP) por entender que Cassio Conserino não é o “promotor natural” para conduzir o inquérito.
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No pedido, Teixeira alega que já há investigação correlata ao caso correndo na 5a. Vara Criminal de São Paulo, o que tornaria a 1a. Promotoria, que atua na vara, prevenia (isto é, a promotoria natural) para atuar numa investigação sobre Lula.
Diz a decisão: “Ex positis, e com fundamento no art. 43, inciso VIII, do RICNMP, defiro parcialmente o pedido de medida liminar formulado pelo Requerente, a fim de tão-somente suspender a prática de qualquer ato pelo Requerido relacionado aos fatos narrados neste Pedido de Providências, em especial no âmbito do PIC nº 94.2.7273/2015, até que o Plenário deste CNMP delibere sobre a alegação de ofensa ao princípio do Promotor Natural na hipótese dos autos. Intime-se, com urgência, o Reclamado e a Procuradoria-Geral de Justiça de São Paulo para ciência e cumprimento desta liminar”.
Em seu voto, o conselheiro do CNMP diz ver “fumaça de bom direito”, isto é, razões suficientes para conceder a liminar para sustar atos futuros até que o Conselho decida, em plenário, qual a promotoria que deve atuar no caso. Até lá, diz ele, medidas já tomadas no inquérito não serão anuladas.
Lula pediu para não depor porque está com medo (por REINALDO AZEVEDO)
Já houve um tempo em que, em situações assim, Lula se comportaria como o garoto da poesia “Meus Oito Anos”, de Casimiro de Abreu: iria com “a camisa aberta ao peito, pés descalços, braços nus”. Hoje, o Apedeuta é obrigado a mobilizar uma tropa de criminalistas, tem de contar com a artilharia dos deputados petistas e precisa se esconder. Ou por outra: Lula sabe que dar um jeito de não depor corrói um pouco mais a sua imagem. Mas isso significa também quem ele tem a certeza de que falar seria ainda pior.
Luiz Inácio Lula da Silva e Marisa Letícia não vão mais depor nesta quarta sobre o polêmico tríplex do Guarujá, no edifício Solaris. Os respectivos depoimentos da dupla estavam marcados para as 11h e 13h no Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo, mas foram suspensos por liminar concedida por Valter Shuenquener de Araújo, membro do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), atendendo a pedido encaminhado pelo deputado petista Paulo Teixeira (SP).
Já houve um tempo em que, em situações assim, Lula se comportaria como o garoto da poesia “Meus Oito Anos”, de Casimiro de Abreu: iria com “a camisa aberta ao peito, pés descalços, braços nus”. Hoje, o Apedeuta é obrigado a mobilizar uma tropa de criminalistas, tem de contar com a artilharia dos deputados petistas e precisa se esconder. Ou por outra: Lula sabe que dar um jeito de não depor corrói um pouco mais a sua imagem. Mas isso significa também quem ele tem a certeza de que falar seria ainda pior. Lula e Marisa estão com medo.
Teixeira encaminhou mais do que um pedido ao CNMP. Ele enviou um enorme chororô que demonstra, adicionalmente, o ódio que tem — e que contamina todo o seu partido — pela imprensa livre. A íntegra de sua petição está https://s.conjur.com.br/dl/representacao-cnmp-paulo-teixeira.pdf.
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Uma parte da argumentação do deputado apela à questão técnica. Diz ele que a denúncia está em fase de instrução na 5ª Vara Criminal do Fórum Criminal de São Paulo e que ato normativo impõe que dela se encarregue a 1ª Promotoria de Justiça. O promotor do caso, Cássio Roberto Conserino, é da segunda. Isso violaria o princípio do promotor natural.
Teixeira não parou por aí. Alega que, ao afirmar em entrevista à VEJA que iria, sim, denunciar Lula e Marisa, Conserino antecipou uma decisão à revista. Até aí, vá lá, eu mesmo já disse que ele não deveria tê-lo feito — à revista, que se registre, cabe publicar. Um veículo de comunicação não é guardião de sigilo nem bedel de promotor.
O que é estupefaciente é o juízo de valor que Teixeira faz sobre a VEJA. Segundo ele, trata-se de um “veículo de imprensa notoriamente engajado na persecução pessoal e política do ex-presidente Lula e do Partido dos Trabalhadores”.
A VEJA só pode receber como elogio a opinião que dela tem Paulo Teixeira, não é mesmo? Ora, pense um pouquinho: tente-se lembrar, ou recorra ao arquivo, de todas as reportagens que a revista publicou sobre os desmandos petistas. À luz do que se sabe, quem estava falando a verdade? A VEJA ou o PT?
O ridículo chega a seu estado de arte quando Teixeira infere que houve uma relação de troca. Segundo ele, “O Reclamado (Conserino) teve por objetivo, nitidamente, agradar os donos e responsáveis pela revista, em troca de um espaço de promoção pessoal que lhe foi efetivamente concedido.”
Como, no PT, quem tudo decide é o dono — vale dizer: Lula —, Teixeira imagina que o mesmo se passe na VEJA. Este senhor desconhece o fundamento da independência editorial porque deve estar acostumado a lidar com os ditos “blogs sujos” — que hoje adotam tal designação sem nenhuma vergonha; são mesmo uns sem-vergonhas —, que fazem seu jornalismo de joelhos para o PT.
Segundo Teixeira, todo mundo agora que conceder uma entrevista a um veículo de comunicação estará fazendo uma troca com o dono. Quando Dilma falar a algum jornal, a alguma revista ou a alguma TV, vamos perguntar quais foram as benesses trocadas.
Teixeira é um notório militante em favor da descriminação da maconha. Mas vou apostar que estivesse sóbrio quando redigiu seu trololó. Acho que ele não precisa queimar um mato para escrever besteira.
Shuenquener de Araújo não entrou no mérito nem fez considerações sobre a argumentação de Teixeira. Apenas suspendeu os depoimentos em caráter liminar— e nem havia a certeza de que o casal compareceria — para que seja examinado, então, pelo plenário do Conselho.
Segundo o conselheiro, o centro de sua decisão busca evitar uma eventual nulidade da apuração caso exista mesmo o erro formal apontado, relativo à distribuição. Até aí, vá lá.
Mas há também uma consideração inaceitável. Segundo Shuenquener de Araújo, a notícia de que grupos favoráveis e contrários a Lula estariam prontos a se manifestar poderia “comprometer o regular funcionamento e a segurança” do local. Aí não dá! Milícias do petismo sempre estarão mobilizadas para defender a impunidade de seus líderes.
Serão elas agora a definir quando um petista presta e quando não presta depoimento?
Na FOLHA: Decisão suspende depoimento de Lula e Marisa sobre tríplex
Uma decisão liminar do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) suspendeu nesta terça (16) osdepoimentos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de sua mulher, Marisa Letícia, ao Ministério Público de São Paulo, que estavam previstos para esta quarta-feira (17).
O ex-presidente e Marisa Letícia foram intimados a depor sobre a situação do tríplex no condomínio Solaris, em Guarujá (SP), e sobre suspeitas de irregularidades na transferência do condomínio da cooperativa Bancoop para a OAS.
Segundo a Folha apurou, a presença dos dois ainda era incerta. Apesar disso, o conselheiro Valter Shuenquener de Araújo acatou um requerimento do deputado petista Paulo Teixeira (SP), em que ele alega que o inquérito teria que ter entrado no sistema de distribuição do Ministério Público paulista. O deputado fala ainda em "flagrante perseguição política".
Teixeira questionou a atuação do promotor Cassio Conserino, afirmando que ele não era o promotor natural para conduzir a investigação. O promotor já deu declaração dizendo ver indícios para denunciar Lula.
"É fundamental o respeito à Constituição pelos agentes públicos", disse o deputado à Folha.
Segundo a Folha apurou, Teixeira contou com a orientação de pessoas do entorno do ex-presidente para entrar com o pedido de liminar. A ideia inicial era que Lula prestasse o depoimento, mas depois de muitos alertas de aliados, a questão passou a ser ponderada.
DISTRIBUIÇÃO
Segundo o deputado, o caso do tríplex está sendo apurado atualmente na 5ª Vara Criminal do Foro Central Criminal de São Paulo, sendo que é a 1ª Promotoria de Justiça a responsável pelos casos dessa área. Conserino seria da 2ª Promotoria.
Para Teixeira, se não fosse direcionado para a 1ª Promotoria, o caso deveria ter tido, ao menos, livre distribuição.
Araújo afirma que a representação criminal foi feita "de forma nominalmente direcionada ao requerido [Conserino] e a dois outros membros do Ministério Público, sem que se tenha notícia de qualquer distribuição ou mesmo decisão ministerial no sentido de que o requerido seria efetivamente o promotor de Justiça com atribuição na matéria".
O conselheiro avaliou que é melhor paralisar o caso até mesmo para não colocar em risco as investigações.
"Não é recomendável a manutenção de ato a ser presidido pelo requerido [Conserino] designado para amanhã [quarta] sem que antes o plenário deste conselho possa apreciar as alegações de ofensa ao princípio do promotor natural no âmbito do Ministério Público do Estado de São Paulo. A manutenção do ato poderia, acaso se entenda, em momento futuro, pela falta de atribuição do referido membro e da necessidade de livre distribuição do feito, até mesmo ensejar uma indesejável nulidade no âmbito penal", disse o conselheiro em sua decisão.
O conselheiro alega ainda que as notícias que grupos favoráveis e contrários a Lula protestariam em frente ao Fórum da Barra Funda poderia "comprometer o regular funcionamento e a segurança" do local.
A decisão vale até que o plenário do CNMP avalie o caso.
JUSTIFICATIVA
Sobre o tríplex, Lula justifica que comprou uma cota da Bancoop que dava direito a uma unidade no condomínio, mas desistiu de comprar o imóvel. Há a suspeita de que o tríplex, que está em nome da OAS e foi reformado pela empreiteira, estaria reservado para a família do ex-presidente e seria uma forma de favorecê-lo.
A linha de defesa do ex-presidente sobre o triplex e o sítio em Atibaia, no interior de São Paulo, ainda está sendo traçada por sua equipe de advogados, por isso, qualquer pronunciamento precipitado é considerado arriscado. Aliados e envolvidos na defesa do petista estão tomando o máximo de cautela em relação a manifestações públicas sobre as suspeitas.
Amigo de Lula conseguiu antena para sítio em Atibaia
Amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-sindicalista José Zunga Alves de Lima foi o responsável por conseguir a instalação, em 2010, de uma antena de celular da Oi próxima ao sítio frequentado pelo petista e sua família em Atibaia, no interior de São Paulo.
Segundo a Folha apurou junto a pessoas que acompanharam a operação, Zunga, funcionário da Oi, fez gestões internas na empresa para que a antena fosse colocada como um "presente" para o petista.
Na Oi, o pedido foi conduzido pelo então diretor João de Deus Pinheiro Macedo e teve aval de Otávio Marques de Azevedo, presidente da AG Telecom, uma das controladoras da Oi e parte do grupo Andrade Gutierrez.
A Andrade é acusada de participar do esquema de corrupção na Petrobras investigado na Operação Lava Jato. Azevedo, principal executivo do grupo,ficou preso por quase oito meses e é réu sob acusação de corrupção e lavagem de dinheiro. As acusações não envolvem a Oi.
A instalação da torre próxima ao sítio pela Oi foi revelada nesta semana pelo jornal "Valor Econômico".
Para construir a antena, a operadora –que tem o BNDES e fundos de pensão estatais como sócios– precisou alugar um terreno a cerca de 100 metros da entrada da propriedade rural frequentada pelo presidente. Cálculos de engenheiros de telecomunicações indicam que a obra custou cerca de R$ 1 milhão entre equipamentos, licenças e taxas.
A antena da Oi é mais um indício, difundido por testemunhas ouvidas pelaFolha e depoimentos colhidos pelo Ministério Público de São Paulo, de que uma espécie de consórcio informal de empresas dirigidas por amigos do ex-presidente bancou obras e melhorias no sítio.
Pelo menos três empresas teriam participado das reformas: a Usina São Fernando, do pecuarista e amigo do ex-presidente José Carlos Bumlai, além de Odebrecht e OAS.
As três são investigadas pela Lava Jato, que passou a apurar o uso do sítio por Lula. Os trabalhos na propriedade foram iniciados em outubro de 2010, quando o petista ainda estava na Presidência.
Segundo a Anatel, a antena está equipada com tecnologias 2G e 3G, que permite chamadas de voz e acesso à internet. Só as estações da Oi espalhadas pela área urbana de Atibaia têm a mesma especificação. Nenhuma concorrente –Vivo, TIM, Claro e Nextel– cobre a zona rural da cidade.
Por lei, as operadoras são obrigadas a instalar antenas para garantir que pelo menos 80% da área do município tenha acesso aos sinais. Caso contrário, são multadas pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). Naquele momento, a legislação do setor não obrigava as teles a garantir cobertura na área rural.
Mesmo assim, muitas delas acabaram instalando estações em estradas e até em vilas ou distritos desde que existisse "apelo comercial".
Ainda segundo as empresas, os pedidos de políticos e empresários sempre foram frequentes. Mas raramente elas costumam atendê-los devido aos custos envolvidos.
Sob a condição de anonimato, engenheiros de telecomunicações que conhecem o local afirmam que, pela geografia da área e o mapa das antenas das outras operadoras, o equipamento foi instalado só para atender o sítio.
Em geral, uma antena costuma ser posicionada em pontos elevados para espalhar seus sinais em ondas num raio entre 30 km e 50 km.
Mas esse alcance depende de vários fatores. Em áreas montanhosas, esse alcance é muito menor. E pode ficar ainda mais restrito se a antena estiver em áreas rebaixadas, como o local do sítio. Moradores em casas a cerca de 500 m da antena dizem que não conseguem sinal.
ANTENCEDENTES
Em 2008, Zunga foi indicado pelo próprio presidente Lula para ocupar uma vaga no conselho consultivo da Anatel. Foi afastado em 2010 por conflito de interesse porque era funcionário da Oi.
O sindicalista presidiu uma associação do setor no passado quando conheceu Otávio Marques de Azevedo. Zunga também é ligado a Jonas Suassuna, um dos proprietários do sítio e sócio de Fabio Luis, um dos filhos de Lula, na Gamecorp. Em 2005, a Oi comprou participação minoritária na companhia por R$ 5,2 milhões.
Três anos depois, Lula mudou a Lei Geral das Telecomunicações para permitir que a Oi comprasse a Brasil Telecom.
OUTRO LADO
Por meio da assessoria do Instituto Lula, o ex-presidente disse que não usa celular e "não tem comentários para ilações absurdas" em referência ao favorecimento da Oi, que instalou uma antena próxima ao sítio frequentado por ele e sua família.
José Zunga Alves de Lima não quis dar entrevista por telefone. Desligou após identificação da reportagem. Por mensagem de texto, negou qualquer participação no processo que levou à instalação da antena.
Consultada, a Oi não quis fazer comentários.
A reportagem tentou contato com o ex-executivo da Oi João de Deus e não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
O advogado de Otávio Marques de Azevedo, Juliano Breda, disse que só entraria em contato com seu cliente nesta quarta (17).
Bumlai deve dizer que reformou sítio frequentado por Lula a pedido de Marisa (por MONICA BERGAMO)
José Carlos Bumlai deve admitir em depoimento que foi o responsável pelo início da reforma do sítio frequentado por Lula em Atibaia (SP). De acordo com essa versão, o pecuarista teria sido procurado pela ex-primeira-dama Marisa Letícia, que queria deixar o lugar pronto para a família passar o Natal de 2010, às vésperas de o marido sair do governo.
OCUPADO
Bumlai, que era amigo do casal presidencial e teria, por isso mesmo, sido procurado pela primeira-dama para ajudar nas obras, sustentará que jamais tratou da reforma com Lula. E que acredita que o petista, então presidindo o país, sequer sabia que ela estava em andamento.
DEMISSÃO
As obras, de acordo com essa versão, foram tocadas pelo pecuarista com funcionários de suas fazendas, além de pedreiros locais. Dona Marisa teria ficado descontente com o ritmo. Bumlai então teria deixado o comando do empreendimento.
OS SUBSTITUTOS
O ex-fazendeiro deve afirmar ainda que não sabe como foi feita a segunda parte da reforma. De acordo com relatos já colhidos na investigação, um consórcio de empreiteiras, como OAS e Odebrecht, se responsabilizaram por parte dela.
EM BRASÍLIA
Há pelo menos um ponto em comum com a defesa que Lula deve apresentar: o ex-presidente não teria se envolvido com as obras.
Tática 'fubanga' (EDITORIAL DA FOLHA)
Contrariamente ao anunciado poucas horas antes, nada se deliberou na reunião do Conselho Político do PT a respeito das acusações envolvendo o ex-presidente Lula e as empreiteiras OAS e Odebrecht.
Pelo menos, foi o que afirmou o presidente do partido, Rui Falcão, ao fim do encontro realizado nesta segunda-feira (15) em São Paulo.
Talvez não houvesse mesmo grandes explicações a dar sobre o sítio de Atibaia e o tríplex do Guarujá. Falcão limitou-se a negar fundamento às acusações.
Argumentou que o sítio não é formalmente propriedade de Lula, sem abordar a questão, entretanto inevitável, de quem teria financiado as reformas na propriedade, e por que teriam duas grandes empresas de obras públicas interesse em prestar gentilezas desse tipo.
Marco Aurélio Garcia, assessor da Presidência, teve atitude mais amena, em entrevista à Folha antes da reunião. "Se formos falar desse tríplex, ele é bem fubango, não é?", perguntou; "considero meu apartamento melhor".
Concordando ou não com esse julgamento, o fato é que os demais membros do Conselho Político teriam, portanto, segundo a versão oficial, discutido assuntos mais elevados do que uma simples cobertura no Guarujá, e não tão prosaicos quanto pescarias e passeios de pedalinho.
Tratou-se, assim, da necessidade de um "plano nacional de emergência" para responder à crise econômica, propondo alternativas ao receituário "neoliberal".
As dificuldades do PT, nessa seara, tendem a ser consideráveis do ponto de vista político. Apesar das próprias relutâncias, o governo Dilma Rousseff tem insistido na necessidade de cortar de gastos, reformar a Previdência e retomar a cobrança da famigerada CPMF.
Ao mesmo tempo em que defende a presidente, o partido busca todavia afastar-se do pouco que a atual administração ainda mantém de acertado em seus caminhos.
Na defesa do ex-presidente, não se esconde o mal-estar: o apartamento é mixuruca. Aliás nunca foi de Lula. Mais ainda, favores como os das empreiteiras são normais, como sugeriu o ex-ministro Gilberto Carvalho recentemente.
Para utilizar uma expressão popular, é como se o partido estivesse órfão de pai e mãe: Lula e Dilma não são mais o que eram, e o "plano de emergência" para a economia talvez valha tanto quanto as explicações sobre Atibaia.
Elabore-se algum arrazoado, jurídico ou financeiro, para ganhar tempo. Contabilizem-se os votos que já foram perdidos de qualquer modo, e que o resto se arranje até 2018. A tática é bem "fubanga", seja lá o que isso signifique, mas é o que o PT tem a oferecer.