Renan e Temer são os novos investigados na Lava Jato

Publicado em 20/12/2015 03:51
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STF autoriza quebra do sigilo bancário de Renan, diz Época

 

(Reuters) - O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki autorizou a quebra do sigilo bancário e fiscal do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), como parte das investigações da operação Lava Jato, de acordo com reportagem no site da revista Época neste sábado.

Segundo a publicação, Zavascki concedeu em 9 de dezembro autorização para a quebra do sigilo do senador no período de 2010 a 2014.

De acordo com despacho do ministro autorizando a quebra do sigilo, Renan é suspeito de ter recebido pagamento de propina em contratos da Transpetro, subsidiária da Petrobras que era presidida por Sérgio Machado, investigado no âmbito da Lava Jato.

Na terça-feira, a Polícia Federal cumpriu mandado de busca e apreensão em endereços de Machado e no diretório estadual do PMDB de Alagoas, o Estado de Renan, como parte de uma operação que envolveu diversos nomes do partido, incluindo o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE), próximo a Renan.

Cunha cita pagamento de R$5 milhões a Temer em conversa com empreiteiro, diz Folha

 

(Reuters) - O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), citou um pagamento de 5 milhões de reais feito pelo dono da empreiteira OAS, José Aldemário Pinheiro Filho, ao vice-presidente da República, Michel Temer, em uma troca de mensagens por celular investigada no âmbito da operação Lava Jato, segundo reportagem do jornal Folha de S.Paulo neste sábado.

Com base na conversa, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, reuniu indícios de que Temer, presidente do PMDB, recebeu 5 milhões de reais de Pinheiro, que já foi condenado por envolvimento no esquema bilionário de corrupção envolvendo a Petrobras, de acordo com o jornal.

Cunha teria cobrado Pinheiro por ter pago o valor de uma única vez a Temer e adiado compromissos com outras pessoas, de acordo com acusação enviada por Janot ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki, disse a Folha.

Em nota oficial da Vice-Presidência nesta sábado, Temer disse que o PMDB recebeu um montante total de 5,2 milhões de reais em doações da construtora OAS, que foram declaradas nas prestações de contas do partido entregues ao Tribunal Superior Eleitoral.

"Houve depósitos na conta do partido e a devida prestação de contas ao tribunal. Tudo já comprovado por meio de documentos. A simples consulta às contas do PMDB poderia ter dirimido qualquer dúvida que, por acaso, pudesse ser levantada sobre o assunto", disse a nota assinada por Temer.

André Esteves deixa penitenciária no Rio para cumprir prisão domiciliar

 

RIO DE JANEIRO (Reuters) - O banqueiro André Esteves, ex-controlador e ex-presidente do banco de investimentos BTG Pactual, deixou a penitenciária de Bangu 8, no Rio de Janeiro, nesta sexta-feira para cumprir prisão domiciliar, depois de o Supremo Tribunal Federal suspender a prisão preventiva.

Esteves foi preso em 25 de novembro sob suspeita de obstruir as investigações da Lava Jato sobre corrupção envolvendo estatais, como a Petrobras, órgãos públicos, empreiteiras e políticos.

O STF suspendeu a ordem de prisão preventiva alegando que não há evidências suficientes do envolvimento direto dele na obstrução das investigações, mas determinou que o banqueiro permaneça em casa e que não poderá manter contato com os demais suspeitos no caso.

 

O fantasma de Dilma 1

Por VINICIUS TORRES FREIRE, da FOLHA DE S. PAULO

Dilma Rousseff estava feliz com as derrotas da oposição, dizia-se de modo sarcástico numa roda de poder e dinheiro na sexta-feira. Joaquim Levy caiu, Michel Temer, o vice, é comido feito um boi pelas piranhas adversárias do PMDB e o líder da oposição no Supremo, Gilmar Mendes, foi voto vencido. "O problema é quando a Dilma ganha. O fracasso sobe à cabeça", dizia um dono de dinheiro.

O time do impeachment vai desmoralizado para o segundo tempo. O que a presidente fará no intervalo, no recesso até o Carnaval? Começou por fazer uma substituição na defesa, Nelson Barbosa no Ministério da Fazenda.

Barbosa vai jogar mais livre ou Dilma vai definir seus movimentos? A dúvida é se o fantasma de Dilma 1 vai reassumir o governo e a economia. A crise financeira será tanto maior quanto mais a refazenda da presidente cheirar a cravo de defunto, aroma da política econômica do primeiro mandato, aquela paródia grotesca e ginasiana do desenvolvimentismo do general-ditador Geisel.

Não haverá ajuste fiscal algum, francamente. No máximo, remendos menores no buraco das contas do governo, remendos nos quais de resto ninguém acredita e, a esta altura do desastre, irrelevantes.

Barbosa sabe disso, assim como a finança, seus porta-vozes no "mercado" e certo empresariado graúdo. A diferença está nas soluções. Essa elite econômica espera um choque, um pacote grande de "reformas".

Não haverá dinheiro tão cedo. A ruína pode ser contida com a perspectiva de mudanças maiores na economia, feitas já. Ainda que produzam resultados só daqui a alguns anos, a antecipação de dias melhores atenuaria a crise de agora.

Barbosa jamais acreditou no plano fiscal de Levy, a ferro e a fogo no curto prazo. Aos poucos alardeou seu programa de tapar o buraco de modo "gradual" e de "reequilibrar a economia" com algum incentivo ao crescimento, o que agradou a Dilma e derrubou Levy.

É um mistério esse incentivo para "reequilibrar" a economia, esse plano de tirar a meia sem tirar o sapato. Quanto mais parecer um plano infalível de Dilma ou um "estímulo à demanda", maior o tumulto, dólar e juros em alta. A dúvida é apenas sobre o tamanho da degradação.

Uma política sem grandes voos heterodoxos ou ortodoxos pode resultar em algum tipo de sarneyzação econômica, piora contínua sem estouros. Assim, vai se comer o "arroz com feijão" de Barbosa. Em seguida ele mesmo será canibalizado, destino comum dos breves ministros da economia do Brasil dos tempos de crise e bagunça, que imaginávamos passados.

Pode ser pior, pois a política está se desmilinguindo. Barbosa corre o risco de ter menos esteio que Levy.

Observe-se, de modo anedótico, como se autodevora o partido que faz duas semanas oferecia uma "ponte para o futuro" ou a "agenda Brasil", o PMDB. Num dia, estava endomingado com programas sérios e liberais; no outro, ontem, brigava de faca em um beco sujo de corrupção. Cresce a fila na porta da cadeia. O governo é feito de ministros medíocres ou velhacos, se não procurados pela polícia. A oposição se desmoralizou de vez no acordo oportunista com pulhas. A crise, enfim, não é anedótica. É um fim dos tempos, de uma República.

É nesse mar que Barbosa vai tocar o barquinho da economia.

 

A carta de Michel Temer

Por FERREIRA GULLAR

Vou tentar dizer, a meu modo, como vejo a carta que Michel Temer enviou à presidente Dilma Rousseff e que tanta celeuma causa no ambiente político, particularmente nas relações do PMDB com o governo federal.

Na opinião da maioria dos comentaristas, aquela carta foi um meio de que o vice-presidente da República lançou mão para se queixar de Dilma Rousseff. Na verdade, a carta tem um tom de queixa, mas no meu entender esse foi o modo que ele encontrou para justificar seu perturbador silêncio em face do processo de impeachment a que está sujeita a chefe do governo e de quem ele é o vice.

O silêncio de Temer levou os assessores de Dilma a atribuir-lhe opinião contrária ao processo de impedimento, que não teria fundamento jurídico. Temer desmentiu essa informação, que deve ter contribuído para ele escrever a referida carta.

Mas o certo é que essa história não começa aí, vem de longe, desde o começo do primeiro governo de Lula. Eleito, surgiram entendimentos para que o PMDB aderisse a Lula e passasse a apoiá-lo. Ele rejeitou essa ideia e preferiu aliar-se a pequenos partidos, aos quais não necessitaria entregar ministérios e empresas estatais, como teria que fazer, se se juntasse ao PMDB. Àqueles partidos, em vez de altos cargos, lhes deu dinheiro (dinheiro público), de que resultou o escândalo do mensalão.

Embora Lula, no primeiro momento, ao ser interpelado sobre aquele escândalo, alegara que havia sido traído, depois que seus "traidores" foram processados e condenados, passou a dizer que se tratou de um golpe político. A verdade, porém, é que, para se reeleger e governar, recorreu ao apoio do PMDB, que rejeitara antes. E teve que fazer o que jamais quis, ou seja, dividir os ministérios com o novo aliado. Terminado o segundo mandato, inventou a candidatura de Dilma, tendo como vice Michel Temer. Que Lula nunca quis dividir o poder com ninguém, viu-se desde o começo, e só aliou-se ao PMDB para se manter nele.

Essa não é, porém, uma atitude somente do Lula mas também de seu partido e, particularmente, de Dilma Rousseff. As denúncias da Operação Lava Jato vieram piorar a situação de todos eles e, especialmente, a da presidente da República, em cujo governo o país naufragou de vez. Isso era inevitável acontecer já que, para se manter no poder, os petistas optaram por investir pesado nos programas assistencialistas e não no crescimento da economia. Em vez disso, como parte de seus programas populistas, para evitar o aumento dos preços, subvencionava grandes empresas produtoras de bens de consumo.

Ocorreu que, para ganhar as eleições de 2014, Dilma traçou um retrato falso da realidade econômica do país, mas assim que tomou posse, teve que fazer o contrário do que prometera na campanha eleitoral. Desse modo, entrou num beco sem saída, porque as medidas a serem tomadas contrariam o populismo que Lula e ela impuseram ao país. O resultado disso é que a crise econômica se agrava e a crise política também, uma acionando a outra.

Não é por acaso que, em menos de um ano do novo mandato, o índice de aprovação de seu governo oscila entre 7% e 10%. A hegemonia política dos petistas parece chegar ao fim. A popularidade do ex-presidente Lula caiu –47% do eleitorado não votaria nele em 2018. A todos esses fatores negativos, veio juntar-se o pedido do impeachment que, quer ocorra ou não, terá consequências desastrosas para o petismo.

Em face de todos esses fatores, ninguém se atreveria a apostar num bom futuro para os petistas e particularmente para o governo de Dilma. Falando claro, a hegemonia petista chega ao seu fim, sem perspectiva de recuperação. Cabe, então, perguntar: que interesse tem o PMDB em continuar apoiando o PT e, sobretudo, depois dessa história que contamos aqui? Desconheço exemplo em que algum partido tenha naufragado com o outro, por mera solidariedade. O que costuma acontecer é abandonar o barco quando começa a afundar. Essa é a minha leitura da carta de Michel Temer, que, aliás, já parece tomar providências para assumir o governo.

Fonte: Reuters

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