IPCA sobe mais que o esperado em janeiro com alimentos e coloca pressão sobre o BC
Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A inflação oficial brasileira acelerou mais do que o esperado em janeiro e começou 2016 no maior nível em pouco mais de 12 anos no acumulado em 12 meses, colocando ainda mais pressão sobre o Banco Central no momento em que adotou um tom mais brando em relação à condução da política monetária.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 1,27 por cento em janeiro, após alta de 0,96 por cento em dezembro, o nível mais alto para o mês desde 2003 (2,25 por cento), de acordo com dados divulgados nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Com isso, a alta do índice acumulada em 12 meses até janeiro foi a 10,71 por cento, acima dos 10,67 por cento vistos em dezembro, quando encerrou 2015 estourando o teto da meta do governo pela primeira vez desde 2003. Esse é o patamar mais elevado nessa base de comparação desde novembro de 2003 (11,02 por cento).
O resultado, que teve como principais pressões alimentos e transportes, frustra as expectativa de que os preços começariam a ceder após os aumentos da taxa básica de juros e o aprofundamento da recessão no ano passado.
"Sempre se pode argumentar que é um problema pontual da parte de alimentação. Mas o que enfraquece isso é que o índice de difusão está em torno de 78 por cento e, além da questão climática, há seguidos aumentos de impostos", pontuou o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio Leal.
Os resultados ficaram acima de todas as projeções em pesquisa da Reuters, cujas medianas eram de avanço de 1,10 por cento sobre dezembro e de 10,52 por cento em 12 meses.[nL2N15J1LF]
ALIMENTOS E SERVIÇOS
Somente em janeiro, o grupo Alimentação e Bebidas subiu 2,28 por cento e exerceu impacto de 0,57 ponto percentual no índice do mês. Esse é o maior avanço dos preços deste grupo desde dezembro de 2002.
Já Transportes avançaram 1,77 por cento, com impacto de 0,33 ponto no IPCA de janeiro. Esses dois grupos são os de maior peso na despesa das famílias e detiveram 71 por cento do índice.
A notícia positiva foi que os preços dos serviços avançaram 0,67 por cento em janeiro e foram para abaixo de 8 por cento no acumulado em 12 meses, a 7,88 por cento.
A inflação no país caminha para terminar 2016 pela segunda vez acima do teto da meta, que também é este ano de 4,5 por cento com margem de tolerância de 2 pontos percentuais. Os economistas consultados na pesquisa Focus do BC apontam que o IPCA deve encerrar o ano com alta de 7,26 por cento.
Ainda assim, o BC decidiu manter a taxa básica de juros em 14,25 por cento diante da elevação das incertezas no cenário externo. Na sua próxima reunião sobre juros, o BC ainda não terá os dados do IPCA de fevereiro. [nL2N15C0W7]
"Aumenta a pressão (sobre o BC). É preciso olhar projeções de câmbio, petróleo, juros lá fora, sinais do cenário fiscal, e o IPCA-15. Se fosse hoje, eu estaria assustado. É uma reunião que vai ter uma tremenda expectativa", disse o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Gonçalves.