Com Nelson Barbosa, a volta da nova matriz economica

Publicado em 18/12/2015 16:30 e atualizado em 18/12/2015 18:32
por RAQUEL LANDIN, na FOLHA DE S. PAULO

Com Nelson Barbosa confirmado como ministro da Fazenda, sua nomeação significa a volta da "nova" matriz econômica depois de um ano de promessas de mudança de rumo.

Barbosa foi secretário executivo de Mantega e é muito próximo da presidente Dilma. Ele foi um dos mentores —se não o principal— da "nova" matriz: juro baixo, câmbio desvalorizado, e aumento do gasto público.

A "nova" matriz era considerada uma opção desenvolvimentista ao tripé fiscal: câmbio flutuante, superavit primário e meta de inflação. Essas ferramentas mantiveram o Brasil no rumo do desenvolvimento em boa parte dos governos FHC e Lula.

A "nova" matriz econômica parte da ideia equivocada de que o Estado deve ser o indutor do crescimento, através de gastos sociais e de mais investimento público.

Barbosa já sinalizou que continua pensando da mesma forma ao dizer que o Brasil precisa manter o mesmo nível de investimento em 2016 para combater a recessão.

Elevar os investimentos é a saída para sair dessa crise, mas quem tem que investir é o setor privado, que tem os recursos e a capacidade gerencial. E, sem confiança no país, os empresários não investem.

O Tesouro está quebrado e capacidade de gestão do governo é notoriamente ruim. O maior exemplo é a corrupção que assola a Petrobras e outras estatais.

Barbosa tem a seu favor o fato de não ser tão favorável à farra fiscal quanto Guido Mantega, um de seus antecessores. Mas sua indicação é um péssimo sinal para o país.

Como já disse neste espaço, mostra que Dilma continua no controle da política econômica e insiste no erro.

A presidente não aprendeu com os resultados desastrosos de seu primeiro mandato, que nos levaram a recessão de 4% este ano. Também parece ignorar a experiência da Argentina e da Venezuela.

Os chavistas e os Kirchner radicalizaram o modelo desenvolvimentista e colheram inflação descontrolada, recessão, e total falta de credibilidade.

A Venezuela, por enquanto, é um caso perdido, a Argentina começa a sair dessa situação com a troca de poder. O Brasil ainda pode evitar a catástrofe, mas por pouco tempo.

 

Tudo ou nada 

Por IGOR GIELOW, da FOLHA DE S. PAULO EM BRASÍLIA - 

Em luta para manter-se o cargo, Dilma Rousseff encarnou Erich Ludendorff, o famoso comandante militar da Alemanha imperial na etapa final da Primeira Guerra Mundial. Foi para o tudo ou nada.

A petista radicalizou com as apostas na implosão do PMDB e na indicação de Nelson Barbosa para a Fazenda. As perspectivas são sombrias.

Esqueçam vitórias ou derrotas sobre ritos do impeachment no Supremo: para ambos os lados, elas sugerem incorretamente veredictos.

Na política, ao investir no fratricídio entre Michel Temer e Renan Calheiros, a presidente queima talvez o último cartucho. Não sendo demissível, restou combater o vice, alternativa de poder, no seu partido.

Na economia, a saída de Joaquim Levy só confirma a sensação de que o ocaso dos quase 13 anos de PT no poder se desenrola com niilismo.

Seu antecessor, Guido Mantega, passou meses como ex-ministro em atividade. O mesmo ocorreu com o tecnocrata cuja soberba foi inversamente proporcional à eficácia. Provam que a cadeira da Fazenda sob Dilma tem a propriedade de liquefazer a espinha dorsal do ocupante.

Já Barbosa vem pronto para a tarefa, até pela identificação com o receituário populista que levou o país à situação falimentar. Se quiser provar o contrário, terá de suar a camisa; se não, confirmará um aceno ao PT lulista e também a Renan.

Tudo somado, o que restará a Dilma se sobreviver ao impeachment? Assentar sua igreja sobre a rocha porosa de Renan enquanto o mercado regurgita Barbosa? Atiçar a crise no PMDB serve para marcar Temer como inconfiável, assim como abrir um cofre vazio pode criar ilusões, mas sugere um custo de Pirro ao Planalto.

Em 1918, Ludendorff arquitetou a "vitória final" ao atacar a frente ocidental que começava a ter reforço americano, após a rendição russa aos alemães lhe dar mais oxigênio. Exauriu-se, e a Alemanha caiu. Sem opção, Dilma arrisca a mesma trilha.

 

Tentações de Dilma (editorial da FOLHA)

A agonia constrangedora da demissão de Joaquim Levy, típica das decisões do governo Dilma Rousseff (PT), chegou ao fim com a nomeação de Nelson Barbosa para o Ministério da Fazenda.

Quase ocioso dizer que, ao menos a princípio, a escolha representa a reorientação do que restou da política econômica, confirma a volta de um pensamento favorável ao aumento dos gastos públicos, complementa a expulsão de um corpo liberal que o Planalto considerava estranho e atesta a falta de opção do governo.

Seria difícil encontrar um candidato a ministro respeitável, com perfil ortodoxo e ainda disposto a se submeter ao desgaste, quando não sabotagem, sofrido por Levy.

Para Barbosa, será difícil afastar a impressão de que não passa de correia de transmissão das opiniões econômicas de Dilma.

Apesar de ter discordado publicamente da radicalização intervencionista e do extremo de irresponsabilidade do primeiro mandato da presidente que agora o nomeia, o novo ministro compartilha de ideias análogas.

Sua condução à Fazenda agrada ao PT e constitui inegável gesto em direção aos grupos que foram às ruas se manifestar contra o impeachment de Dilma, desde sempre inimigos de Levy. O ministro Barbosa corresponderá integralmente à simpatia com que será recebido por essa ala da esquerda?

Pelo bem do país, espera-se que não –pois isso significaria abandonar o ajuste das contas públicas, condição necessária para a economia nacional sair do buraco em que se encontra. Também significaria desistir de algumas reformas de longo prazo, sem as quais a recessão vai se arrastar dolorosamente.

Diga-se que, quanto a isso, resta esperança. Não faz muito Barbosa defendia mudanças na Previdência –sempre rechaçadas pelo PT, mas cruciais para a saúde dos cofres públicos. Em sua primeira entrevista coletiva no novo cargo, afirmou seguidas vezes a necessidade de perseguir o equilíbrio entre receitas e despesas.

De resto, no fundo nem há dinheiro em caixa para o novo titular da Fazenda se entregar a estripulias desenvolvimentistas.

Dilma, se não quiser amplificar a instabilidade financeira que ameaça seu mandato, precisa ouvir todas as vozes que se manifestam de modo sensato sobre a reconstrução da economia brasileira.

Reconstrução –palavra precisa, pois a destruição é imensa.

O descrédito nos planos econômicos do governo é amplo. O adiamento de definições políticas para depois do Carnaval faz com que intenções de investimento permaneçam nas gavetas empresariais. O Banco Central colocou-se na posição de ou aumentar os juros a partir de janeiro, aprofundando a recessão, ou lavar as mãos quanto à inflação, que ronda os 11% ao ano.

Decerto Joaquim Levy contribuiu no combate a aberrações do primeiro governo Dilma, como controle de preços, expansão temerária do crédito dos bancos públicos, devastação de estatais, gastos ilimitados e malversação da contabilidade.

Não houve reconstrução, todavia, dado o tumulto político e a repulsa da presidente a reformas.

Não há balizas ou âncoras para a política econômica nem esteio político para animar decisões maiores de empresas e consumidores.

O Congresso aprovou o Orçamento para 2016, que registra a promessa do governo de gastar menos do que arrecada, se desconsideradas as despesas com juros.

O documento, entretanto, tem sido ignorado pelo setor privado, que projeta deficit próximo a 1% do PIB –o governo comprometeu-se com superavit de 0,5% do PIB, uma diferença de estimativas que monta a R$ 100 bilhões.

O descrédito tem consequências práticas, ressalte-se. A falta de rumo quanto a gastos e taxas de juros obviamente prejudica o cálculo de impostos futuros, taxas de câmbio, custo do dinheiro. A inexistência de perspectiva mínima sobre a duração da crise suscita cautela que realimenta a recessão.

Ainda que em 2016 a economia permaneça estagnada em relação ao trimestre atual, o PIB será pelo menos 2% menor que em 2015. Outro ano de atividade reduzida e de ociosidade nas empresas provocará mais demissões. O cidadão sentirá um impacto maior. Por ora, o país perde empregos formais ao ritmo de 1,5 milhão por ano.

Há meios e bases para evitar o pior, mesmo no curto prazo. A renda média dos trabalhadores ainda está apenas estagnada em relação ao ano anterior. Não há notícia de uma onda de grandes falências. As contas externas estão em ordem, não há fuga de capitais.

Mesmo depois da devastação, restaram alguns pilares para a reconstrução. Serão derrubados, contudo, se a presidente Dilma Rousseff, agora secundada por Nelson Barbosa no Ministério da Fazenda, insistir no erro que foi fazer do país um laboratório para experiências ideológicas –essa a perigosa tentação nunca dissipada.

 

Dilma reassume o comando da área econômica, por JOSIAS DE SOUZA (UOL)

“Governo novo, ideias novas”, anunciava Dilma Rousseff na campanha de 2014. Decorridos os primeiros 12 meses do segundo mandato, as ideias ainda não apareceram. A presença de Joaquim Levy na Fazenda indicava que o novo seria a adoção da plataforma do adversário. Foi como se Dilma decretasse sua própria morte.

Pois bem. A substituição de Joaquim Levy por Nelson Barbosa, cúmplice depedaladas, revela que a presidente acredita em vida depois da morte. Mais: Dilma avalia que já está vivendo essa vida. Não é só: decidiu viver a vida pós-morte exatamente como a anterior: temerariamente. Errar é humano. Mas escolher planejadamente o mesmo erro, só mesmo Dilma.

Para a poltrona que Nelson Barbosa ocupava no Planejamento, Dilma nomeouValdir Simão, que comandava a Controladoria-Geral da União. Barbosa e Simão têm algo em comum. Ambos seguem Dilma como devotos. Quer dizer: após curta fase de simulação, a pseudogerentona reassumiu formalmente a chefia da Economia.

O ministro Jaques Wagner (Casa Civil) disse nesta sexta-feira que a política econômica é de Dilma, não dos ministros. Verdade. Dilma é responsável pela inflação alta, o desemprego crescente e a recessão. Suas digitais estão impressas também nas barbeiragens que conduziram o Brasil à ruína atual.

Na sua primeira entrevista coletiva como novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa —elogiado por Lula e pelo PT— defendeu o rigor fiscal da boca pra fora, mas numa veemência às vezes muito parecida com a sinceridade.

Surgiu, finalmente, o governo novo de que falava Dilma na campanha de 2014. Propõe ideias novas que deixem tudo exatamente como está, à beira do precipício.

Ruína econômica é obra de Dilma, não de Levy

Fonte: Folha de S. Paulo

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