Arroz com feijão e tédio, por VINICIUS TORRES FREIRE

Publicado em 22/12/2015 03:53
da FOLHA DE S. PAULO + ARTIGO DE RUBENS PASSOS)

Da boca para fora, pelo menos, não vai mudar nada na política econômica. Mesmo "fazer o que for preciso para retomar o crescimento", como recomendou ontem a presidente a seus novos ministros, é um mandamento sujeito à restrição de não haver "guinadas" ou "mudanças bruscas".

A presidente ou quem escreve seus maus discursos talvez imagine que essa conversa "responsável" ainda esteja na moda. A economia do Brasil precisa, sim, de "mudança brusca" e "guinada", desde que não seja na direção da pirambeira "desenvolvimentista".

A cautela pode ter sido só falta de assunto, claro, pois os ministros foram nomeados na sexta. Talvez seja ainda sinal de que por ora não há tempo ou energia política para fazer algo além do "feijão com arroz". Mas é difícil acreditar que Dilma e Nelson Barbosa, novo ministro da Fazenda, não venham querer juntar um torresmo, um ovo, quiçá um bife, talvez uma cabeça de porco, nesse prato.

Rumores de besteira não faltam, do Planalto à liderança do governo na Câmara. Não parece coisa de Barbosa. Mas parece coisa do governismo e do petismo que quer "virada responsável à esquerda".

Barbosa não disse nada impressionante na sua conversa com economistas e uns executivos da finança, no começo da tarde de ontem. Parecia que tinha acabado de vestir um terno novinho, bem cortado e convencional, que não queria amassar: gestos e palavras medidos e óbvios, no roteiro. Tal como nas entrevistas que deu no final de semana.

A reforma maior que mencionou, o aumento da idade mínima necessária para a aposentadoria, não é, claro, novidade. Foi assunto e retardada o ano inteiro. O próprio Barbosa havia dito que projeto de reforma estaria pronto em novembro.

A presidente não disse nada de impressionante no discurso com que deu posse a Barbosa e ao novo ministro do Planejamento, Valdir Simão. Pelo menos, não disse disparates maiores, como de costume.

Dilma Rousseff apenas começou por dizer que nomear dois chefes novos para a política econômica "não altera os objetivos de curto prazo": restabelecer o equilíbrio fiscal, diminuir a inflação e retomar com "urgência" o crescimento, obviamente objetivos incompatíveis no curto prazo, mas passemos.

Após lembrar alguns planos razoáveis que sobraram de seu programa econômico de janeiro, Dilma encerrou o discurso quase como começou. As três tarefas de Barbosa e Simão são perseguir "metas realistas e factíveis", impedir que a dívida pública cresça e "fazer o que for preciso para retomar o crescimento sem guinadas e sem mudanças bruscas, atuando neste ambiente de estabilidade, previsibilidade e flexibilidade".

A cautela de presidente e ministros novos significa mesmo que teremos "feijão com arroz"? Isto é, remendos no rombo das contas do governo, diminuir um pouco a inflação, fazer uma metade de meia dúzia de concessões etc. —a recessão assim segue seu caminho, sem desastre adicional, apenas na batida da ruína gradual que seguramente assim teríamos até 2018.

Ou em janeiro será elaborado o Plano Barbosa? Até março, não passa quase nada no Congresso. Em março, o Brasil estará acordando com muito mais mau humor social. "É tarde, é tarde, é tarde." 

 

Imoralidade e anacronismo implodem o castelo Brasil

Por RUBENS PASSOS

Estamos assistindo à destruição da estabilidade econômica de quase 20 anos, construída com muito sacrifício nas décadas de 1980 e 1990. Quem era adulto naquela época lembra-se da hiperinflação, troca de moedas, congelamento de preços e da poupança e outras loucuras que vivenciamos. Fomos submetidos a políticas econômicas malucas, nas quais muitas empresas morreram e seus colaboradores ficaram sem emprego.

Foi um desastre total, até a chegada da lucidez encontrada durante governo Itamar Franco que implementou o Plano Real, com medidas básicas e concretas. As medidas puseram fim à inflação e geraram confiança na sociedade. Começamos, então, a sair do buraco.

Hoje, as pessoas perguntam-se sobre o que deu errado e por que a maré virou tão rapidamente. Acredito que o fator crucial tenha sido a alteração da política econômica promovida pela presidente Dilma Rousseff, a partir de seu primeiro mandato. Implementando medidas intervencionistas e contrárias à iniciativa privada, vem minando as bases do "castelo Brasil".

Tais práticas obsoletas e equivocadas foram amplamente analisadas e contestadas pelos setores produtivos e numerosas pessoas nos últimos cinco anos, e é comprovado que não funcionam. São ideias reprovadas pela prática e que levaram muitos países ao atual estágio de miséria em que vivem. Dentre eles, nossos vizinhos Venezuela e Argentina. Infelizmente, de nada adiantaram os alarmes emitidos pela sociedade.

Para se construir uma empresa sólida, leva-se uma vida, mas para destruí-la bastam alguns meses. Após cinco anos de política econômica equivocada, o "castelo Brasil" ruiu e a confiança da população foi a zero. Os brasileiros estão abismados com os escândalos e desanimados ante a baixíssima qualidade moral das pessoas que ocupam posições de relevância na estrutura da República, seja situação ou oposição, seja nos poderes Executivo ou Legislativo, federal, estadual ou municipal. É uma vergonha e um desastre o cenário atual!

A conjuntura é muito pior do que se notícia, pois a mídia foca os dados de ontem ou resultados recente. As previsões futuras são feitas sobre uma arrecadação tributária que não se concretizará, visto que o ritmo da economia continua diminuindo, devido à falta de confiança no futuro. Isso significa que o estouro do orçamento será muito maior do que os absurdos 70 bilhões de reais já anunciados.

A ideia estupida de aumentar os impostos causará aumento de preços, o que causará menor consumo e menor arrecadação, num ciclo interminável de demissões e inflação alta, até que se atinja uma economia de nível basal muito abaixo do atual. O cenário final será de milhões de desempregados, milhares de empresas fechadas e inflação sem controle.

Já assistimos a esse filme na década de 80. Muitos de nossos governantes e representantes foram eleitos legalmente, mas moralmente já não representam nosso povo. Temos vergonha de nos referir a essas pessoas, sejam de situação ou oposição. Muitos desses políticos enojam seus eleitores e a população com suas atitudes e posicionamento, que agridem todos. Posam de inocentes, mas os fatos demonstram sua imoralidade. O brasileiro não é isso que está aí.

Graças a algumas poucas instituições fortes, a sociedade tem se sentindo minimamente protegida e alimentada da esperança de justiça. Infelizmente, somente o tempo nos ajudará a aposentar os que destruíram 30 anos de suor dos brasileiros. Esperamos com ansiedade, a cada dia, a oportunidade de votar e nos livrar da desgraça que nos abateu.

Até que chegue essa data, teremos um período muito difícil para todos os cidadãos honestos e de caráter, empreendedores e trabalhadores, que lutam todos os dias e ajudam a construir um país bom para se viver.

RUBENS F. PASSOS, economista pela Faap e MBA pela Duke University, é presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes e Importadores de Artigos Escolares e de Escritório (ABFIAE), diretor titular do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo - CIESP Bauru, presidente da Tilibra e membro de vários conselhos

COLUNA DE MONICA BERGAMO:

Temer é sondado pelo vice-presidente dos EUA para visitar Washington

Michel Temer recebeu sondagem do vice-presidente dos EUA, Joe Biden, para visitar Washington. O Itamaraty já está conversando com a diplomacia americana para tratar da formalização do encontro.

O AMIGO 2
Biden é um dos principais personagens da já famosa carta que Temer enviou a Dilma Rousseff. Nela, o vice brasileiro reclamava que a presidente o excluiu de encontro com Biden, que veio para a posse da brasileira, no começo do ano.

O AMIGO 3
Dizia Temer: "A senhora, na posse, manteve reunião de duas horas com o vice-presidente Joe Biden -com quem construí boa amizade -sem convidar-me o que gerou em seus assessores a pergunta: o que é que houve que numa reunião com o vice-presidente dos EUA, o do Brasil não se faz presente?".

Fonte: Folha de S. Paulo

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