Brasil está com aperto da política monetária, diz Tombini
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou nesta quinta-feira que o Brasil vive momento de aperto na política monetária ao comentar as medidas que estão sendo tomadas para fazer a inflação convergir para o centro da meta de 4,5 por cento em 2017, ficando no limite de tolerância do regime de metas em 2016.
"Nós estamos com aperto da política monetária. Esse aperto tem contribuído também para, a despeito das revisões de inflação em função da inflação de custos no curto prazo, na de médio e longo prazo e mesmo no ano de 2016, contemplem uma desinflação necessária", afirmou ele em encontro com jornalistas.
Tombini adiantou que, na carta que terá que escrever para justificar o porquê de a inflação ter estourado a meta em 2015, reforçará que o avanço do IPCA foi guiado pelo ajuste intenso de preços relativos na economia.
"Não há política monetária que compense no curto prazo um choque de custos dessa magnitude", disse. Nos 12 meses até agosto, a inflação acumulou alta de 10,48 por cento, a maior desde 2003 e muito acima da meta de 4,5 por cento, com margem de 2 pontos para mais ou para menos.
Em 2016, a banda de tolerância é de 2 pontos percentuais, caindo a 1,5 ponto percentual em 2017. Em ambos os casos, o centro do objetivo é de 4,5 por cento.
O BC deixou claro já que deve voltar a subir a Selic --hoje a 14,25 por cento ao ano-- em breve, independentemente da política fiscal. Para o mercado futuro de juros, o próximo movimento será em janeiro e os DI's já subiram ajustando-se a esse cenário.
Ao falar da elevação dos juros pelo Fed, banco central norte-americano, Tombini avaliou que, num primeiro momento, os mercados parecem ter entendido que o processo de alta será gradual e cauteloso.
"Isso ajuda certamente a absorção dessa importante mudança", afirmou ele, acrescentando que a "primeira recepção dos mercados foi positiva, foi de tranquilidade".
Em linha com mensagem enviada na véspera pelo BC após a Fitch ter rebaixado o selo de bom pagador do país, Tombini reforçou que a realidade do país não muda de um hora para outra com o ocorrido.
"Independentemente de como as agências de rating classificam o país, essa classificação não é binária no sentido que estávamos com grau de investimento agora estamos com subgrau de investimento e as coisas mudam de forma definitiva", afirmou.
Ao cortar o rating brasileiro de "BBB-" para "BB+", a Fitch citou a recessão mais profunda do que o antecipado e a dificuldade que o quadro fiscal e o aumento das incertezas políticas trazem à capacidade do governo de estabilizar a dívida.
O titular do BC disse ainda que é importante que o país faça reformas de maneira a evitar nova deterioração no rating. "Temos que fazer o nosso dever de casa, temos que completar o ajuste macroeconômico para retomar o crescimento o mais rápido possível", disse.
(Por Marcela Ayres)